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Ano: 2021 Banca: NC-UFPR Órgão: PC-PR Prova: NC-UFPR - 2021 - PC-PR - Delegado de Polícia |
Q1825572 Medicina Legal

Considere o seguinte caso hipotético:


Cadáver de sexo feminino, adulta, caucasiana, foi encontrada em um cafezal, em Santo Antônio da Platina-PR, em posição prona, despida, com livores de hipóstase presentes em dorso, com rigidez cadavérica acometendo mandíbula, tronco e membros. Não foi observada mancha verde abdominal. No entorno do corpo, não havia manchas de sangue. Em exame mais detalhado, no necrotério do instituto de medicina legal, após lavagem do ferimento, foram observados os seguintes ferimentos na região cervical posterior direita (figura 1) e na região cervical posterior esquerda (figura 2).


Imagem associada para resolução da questão


Com base no caso descrito, o local onde o ato violento ocorreu, a hora aproximada da morte e a direção do disparo são, respectivamente:

Alternativas

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Vamos examinar os detalhes do caso para entender melhor as circunstâncias da morte.

A vítima, uma mulher adulta caucasiana, foi encontrada em um cafezal, deitada de bruços (posição prona), sem vestimentas. Notaram-se marcas de livor mortis (livores de hipóstase) no dorso, indicando que o sangue se acumulou na parte de baixo do corpo após a morte, pela ação da gravidade. A ausência de manchas de sangue ao redor do corpo sugere que a vítima foi movida após a morte para um local diferente de onde o ato violento ocorreu.

Logo, o local do crime não foi onde o corpo foi encontrado. Isso descarta as opções que indicam o contrário.

Além disso, não havia mancha verde abdominal, que é um sinal típico do início da decomposição, geralmente visível após 24 horas da morte. As manchas de hipóstase já estavam fixas, o que ocorre após 12 horas da morte, mas a ausência da mancha verde indica que a morte ocorreu há menos de 24 horas.

Estas observações indicam que o tempo da morte foi mais de 12 horas e menos de 24 horas. Com isso, podemos eliminar as alternativas que não se encaixam nesse intervalo de tempo.

Quanto à direção do disparo, a análise da região cervical posterior direita mostra características de um ferimento de entrada, como a zona de tatuagem que não foi removida após a lavagem. Isso indica que a direção do disparo foi da direita para a esquerda.

Com base na análise dos fatos, a resposta correta é a alternativa A: o local onde o ato violento ocorreu foi diferente de onde o corpo foi encontrado, a hora aproximada da morte é mais de 12 e menos de 24 horas, e a direção do disparo foi da direita para a esquerda.

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Comentários

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Gab. Letra A

  • Figura 1 >> lesão de entrada de projétil de arma de fogo, com ferimento arredondado, regular, com bordas invertidas e halo de enxugo. Nota-se zona de tatuagem, composta por grãos de pólvora incombusta impregnados na derme, que denota tratar-se de lesão de entrada de disparo à curta distância.
  • Figura 2 >> temos a lesão de saída, mais irregular e alongada, com fragmento evertido de pele. Sendo a figura 1 na região cervical direita e a 2 na face esquerda do pescoço, temos um trajeto da direita para a esquerda.

O corpo foi encontrado pronado (em decúbito ventral, com a "barriga para baixo"), mas as manchas de hipostase estavam no dorso! Possivelmente, já fixas (depois de 12 horas de morte) e demonstrando que houve alteração da cena! Por pelo menos 12 horas, esse corpo esteve em decúbito dorsal...

A rigidez cadavérica já acometia membros; há, portanto, rigidez generalizada, com mais de 8 horas de morte. Mas ainda não havia sinais de putrefação, como a mancha verde abdominal. Portanto, temos menos de 20-24 horas de morte.

Fonte: correção da professora Luciana Gazzola (instagram)

Bora desmembrar o rolê.

  • “Cadáver de sexo feminino, adulta, caucasiana, foi encontrada em um cafezal, em Santo Antônio da Platina-PR, em posição prona, despida, com livores de hipóstase presentes em dorso

A mancha de hipóstase decorre da parada do sangue em área de declive (pela ação da gravidade). Nas primeiras 12h as manchas podem mudar de lugar pela ação da gravidade, após isso, não mais. Devido a esse fator, é possível saber se alguém mudou o corpo do cadáver de posição a partir de 12h da morte.

  • O cadáver foi achado na posição prona (de bruços) com livores de hipóstase no dorso. “No entorno do corpo, não havia manchas de sangue.”. Isso significa que o corpo foi movido após 12h da morte para local diverso do local no qual ocorreu o ato violento.

Com essa informação eliminamos a alternativa B e E.

