No quinto parágrafo, o uso da expressão “ainda assim” sinaliza

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Q2465998 Português
A questão refere-se ao texto a seguir.

A fisiologia do corpo desempregado

Veny Santos

           Ao receber a notícia, colocou as mãos diante dos olhos, não tão próximas ao rosto, e esperou. Aos poucos, cobriu-se o corpo com a dormência da aurora no amanhecer de um dia já perdido. Estavam ambas petrificadas. As mãos, por anos encarregadas de trabalhar, agora eram observadas como se função não mais tivessem. Perderam o emprego. Anatomicamente as mesmas. Fisiologicamente desconhecidas.
         Quando passa muitos dos anos vividos em um trabalho, dedicando-se não apenas à sobrevivência mas também ao ofício que confere sentido às habilidades adquiridas, o corpo pode se confundir com o cargo. O conjunto de partes que monta o ser passa a estabelecer uma relação funcionalista com o cotidiano e seus vínculos empregatícios. Opera-se uma máquina, uma tecnologia, uma série de processos administrativos, um comércio, no intuito de sentir que ainda se está funcionando. Que ainda há alguma função. Que presta para algo —ou alguém— o funcionário.
         O desemprego vem, então, como a descaracterização do personagem trabalhador, aquele necessário de ser encenado todos os dias para que seja possível cultivar uma real vida fora da esfera profissional. Tal ruptura, para além das suas supostas bases técnicas e pragmáticas, como justificativas clichês para se dispensar alguém sem justa causa, quebra também o corpo, não só em partes, mas nas funções que cada uma delas parece ter para existir. Quebra-o por inteiro e o faz desconhecer a si enquanto capaz de manter o sustento no dia seguinte. Um corpo desconhecido. É o fim da sensação de utilidade e a causa de seu medo quase paralisante. Uma justa causa para tamanho temor, compreendemos.
        Começou ele pelas mãos, mas a tudo sentiu tremer. Os olhos tentavam enxergar saídas de emergência para a situação financeira. A boca seca não dizia, os ouvidos zuniam e voz nenhuma vinha para lhe confortar —o que ecoava em sua mente era a pergunta repetitiva, mania anunciada na mesma velocidade que o desligamento: "Como vou contar para a família e pagar as contas?". Peito mais subia que descia, e no descompasso do respiro, nenhum alívio. Crise disso, crise daquilo, ansiedade e angústia já não mais se distinguiam uma da outra. Acharam um ponto de convergência: a paúra. As pernas inquietas a balançar não sabiam para onde ir, por onde começar a procurar outro carreiro para recolocar o corpo nas trilhas de suas funções que garantiam o sustento.
       De que servia a língua agora? E os argumentos? De que servia sua realidade concreta, uma vez que era no abismo da abstração onde se findava o mais sólido dos fatos: sem dinheiro não se dura e duro não se vive. Ainda assim, é com a carne do pescoço rija que ele mira o nada e desenha no horizonte a imaginária linha reta que ilude ao promoter alguma direção e estabilidade. O zunido diminui. Passa a ganhar um ritmo lento, primeiro opressivo, depois desolador, triste. A cor escurecida de sua pele parece ser a única a não ter perdido a função junto com a demissão. Ao encobri-lo, cantou um blues.
       A depender das posições no tabuleiro do serviço, há quem jogue —por prazer ou horror— com os peões para não comprometer reis e rainhas. Pelas bordas, esmagam feito as torres, condenam como os bispos ou simplesmente saltam de oportunidade em oportunidade montados nos alazões a pisotear o que lhes obriga a fazer curva. Os peões, como se sabe, não jogam, de fato. Os peões são jogados.
        Em 2023, o Instituto Cactus lançou o iCASM (Índice Instituto Cactus — Atlas de Saúde Mental) no intuito de levantar dados sobre os diferentes aspectos da vida social que impactam na psique da população brasileira. Destacou-se um alerta sobre a condição das pessoas desempregadas. Estão elas entre as mais abaladas psicologicamente e, com isso, pode-se supor, suscetíveis às psicopatologias que crescem a cada ano no país.
      As mãos, ainda diante dos olhos, seguram-se. No toque, parecem lembrar para que servem. Recobram a função. As mãos servem para carregar o recomeço.

Disponível em: < https://www1.folha.uol.com.br/>. Acesso em: 08 mar. 2024

No quinto parágrafo, o uso da expressão “ainda assim” sinaliza


Alternativas

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Alternativa Correta: A - concessão entre períodos.

A questão examina o uso da expressão "ainda assim" no texto. Para resolvê-la, é necessário compreender o conceito de conjunções concessivas, que são palavras ou expressões que introduzem uma ideia de contraste ou oposição em relação ao que foi mencionado anteriormente.

No contexto do texto, a expressão "ainda assim" sugere que, apesar de todas as dificuldades enfrentadas pelo personagem devido ao desemprego, há uma continuidade da ação ou um desenvolvimento posterior que não era esperado diante das circunstâncias apresentadas. Esse tipo de construção indica uma concessão, o que é reforçado pela escolha da alternativa correta.

Alternativa A - concessão entre períodos: Correta. A expressão "ainda assim" estabelece um contraste entre a situação apresentada no parágrafo anterior e a ação subsequente descrita, indicando uma concessão entre períodos.

Alternativa B - adição entre períodos: Incorreta. A expressão "ainda assim" não adiciona informação, mas sim contrasta ou concede algo em relação ao que foi dito antes.

Alternativa C - concessão entre orações: Incorreta. Embora indique concessão, a expressão "ainda assim" está conectando períodos, não apenas orações dentro do mesmo período.

Alternativa D - adição entre orações: Incorreta. Semelhante à alternativa B, esta opção está errada porque a expressão não adiciona, mas concede e contrasta ideias.

Compreender o papel das conjunções e expressões concessivas é crucial para interpretar adequadamente os textos em contextos de provas e concursos. Elas frequentemente mudam o sentido do que foi dito anteriormente, adicionando uma camada de complexidade à interpretação textual.

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Comentários

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LETRA A

Conjunção concessiva entre períodos

O período vai ser marcado por uma pontuação, as orações, por verbos

Gabarito Letra A

Ainda Que = Conjunção concessiva.

período inicia com letra maiúscula e termina com pontuação.

Questões FUNCERN, nenhum comentário dos professores, somente dos alunos, excelente! Qconcursos.

A alternativa correta é a C: no quinto parágrafo, o uso da expressão "ainda assim" sinaliza concessão entre orações.

Vamos analisar o trecho em questão:

"De que servia a língua agora? E os argumentos? De que servia sua realidade concreta, uma vez que era no abismo da abstração onde se findava o mais sólido dos fatos: sem dinheiro não se dura e duro não se vive. Ainda assim, é com a carne do pescoço rija que ele mira o nada e desenha no horizonte a imaginária linha reta que ilude ao promoter alguma direção e estabilidade."

A expressão "ainda assim" é utilizada para introduzir uma ideia que contrasta ou se opõe ao que foi dito anteriormente. No contexto do parágrafo, o autor questiona a utilidade da língua, dos argumentos e da realidade concreta diante da dura realidade do desemprego e da falta de dinheiro. 

Em seguida, a expressão "ainda assim" é empregada para indicar que, apesar das dificuldades e da aparente falta de sentido, o personagem ainda mantém uma postura de resistência e busca por direção e estabilidade, mesmo que ilusórias.

Portanto, "ainda assim" estabelece uma relação de concessão entre as orações, indicando que, embora a situação seja difícil e pareça sem saída, o personagem ainda se esforça para encontrar alguma perspectiva e manter a cabeça erguida (representada pela "carne do pescoço rija").

A concessão ocorre entre orações dentro do mesmo período, e não entre períodos distintos, o que descarta as alternativas A e B. Além disso, a expressão não sinaliza uma relação de adição, mas sim de contraste, o que elimina a alternativa D.

Oração:

-Frase que contenha um verbo

Período;

-Frase com mais de um verbo (mais de uma oração)

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