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Q2249880 Português
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     Na época do vestibular, minha sobrinha resolveu optar pelo curso de Enfermagem. – Por que não Medicina? – foi a infalível pergunta de muitos parentes e amigos. Moça paciente, explicou que não queria ser médica, queria ser enfermeira. Formou-se com brilho, fez proveitoso e bem sucedido estágio e hoje trabalha em um grande hospital de São Paulo. Mas ainda tem, vez ou outra, de explicar por que não preferiu ser médica.
     Muita gente não leva a sério essa tal de vocação. Ela levou. Poderia ter entrado, sim, no curso de Medicina: sua pontuação no vestibular deixou isso claro. Mas alguma coisa dentro dela deve ter-lhe dito: serei uma ótima enfermeira. E assim foi. Confesso que a admiro por ter seguido essa voz interior que nos chama para este caminho, e não para aquele. Poucas pessoas têm tal discernimento quanto ao que efetivamente querem ser. Em geral são desviadas dessa voz porque acabam cumprindo expectativas já prontas, mais convencionais. Calculam as vantagens, pecuniárias ou relativas ao status, fazem contas, avaliam “objetivamente” as opções e acabam decidindo pelo que parece ser o mais óbvio. Mas se esquecem, justamente, da mais óbvia pergunta: Serei feliz? É exatamente isso o que eu quero? Da falta desse fecundo momento de interrogação saem os profissionais burocráticos, sonolentos em seu ofício, vagamente conformados, que passam a levar a vida, em vez de vivê-la.
      Em meu último encontro com a sobrinha pude ver que ela está feliz. Faz exatamente o que gosta, leva a sério uma das mais exigentes profissões do mundo e se realiza a cada dia com ela. E vejam que atua numa especialidade das mais penosas: oncologia infantil. Desde seu estágio, envolveu-se com seus pequenos pacientes, por quem tem grande carinho. Tenho certeza de que eles encontram nela mais do que o apoio da profissional competente; vêem-na, certamente, como aquela irmã mais velha e indispensável nas horas difíceis.
     Quando nossa vocação real é atendida, o trabalho não enfada, não pesa como uma maldição. Cansativo que seja, sentimos que estamos no ofício que é nosso, que nos ocupamos com algo que nos diz respeito e que, em larga medida, nos define como sujeitos. Não é pouco; é quase tudo. É o que parece dizer o olhar franco, aberto e feliz dessa jovem enfermeira. Ela não trabalha “para” atingir algum objetivo, não trabalha “para” viver, “para” ganhar a vida. Trabalhando, ela já “é”. E isso não é invejável?

(Valentino Rodrigues)
Para preencher corretamente a lacuna, o verbo indicado entre parênteses deverá flexionar-se numa forma do plural na frase
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Comentários

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Gabarito: B

A) Em geral não se desconfia das razões que levam à escolha de uma profissão, na época do vestibular.

  • O verbo "desconfiar" é transitivo indireto e possui um pronome oblíquo átono acompanhando-o — estrutura clássica de um sujeito indeterminado. Ora, para se estabelecer um sujeito indeterminado com essa "se" indeterminador, o verbo precisa ser escrito no singular.

B) É preciso que não se ouçam, na escolha de uma profissão, quaisquer outras vozes que não sejam as da real vocação.

  • O verbo "ouvir" possui, dessa vez, um pronome apassivador junto dele. Sendo assim, o verbo precisa concordar com o seu sujeito paciente "quaisquer outros vozes que não sejam as da real vocação". Verbo precisa há de ser pluralizado.

C) Quando o que indicar nossos caminhos são os apelos da voz interior, a escolha profissional não é aleatória.

  • "Indicar" tem como sujeito o pronome relativo "que" anteposto a ele. Quando a forma anafórica "que" se faz sujeito de uma forma verbal, o verbo concordará com o termo ao qual o pronome faz referência. Esse pronome retoma outro pronome — "o" é um pronome demonstrativo, equivalente a "aquele".

D) Pode haver muitas razões para que se escolha uma profissão, mas nenhuma delas é mais forte que a da voz interior.

  • O verbo "poder" se faz auxiliar de uma locução verbal, contudo, o verbo principal dessa locução é impessoal, a forma "haver". "Poder" também será impessoalizado, isto é, terceira pessoa do singular,

E) Muitas pessoas, achando que não lhes basta ouvir os apelos da vocação, valorizam as vantagens pecuniárias de uma profissão.

  • Aqui, "basta" tem como sujeito uma oração, um sujeito oracional. Todo o segmento "ouvir os apelos da vocação" é sujeito de tal forma verbal. Com sujeitos oracionais, a concordância é singularizada.

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