  • Não foi observada mancha verde abdominal.” A mancha verde abdominal faz parte da primeira fase da putrefação (fase cromática) e, em geral, se dá mais ou menos com 24h.

Manchas de hipóstase fixas = mais de 12h da morte. Ausência de mancha verde abdominal = menos de 24h. Com essa informação eliminamos alternativa D.

A figura 1 ilustra a região cervical posterior direita e é nítido (com a imagem colorida fica mais fácil né NC-UFPR?) que é ferimento de entrada devido às características da lesão + a presença de zona de tatuagem (não saiu com a lavagem). Direção do disparo da direita para a esquerda.

Resposta: alternativa A.

Livor mortis (hipóstase, livores cadavéricos ou manchas de hipóstase): referem-se à mudança de coloração que surge na pele dos cadáveres decorrente do depósito do sangue estagnado no plano inferior da posição do corpo. É um fenômeno consecutivo cadavérico de processo progressivo. Aparecem com mais ou menos 2h a 3h de morte. Generalizam-se com mais ou menos 6h de morte. Fixam-se com mais ou menos 12h de morte. Permanecem até a putrefação. Isto tem uma importância criminalística muito grande. Se alguém mexer no cadáver após as 12h, é possível verificar se a cena do crime foi alterada/ manipulada. 20 a 24h é o período de início da putrefação.

Mancha verde abdominal: primeiro sinal macroscopicamente visível de que o corpo entrou em putrefação. Aparece à direita do abdome, local de proliferação bacteriana.

(material prof.ª Gazzola + anotações)

GAB. A

INFORMAÇÕES IMPORTANTES PARA RESOLVER A QUESTÃO.

Com livores de hipóstase presentes em dorso.

(LEMBRAR QUE FIXA EM 12 H)

com rigidez cadavérica acometendo mandíbula, tronco e membros.

RIGIDEZ COMPLETA EM MAIS OU MENOS 8H

Não foi observada mancha verde abdominal.

INICIA EM MAIS OU MENOS 24 H.

( LOGO, MENOS DE 24 H)

FIGURA 1, ENTRADA. OBSERVE AS ORLAS, E A ZONA DE TATUAGEM.

FIGURA 2, SAÍDA.

LOGO, O TRAJETO DO PROJÉTIL NO CORPO DA VÍTIMA FOI DA DIREITA PARA A ESQUERDA.

A QUESTÃO CORRIGIDA NO MEU CANAL DO YT:

https://www.youtube.com/watch?v=u3wg9U4kKIM&t=1s

O mais importante aqui, é prestar atenção nas informações que a banca nos traz. A questão envolve o conhecimento da tanatologia forense e da traumatologia aplicada ao estudo dos projéteis de arma de fogo.

O examinador mencionou a presença da mancha hipostática no dorso da vítima e rigidez cadavérica por todo o corpo, além da ausência de sangue no entorno do cadáver e também das duas imagens representando os ferimentos de entrada e saída do disparo de arma de fogo.

Com relação à rigidez cadavérica, ela irá iniciar 6 horas após o óbito e após esse período, demorará em torno de 12 horas para se instalar totalmente. Após essas 12 horas a rigidez começará a se desfazer, o

que pode demorar até 24 horas após o óbito.

Além disso o examinador menciona a ausência da mancha verde abdominal, que é o início da fase de coloração. Essa mancha verde se localiza normalmente na fossa ilíaca direita.

Esse sinal costuma surgir entre 20 e 24 horas depois da morte.

Lembrando que essas estimativas variam de acordo com o clima e com o local em que o cadáver encontra-se.

Com base na rigidez total, na presença da mancha hipostática, chamada de livor mortis e considerando a ausência de mancha verde abdominal, podemos definir o óbito entre 12 e 24 horas do achado desse cadáver.

Já analisando as fotos, vemos que na imagem da esquerda, que representa a fase direita da cervical da vítima, há a presença de lesões associadas ao disparo, produzidas pela pólvora incombusta que saiu da arma do atirador no momento do disparo e queimou a pele. Esse achado necroscópico recebe o nome de ZONA DE TATUAGEM e é característico dos ferimentos de entrada de arma de fogo. Além disso o ferimento elíptico e bem regular é outra característica dos ferimentos de entrada de projétil.

Já na imagem que vemos à direita, representando a face esquerda da cervical da vítima vemos um ferimento irregular e com presença de tecidos “saindo” do orifício, característico de saída de disparo de arma de fogo.

O trajeto do disparo foi, portanto, da direita para a esquerda. E para finalizar, devemos considerar o aspecto da ausência de sangue no entorno do cadáver como uma provável desova.

Visto que se a vítima tivesse sido executada nesse local, provavelmente nos depararíamos com presença de sangue no local do achado de cadáver.

Nosso gabarito, portanto, é a letra A.

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