TEXTO 1Mesmo estranhei, quando fui notando que o tiroteio da...
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TEXTO 1
Mesmo estranhei, quando fui notando que o tiroteio da rua tinha pousado termo; achei que fazia um certo minuto que o fogo tinha sopitado. Cessaram, sim. Mas gritavam, vuvú vavavá de conversa ruim, uns para os outros, de ronda-ronda. Haviam de ter desautorizado toda munição? Olhando, desentendi. [...] E vi, chefiando os dele, o Hermógenes! [...]
Conheci o que estava para ser: que os dele e os meus tinham cruzado grande e doido desafio, conforme para cumprir se arrumavam, uns e outros, nas duas pontas da rua, debaixo de forma; e a frio desembainhavam. O que vendo, vi Diadorim – movimentos dele. Querer mil gritar, e não pude, desmim de mim-mesmo, me tonteava, numas ânsias. E tinha o inferno daquela rua, para encurralar comprido... tiraram minha voz. [...]
Diadorim a vir, – do topo da rua, punhal em mão, avançar – correndo amouco...
Aí, eles se vinham, cometer. Os trezentos passos. [...] Eles todos, na fúria, tão animosamente. Menos eu!Arrepele que não prestava para tramandar uma ordem, gritar um conselho. Nem cochichar comigo pude. Boca se encheu de cuspes. [...] Mas eles vinham, se avinham, num pé-de-vento, no desadoro, bramavam, se investiram... [...] Diadorim – eu queria ver – segurar com os olhos... Escutei o medo claro nos meus dentes... O Hermógenes: desumano [...] Diadorim foi nele... Negaceou, com uma quebra de corpo, gambetou... E eles sanharam e baralharam, terçaram. De supetão... e só...
E eu estava vendo! [...] Assim, ah – mirei e vi – o claro claramente: aí Diadorim cravar e sangrar o Hermógenes...Ah, cravou – no vão – e ressurtiu o alto esguicho de sangue: porfiou para bem matar! [...] Como, de repente, não vi mais Diadorim! No céu, um ano de nuvens... Diadorim! [...] Subi os abismos... De mais longe, agora davam uns tiros, esses tiros vinham de profundas profundezas. Trespassei.
Conforme conto. Como retornei, tarde depois, mal sabendo de mim, e querendo emendar nó no tempo, tateando com meus olhos, que ainda restavam fechados. [...] Eu despertei de todo – como no instante em que o trovão não acabou de rolar até ao fundo, e se sabe que caiu o raio...
Diadorim tinha morrido – mil-vezes-mente – para sempre de mim; e eu sabia, e não queria saber, meus olhos marejavam.
ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas. 19. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. P. 609-612. (Fragmento)
Riobaldo vê, do alto de uma construção, o embate que vai ser travado. O fragmento que traduz os sentimentos dele ao ver o início da luta é:
Mesmo estranhei, quando fui notando que o tiroteio da rua tinha pousado termo; achei que fazia um certo minuto que o fogo tinha sopitado. Cessaram, sim. Mas gritavam, vuvú vavavá de conversa ruim, uns para os outros, de ronda-ronda. Haviam de ter desautorizado toda munição? Olhando, desentendi. [...] E vi, chefiando os dele, o Hermógenes! [...]
Conheci o que estava para ser: que os dele e os meus tinham cruzado grande e doido desafio, conforme para cumprir se arrumavam, uns e outros, nas duas pontas da rua, debaixo de forma; e a frio desembainhavam. O que vendo, vi Diadorim – movimentos dele. Querer mil gritar, e não pude, desmim de mim-mesmo, me tonteava, numas ânsias. E tinha o inferno daquela rua, para encurralar comprido... tiraram minha voz. [...]
Diadorim a vir, – do topo da rua, punhal em mão, avançar – correndo amouco...
Aí, eles se vinham, cometer. Os trezentos passos. [...] Eles todos, na fúria, tão animosamente. Menos eu!Arrepele que não prestava para tramandar uma ordem, gritar um conselho. Nem cochichar comigo pude. Boca se encheu de cuspes. [...] Mas eles vinham, se avinham, num pé-de-vento, no desadoro, bramavam, se investiram... [...] Diadorim – eu queria ver – segurar com os olhos... Escutei o medo claro nos meus dentes... O Hermógenes: desumano [...] Diadorim foi nele... Negaceou, com uma quebra de corpo, gambetou... E eles sanharam e baralharam, terçaram. De supetão... e só...
E eu estava vendo! [...] Assim, ah – mirei e vi – o claro claramente: aí Diadorim cravar e sangrar o Hermógenes...Ah, cravou – no vão – e ressurtiu o alto esguicho de sangue: porfiou para bem matar! [...] Como, de repente, não vi mais Diadorim! No céu, um ano de nuvens... Diadorim! [...] Subi os abismos... De mais longe, agora davam uns tiros, esses tiros vinham de profundas profundezas. Trespassei.
Conforme conto. Como retornei, tarde depois, mal sabendo de mim, e querendo emendar nó no tempo, tateando com meus olhos, que ainda restavam fechados. [...] Eu despertei de todo – como no instante em que o trovão não acabou de rolar até ao fundo, e se sabe que caiu o raio...
Diadorim tinha morrido – mil-vezes-mente – para sempre de mim; e eu sabia, e não queria saber, meus olhos marejavam.
ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas. 19. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. P. 609-612. (Fragmento)
Riobaldo vê, do alto de uma construção, o embate que vai ser travado. O fragmento que traduz os sentimentos dele ao ver o início da luta é: