A crônica “O vestiário japonês” foi escrita por ocasião da C...
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Ano: 2023
Banca:
Instituto Consulplan
Órgão:
MPE-MG
Prova:
Instituto Consulplan - 2023 - MPE-MG - Analista do Ministério Público - Letras |
Q2080707
Português
Texto associado
Texto para responder à questão.
O vestiário japonês
Um evento do porte da Copa do Mundo tem sempre mais a
mostrar do que a bola rolando. Nem tudo o que importa acontece
apenas dentro do gramado, ante as câmeras e os holofotes.
Pode-se marcar gols em pontos diferentes do estádio. É o caso da
seleção japonesa, que estreou com uma vitória inesperada sobre
a Alemanha, um feito de arregalar os olhos, mas deu show mesmo
foi no vestiário. Até a FIFA se impressionou.
Ao término da partida contra a seleção alemã, os jogadores japoneses voltaram para o vestiário, tiraram seus uniformes,
dobraram, guardaram, devolveram os cabides a seus lugares, e
a julgar pela foto do local, também lamberam o chão, escovaram as paredes, passaram um pano nos armários. Mesmo esgotados pelos 90 minutos em que correram, suaram, driblaram e
marcaram em campo, sobrou energia para deixar a sala onde
guardaram seus pertences igualzinha a uma locação de propaganda de material de limpeza. Cheguei a pensar que eram patrocinados pelo Pinho Sol e não pela Adidas.
Nas arquibancadas, viu-se o mesmo comportamento, como
se fosse uma ação orquestrada. Assim que o juiz apitou o final da
partida, os torcedores japoneses comemoraram do jeito que
sabem: sem exaltação frenética, e sim com as boas maneiras que
trouxeram de casa. Recolheram copos, garrafas, embalagens e
colocaram tudo em sacos de lixo. Estaria havendo uma competição paralela no Catar? Se a disputa for pelo povo mais bem educado, nem precisamos chegar ao domingo, dia 18 de dezembro,
para saber quem levanta a taça.
Isso tudo faz lembrar o famoso discurso que um ex-almirante da Marinha americana, William H. McRaven, fez em 2014:
“Se você quer mudar o mundo, comece arrumando sua cama
pela manhã”.
Infelizmente, em sociedades escravagistas como a nossa, a
tendência é pensar que não precisamos fazer pequenos serviços
quando há gente sendo paga para fazer por nós. O Japão baniu
a escravidão oficialmente em 1590, o que explica, em parte, seu
avanço exemplar. Os Estados Unidos, em 1865. O Brasil, o último da fila, em 1888 — datas para registros em livros de História, pois sabemos que se a mente continua intoxicada pela ideia
de que a sociedade é dividida entre pessoas superiores e inferiores, a exploração não cessará nem hoje, nem nunca.
Portanto, juntemos o cocô que nosso cachorro fez na calçada, já que a rua é de todos e não só de alguns. Coloquemos
no bolso o papel de bala que largamos displicentemente no
chão do estádio, lavemos o prato da pipoca e o copo de cerveja
que deixamos sobre a pia, entre outras oportunidades diárias de
fortalecer nosso caráter. São os gols que qualquer um de nós
pode marcar, em vez de apenas se sentar em frente à tevê
para assistir aos gols dos outros.
(MEDEIROS, Martha. O vestiário japonês. Jornal O Globo, 2022. Disponível
em https://oglobo.globo.com/ela/martha-medeiros/coluna/2022/12/ovestiario-japones.ghtml. Acesso em: 04/12/2022. Adaptado.)
A crônica “O vestiário japonês” foi escrita por ocasião da Copa
do Mundo de Futebol do Catar, ocorrida em 2022. A crônica é
um gênero textual curto, escrito em prosa, geralmente produzido para meios de comunicação e trata de acontecimentos do
dia a dia. Com base na crônica analisada, assinale a alternativa
que apresenta uma característica do gênero relacionada à
seguinte passagem do texto: “Portanto, juntemos o cocô que
nosso cachorro fez na calçada, já que a rua é de todos e não só
de alguns.” (6º§)