A expressão destacada na frase – O prato está pronto, e ele...
Entro no restaurante, sento-me, consulto o cardápio. E então reparo que alguns dos presentes, nas mesas em volta, não comem. Fotografam. O prato está pronto, e eles, antes de usarem os talheres, tiram foto da refeição com os celulares – de todos os ângulos, como se tivessem uma Gisele Bündchen na frente.
Por momentos, penso que o problema é médico: pessoas com primeiros sintomas de demência que gostam de registrar o que comeram ao almoço para não repetirem ao jantar.
Depois sou informado de que não: é moda fotografar os pratos e enviá-los para as redes sociais. Se os “amigos” sabem onde estamos e o que fazemos 24 horas por dia, é inevitável saberem também o que comemos. Desconfio até de que existem competições gastronômicas em que os pratos são usados como exibição de classe. Se as férias em família já servem para isso – esqui na Suíça, praia em Bali – por que não o almoço ou o jantar?
Mas o pasmo não termina com os fotógrafos. Continua com os enólogos amadores que tomaram conta do espaço público. No mesmo restaurante, os clientes giram os copos, cheiram, conferem a cor. Depois provam, fecham os olhos e invariavelmente convidam o empregado a servir o vinho. Quando foi que o mundo distribuiu diplomas de enologia pelo pessoal? E por que motivo eu não fui convidado?
(João Pereira Coutinho, In vino veritas. Folha de S.Paulo, 21.07.2015. Adaptado)