Sobre o uso do operador argumentativo MAS, no primeiro pará...
Texto 04
Talvez sendo rigorosa, creio que nas escolhas importantes revelamos o que pensamos merecer. Casamento, trabalho, prazer, estilo de vida, nos cuidados ou nos descuidos - não importa. Mas a família, esse chão sobre o qual caminhamos por toda a vida, seja ele esburacado ou plano, ensolarado ou sombrio, não é uma escolha nossa. Porque lhe atribuo uma importância tão grande, para o bem e para o mal, ela tem sido tema recorrente de meu trabalho, em livros, artigos e palestras.
Pela família, com a qual eventualmente nem gostaríamos de conviver, somos parcialmente moldados, condenados ou salvos. Ela nos lega as memórias ternas, o necessário otimismo, a segurança - ou a baixa autoestima e os processos destrutivos. Esse pequeno território é nosso campo de treinamento como seres humanos. Misto de amor e conflito, ela é que nos dá os verdadeiros amigos e os melhores amores.
Para saber o que seria uma família positiva (não gosto do termo "normal"), deixemos de lado os estereótipos da mãe vitimizada, geradora de culpas e raiva; do pai provedor, destinado a trabalhar pelo sustento da família, sem espaço para ter, ele próprio, carinho e escuta; e dos filhos sempre talentosos e amorosos com seus pais. A boa família, na verdade, é aquela que, até quando não nos compreende, quando desaprova alguma escolha nossa, mesmo ASSIM nos faz sentir aceitos e respeitados. É onde sempre somos queridos e onde sempre temos lugar.
LUFT, Lya. Família: como fazer. Veja, São Paulo, n.44, p.25, 3 nov. 2004. Artigo de Opinião.