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Q557817 Português
A GLOBALIZAÇÃO DA LÍNGUA

                                                                                                            Por: John Robert Schmitz

      Adaptado de: http://revistalingua.com.br/textos/114/a-globaliza...

                                                                                                                 Acesso em 18 jul 2015.

      Para alguns usuários do português, a língua inglesa funciona como um "algoz", pois os vocábulos ingressantes no idioma refletem a hegemonia dos Estados Unidos e do Reino Unido e uma suposta perda cultural e política. Para outros utentes, a presença do inglês e de outros idiomas representa, por um lado, a inserção do Brasil e dos outros países de língua portuguesa no mundo globalizado, e por outro, o enriquecimento do acervo lexical do português (tsunami, vernissage, impeachment, blitz, jihad, glasnost, shiitake, selfie, nécessaire, shish-kebab, Muay Thai e muitos outros). 
      Faz 16 anos desde a apresentação do projeto de Lei 1676/99 do então deputado Aldo Rebelo (PCdoB/São Paulo) da legislação ao Congresso Nacional. [...] cabe perguntar qual destino teria o referido projeto que reza contra o (ab)uso de palavras estrangeiras no português. 
      Para ser justo, o projeto de Rebelo teve o mérito de contribuir para um debate amplo entre vários segmentos da sociedade. Muito salutar foi a publicação de artigos, dissertações, teses e livros com vozes a favor e contra a presença de palavras estrangeiras no português, [...] 
      Rebelo teve ao menos a vitória de, em 2012, convencer a presidenta Dilma Rousseff de fazer o governo adotar, nos documentos e peças publicitárias para 2016, a grafia dos jogos "paraolímpicos", como define o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, que é a base de referência de nossos dicionários, e não "paralímpicos", como queria o COI (Comitê Olímpico Internacional), para seguir a tendência internacional, inspirada na tradição inglesa dos paralympics.  
      São significativas as implicações da globalização do inglês e do português (e de outros idiomas) neste momento pós-moderno. A geopolítica do inglês se transformou radicalmente desde os anos 50 do século passado. [...]
      A língua inglesa se multiplicou numa gama de variedades com suas próprias normas, pronúncia, vocabulário e sintaxe. O idioma tornou-se multicultural, multiétnico, pois a maior parte dos falantes da África e da Índia é bilíngue ou multilíngue. Daí se vê que se cunhou o termo "world englishes" no plural que destaca o número de variedades pós-coloniais.
      O inglês do século 21 não é propriedade particular de um só país porque o idioma tem os seus "donos" no Caribe, na África e no sul da Ásia. Diante desse cenário, o inglês não deve ser visto como ameaça levando em conta a sua descentralização atual. E mesmo na hipótese do declínio do poderio econômico dos Estados Unidos (não muito provável pelo menos no futuro próximo), o idioma vai continuar a ser um idioma importante dado o número de falantes e sua expansão territorial.
      Existe uma semelhança entre o inglês e o português na atualidade. O português também é falado em quatro continentes e ocupa o 6º lugar no número de falantes, um idioma de amplo acesso.
      Os falantes de português de Angola e de Moçambique são multilíngues; a leitura dos romances do angolano Pepetela e do moçambicano Mia Couto mostra, como no caso de inglês, que há diferenças de pronúncia e de sintaxe. Constam, nos romances dos dois autores africanos, glossários que refletem o crescimento vocabular do português na vertente africana.
      Do ponto de vista geopolítico, a língua portuguesa é fortalecida com a presença atuante da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) que promove o idioma, respeitando as diferenças de ordem lexical, fonética entre as diferentes variedades. É importante estudar, pesquisar e divulgar o idioma e a respectiva produção literária em Cabo Verde. Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.
      A "mundialização" do português e também dos outros idiomas mais falados no mundo (chinês, russo, árabe, hindi, alemão, espanhol, francês, japonês, italiano e inglês) mostra que todos eles não podem ser isolados numa redoma, pois funcionam como "esponjas", destinados entre si a efetuar intercâmbios culturais e trocas linguísticas.
      A existência das variedades do português e do inglês não implica a sua separação em dialetos ininteligíveis como foi o caso do latim que se transformou nas línguas diferentes românicas, pois o mundo atual é outro com a presença da mídia: a imprensa, a televisão e a internet e as grandes editoras particulares e universitárias que funcionam como força centrípeta que mantém uma unidade dentro da diversidade.

John Robert Schmitz possui graduação em Letras - Brooklyn College Of The City University Of New York (1957), mestrado em Letras e Linguística - Columbia University (1961) e doutorado em Letras e Linguística pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1975). Atualmente é professor titular da Universidade Estadual de Campinas. Tem experiência na área de Linguística, com ênfase em Teoria e Análise Linguística, atuando principalmente nos seguintes temas: estrangeirismos, lexicografia, língua portuguesa, voz passiva e lexicologia. 
 Quanto aos recursos de construção de sentido e correção do texto, analise as proposições a seguir:

 I. Há predomínio da linguagem conativa, pois se percebe a intenção do autor de influenciar seu receptor a pensar como ele em relação à tese que defende.

II. Há predomínio de verbos conjugados no presente do modo indicativo, o que confere ao texto a ideia de atualidade.

III. As vírgulas, presentes em: "Constam, nos romances dos dois autores africanos, glossários que refletem o crescimento vocabular do português na vertente africana", justificam-se por isolarem um aposto.

IV. 'Daí se vê que se cunhou o termo "world englishes" no plural [...]'. Nesse fragmento, a preferência pela próclise nas duas vezes em que os pronomes oblíquos aparecem está correta, pois há palavras atrativas em ambas as ocorrências.
Alternativas

Comentários

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I sentido conotativo difere de linguagem conativa, esta quer dizer persuaçao, e no texto nao predomina verbos no imperativo

III  essas virgulas são para marcar ad. adverbial de lugar deslocado
IV Daí é adverbio de tempo e "que" é pronome substantivo, e atraem a próclise

I) linguagem conativa ou apelativa: Seu objetivo é influenciar o receptor ou destinatário, com a intenção de convencê-lo de algo ou dar-lhe ordens. O texto não possui essa intenção.

II) Correto:  o presente do indicativo, como explicado pela professora na vídeo-aula, possui três intenções: 

1) enunciar um fato atual

2) enunciar ações e fatos permanentes (por exemplo, uma verdade científica)

3) para expressar uma ação contínua ou uma característica do sujeito (ex:  Leio todas as noites)

4) para aproximar o leitor dos fatos; presente histórico (ex: Em 1954, morre Getúlio Vargas)

5) para marcar um fato futuro, conferindo certeza à afirmação (ex: Outro dia eu falo com ele)

6) para suavizar o imperativo (ex: Amanhã você resolve isso pra mim?)

III) na frase: Constam, nos romances dos dois autores africanos, glossários que refletem o crescimento vocabular do português na vertente africana" - o termo entre vírgulas: nos romances dos dois autores africanos, não explica o verbo constam. Nem sempre o que está entre vírgulas serve para explicar o termo antecessor.

IV) Quando se usa próclise:

1) Em + verbo no gerúndio: Em se tratando daquele assunto...

2) Com palavras atrativas

    2.1) Advérbios: daí...

    2.2) Pronomes relativos: que

    2.3) Pronomes interrogativos: quem, quantos...

    2.4) Pronomes indefinidos:  tudo, algum, nenhum, todo, nada, algo, alguém, cada...

    2.5) Conjunções subordinativas: quando, se, conforme, como, porque, embora...



III) Ordem direta - sujeito: "Glossários que refletem o crescimento vocabular do português na vertente africana" e predicado: "constam nos romances dos dois autores africanos".

Ordem inversa: predicado: "Constam nos romances dos dois autores africanos" e sujeito: "glossários que refletem o crescimento vocabular do português na vertente africana". 
Não se usa a vírgula para separar sujeito do predicado e entre o verbo e seus complementos (objeto direto e indireto), mesmo que o objeto indireto se anteponha ao objeto direto.

IV) "Daí" é a combinação da preposição de com o advérbio de lugar aí.

GABARITO (D) - CORRETAS II e IV

ERROS E ACERTOS DAS ALTERNATIVAS:

I - Se predomina a linguagem CONATIVA (APELATIVA) no texto

 Linguagem CONATIVA ou APELATIVA tenta persuadir, convencer o leitor, caracterizando-se principalmente pelo uso do modo Imperativo. Lendo o texto podemos perceber que não é o caso, portanto, FALSA.

II - Se o texto tem ideia de ATUALIDADE

É mostrada a data de acesso: 18/07/2015. Já se tem uma ideia de ATUALIDADE por isso. Lendo mais alguns parágrafos, constata-se que a questão é VERDADEIRA!

III - Se as vírgulas estão isolando um APOSTO

É interessante, quando possível, colocar orações desse tipo na ordem direta. O verbo CONSTAR traria um complemento após ele. NESSE CASO, em particular, gera uma duvida de quem é o Sujeito e o Predicado, mas, se olharmos bem, o termo isolado seria o Sujeito, ou o Predicado do verbo CONSTAR. JAMAIS seria um APOSTO, portanto, FALSA.

IV - PRÓCLISES OBRIGATÓRIAS

* "Daí SE vê" - Daí é um ADVÉRBIO que é uma PALAVRA ATRATIVA. CORRETO!

* "Que SE cunhou o termo...". QUE é uma Conjunção Subordinativa que é uma PALAVRA ATRATIVA. CORRETO!

Quanto a terceira assertiva, basta saber o conceito de aposto para acertar a questão.

O objetivo do aposto é esclarecer ou detalhar melhor o termo.

Poderá ocorrer o aposto quando uma palavra ou expressão  explica (explicativo), enumera (enumerativo), detalha, resume (recapitulativo ou resumidor), esclarece, especifica (especificativo), distribui ou compara um termo anterior da oração (distributivo).

Dizemos que o aposto é sintaticamente equivalente ao termo a que se relaciona porque poderia substituí-lo

No caso do item III, se suprimirmos "nos romances dos dois autores africanos", haveria prejuízo para a compreensão do texto, por isso não pode ser considerado um aposto.

http://www.soportugues.com.br/secoes/sint/sint22.php

http://www.estudopratico.com.br/a-classificacao-do-aposto/

 

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