Para o autor, a experiência de viajar
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Como sempre dizemos, estamos vivendo amplamente
realidades virtuais. Conhecemos o mundo através da televisão, que muitas vezes não o retrata tal como é, mas trata
de reconstruí-lo ou até de construí-lo novamente. Cada vez
mais, vemos apenas simulacros da realidade.
Contudo, hoje as pessoas começaram a viajar como nunca antes. Cada vez mais gente, cujos pais foram no máximo a
uma cidade vizinha, declara que visitou lugares com os quais
eu, viajante compulsivo, ou melhor, profissional, ainda me limito a sonhar. Não deveríamos, portanto, ver esta paixão turística como uma forma de fugir da realidade virtual para ver
“a própria coisa”? O turismo representa para muitos um modo
de se reapropriar do mundo. Só que antes a experiência da
viagem era decisiva, voltávamos diferentes do que éramos
ao partir, enquanto agora só se encontra gente que volta sem
ter sido tocada minimamente pela fascinação do Outro Lugar.
Talvez isso aconteça porque hoje os locais de peregrinação real fazem o possível para ficarem parecidos com os locais de peregrinação virtual. Tudo que o local turístico deseja
é ficar igual à sua própria imagem glamorizada pela mídia.
Ocorre também que todos os lugares tendem a se parecer e dessa vez a globalização tem tudo a ver com a história.
Penso em alguns lugares mágicos de Paris, onde pouco a
pouco estão desaparecendo os velhos restaurantes, as livrarias à meia-luz, as lojinhas dos velhos artesãos, substituídos
por lojas de estilistas internacionais, que por sua vez são as
mesmas que podemos encontrar na em Nova York, em Londres, em Milão. As principais ruas das grandes cidades se parecem cada vez mais umas com as outras, além de exibirem
as mesmas lojas.
Quando tudo for igual a tudo, ninguém mais fará turismo para descobrir o mundo verdadeiro, mas para encontrar
sempre, onde quer que esteja, aquilo que já conhece e que
poderia ver perfeitamente ficando em casa diante da TV.
(Umberto Eco. Pape satàn aleppe: Crônicas de uma sociedade líquida.
Editora Record, Rio de Janeiro: 2017. Adaptado)
Para o autor, a experiência de viajar