Nas ideias defendidas no texto, podemos dizer corretamente ...
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Ano: 2024
Banca:
FUNATEC
Órgão:
Prefeitura de Formoso do Araguaia - TO
Provas:
FUNATEC - 2024 - Prefeitura de Formoso do Araguaia - TO - Orientador Educacional
|
FUNATEC - 2024 - Prefeitura de Formoso do Araguaia - TO - Professor de Educação Básica I |
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FUNATEC - 2024 - Prefeitura de Formoso do Araguaia - TO - Professor PEB - II Educação Física |
FUNATEC - 2024 - Prefeitura de Formoso do Araguaia - TO - Professor de Educação Infantil - Professor PEI |
FUNATEC - 2024 - Prefeitura de Formoso do Araguaia - TO - Professor de Educação Infantil - Prof. PEI (Indígenas) |
Q2439848
Português
Texto associado
UMA REFLEXÃO SOBRE A DEMOCRACIA
Ano de 1947, Inglaterra, Câmara dos Comuns. Winston Churchill teria dito uma frase assim: a democracia
é a pior forma de governo, à exceção de todas as demais formas que têm sido experimentadas ao longo da história.
Deixando de lado, por um instante, o caráter frasista de Churchill, "como aferir a democracia?" é a pergunta
que não quer calar. A experiência grega, que nos legou a palavra “democracia”, gerou efeitos no debate. Resta, então,
tentar refleti-la estatisticamente, assunto levado para o campo da quantificação, uma espécie de linha que separa
países “democráticos” de “não democráticos”.
O cientista político Luís Felipe Miguel, da Universidade de Brasília (UnB), tratou logo de nos esclarecer a
respeito do assunto. É que “um índice é um construto”. E, no caso da democracia, trata-se de uma instituição
dificílima de demarcar. Por quê? Porque a produção de um índice, nessa seara, “visa apreender uma realidade
complexa”, o que “exige uma série de decisões”, sendo a primeira delas, a preocupação de transformar a liberdade
de expressão em números. Daí as consideráveis dificuldades: o direito de voto e liberdade de expressão têm o
mesmo impacto na produção de uma democracia? Qual vale o dobro?
Feita essa rápida introdução, a fim de verificar que avaliar a democracia não é como colocar um
termômetro e medir a temperatura, convém perquirir um índice de democracia que circulou amplamente pelos
principais jornais ao longo do corrente ano. É que democracias do mundo, nos últimos dez anos, vivenciaram
considerável queda de qualidade, sendo que a parcela de insatisfeitos atingiu o pico em 2020, divisa extrema da
“recessão democrática”.
O relatório de satisfação global com a democracia 2020, elaborado pelo Instituto Bennett de Políticas
Públicas da Universidade de Cambridge, apontou quais foram os países que mais caíram no índice de democracia.
O levantamento revelou que 92 países atualmente têm regimes autoritários, contra 87 democráticos, sendo que os
cinco mais autoritários foram Eritreia, Coreia do Norte, Arábia Saudita, Iêmen e Síria. Os que apareceram como mais
democráticos foram Dinamarca, Estônia, Suécia, Suíça e Noruega. E o Brasil? Bem, o Brasil foi o quinto país que mais
caiu no ranking na última década. (Fonte: Democracy Report 2020 e Folha S.Paulo)
Mas quais os critérios desse relatório de satisfação com a democracia? De maneira geral, os eixos
levantados foram a liberdade de expressão e de imprensa, que representam uma das faces do tema. Alguém poderá
perguntar: mas a eleição, não é parte essencial da democracia? Sim, mas na interpretação da cientista política alemã
Anna Lührmann, em entrevista para o jornal Folha de S. Paulo, acabar com as eleições instantaneamente é um
movimento que gera resistência, então “os governos primeiro atacam a mídia”, de modo a enfraquecer a resistência.
Essa é a “rota mais comum que os governos têm tomado em direção ao autoritarismo”, diz a pesquisadora.
E, coincidentemente ou não, quatro meses após a conclusão da mencionada pesquisa da Universidade de
Cambridge, um relatório da ONG “Repórteres sem Fronteiras”, apontou que o Brasil teve a segunda queda seguida
em ranking de liberdade de imprensa, ocupando a posição 107 da lista de 180 Estados.
É evidente que há grande esforço para demarcar o assunto, tanto da equipe ligada à Universidade de
Cambridge, quanto da equipe ligada à ONG “Repórteres sem Fronteiras”. As informações dos grupos de trabalho são
muito interessantes e mais ajudam no debate do que o contrário.
Diante de tais angulações, alguns comentários adicionais: é evidente que não é nada simples comentar
sobre as singularidades da democracia em curto espaço. Até porque, o assunto requer a compreensão de alguns
contextos, sendo impossível dar um salto do ideal de liberdade da Grécia antiga, com o “povo” tomando decisões,
passando por parâmetros de realidade sócio-política exibidos no clássico A Democracia na América, de Alexis de
Tocqueville.
Assim, dentro do que é possível sintetizar, vê-se que a democracia é um regime de instituições. E isto nega
um regime de pessoas isoladas. Ora, apostar num discurso de salvação da pátria, com lastro na figura pessoal de
um presidente da República, como muitos imaginam, trata-se de reduzir consideravelmente a riqueza do debate.
Isso já evidencia que outros tantos componentes de um índice podem ser apresentados para reflexão
dentro desse campo temático, que separa países “democráticos” de “não democráticos”, a exemplo de que nas
democracias a maioria tem que se preocupar com as minorias ou que, apesar do voto carregar uma mensagem, a
democracia não se esgota apenas na operação da eleição.
Para além disso é necessário ainda refletir a democracia pelo cumprimento de direitos fundamentais, o
que passa pela defesa das garantias processuais e pelas “liberdades cívicas” (liberdade de expressão, de
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consciência, de reunião, entre outros). É que, como diz Lenio Streck, se há um ataque aos direitos e garantias
fundamentais, “o Direito é a primeira vítima, a segunda é a democracia”.
Mais: a democracia requer responsabilidade, o que pressupõe que um presidente da República, mesmo
que eleito pelo voto do povo, não pode tudo. E daí caberia mais desdobramentos, a exemplo de que a cidadania é o
sustentáculo da democracia, porque se trata de um sistema exercível por todos.
Vê-se que não é tarefa fácil falar sobre democracia. Trata-se de um tema que requer cuidado redobrado,
especialmente quando há argumentos do tipo “as instituições estão funcionando”, porque o maior perigo de uma
democracia é achar que não há perigo. Tal significa dizer que é preciso ligar um alerta com as chamadas “armadilhas
da confiança”, como nos lembra o professor David Runciman, da Universidade de Cambridge.
Há, de fato, um ponto de autenticidade na frase do político britânico Churchill, de que a democracia é o
único regime aceitável ou o melhor dos piores regimes de governo. Ele faz, como resta claro, o elogio da democracia.
O que nos preocupa é saber se as atuais democracias podem ser chamadas de democracias.
(Autor: André Del Negri. Publicado em 13/06/2020. Site Consultor Jurídico. Disponível em
https://www.conjur.com.br/2020-jun-13/diario-classe-reflexao-democracia/).
Nas ideias defendidas no texto, podemos dizer
corretamente que as eleições: