O trecho Mas o poder que imanta os enredos vem do colonizado...
Assim, tanto o indianismo quanto o regionalismo de Alencar se construíram em um esquema sobredeterminado pela exaltação da nobreza do colonizador que só a devoção do colonizado pode igualar. A ambivalência dessa posição ideológica é resolvida poeticamente em Iracema, lenda que conta a fundação do Ceará consumada graças à “doce escravidão” (expressão de Machado de Assis) à qual se submeteu a “virgem dos lábios de mel”. Iracema fugirá de sua tribo e se entregará ao conquistador europeu, Martim Soares Moreno. Dessa união fatal para a mulher, que morrerá ao dar à luz, nasceria Moacir, “filho do sofrimento”, o primeiro cearense. A coragem de Peri e a beleza de Iracema são a fonte de poesia desses romances ao mesmo tempo históricos e lendários. Mas o poder que imanta os enredos vem do colonizador: homem, branco, português.
(BOSI, Alfredo. “A cultura no Brasil Império – literatura ideias”. In: História do Brasil nação − A construção nacional 1830-1889 − v. 2, Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 245)