“Em 1987, eu trabalhava no Museu do Índio (FUNAI/RJ) quando ...
— 'Aõhe!' saudei em Karajá. 'Dearã Marcus Maia wanire', me apresentei. Imediatamente cessou a algazarra e fez-se um silêncio pesado entre os indiozinhos. Entreolhavam-se desconfiados e sérios. 'Kaiboho aõbo iny rybé tieryõtenyte?' Vocês não sabem a língua Karajá, perguntei. Ameninada, então, se afastou em retirada estratégica. Fui, em seguida, à casa de uma líder da comunidade, a Maria Floripes Txukodese Karajá, a Txukó, me apresentar. Lá, um dos meninos me respondeu: — 'A gente não fala essa gíria não, moço!” Outro, maiorzinho, concordou: — 'Na cidade, a gente diz que nem sabe de índio, que nem fala o indioma, senão o povo mexe com a gente'. O preconceito de que os indígenas brasileiros são alvo por parte de muitos brasileiros não indígenas é, sem dúvida, um dos fatores responsáveis pelo desprestígio, enfraquecimento e desaparecimento de muitas línguas indígenas no Brasil. Durante minha estada nas aldeias Xambioá, discuti com anciãos, lideranças, professores e alunos, a situação de perda da língua em relação a aldeias em que a língua e a cultura Karajá encontram-se ainda fortes. É interessante notar que, durante a minha temporada na aldeia, quando continuei sempre a exercitar o meu conhecimento da língua indígena, era frequentemente procurado por grupos de crianças e jovens, que vinham me mostrar palavras e frases que conheciam e testar o meu entendimento delas. Os mesmos meninos que haviam inicialmente demonstrado sentir vergonha de falar Karajá, dizendo-me nem conhecer “aquela gíria”, assediavam-me agora, revelando um conhecimento latente da língua indígena muito maior do que eles próprios pareciam supor! Divertiam-se em demonstrar àquele tori (o não índio, na língua Karajá) que valorizava e tentava usar a língua Karajá que, na verdade, conheciam, sim, a língua indígena. Vários pais também vieram me relatar sua grande surpresa por verem as crianças curiosas, perguntando e se expressando na língua Karajá, não só pronunciando palavras e frases inteiras, como até ensaiando diálogo se narrativas tradicionais.”
(...)
(Trecho retirado da introdução do livro - Manual de Linguística: subsídios para a formação de professores indígenas na área de linguagem. Maia 2006)
“Por isso, arrisquei-ME a tentar conversar em Karajá com as crianças que vieram em um bando alegre me receber, quando o jipe da FUNAI, que me trazia, parou no posto indigena, próximo à aldeia.”
A palavra em destaque trata-se de um:
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Vamos analisar a questão e entender por que a alternativa C é correta.
Tema central da questão: A questão trata de pronomes, especificamente para identificar qual tipo de pronome é destacado na frase: "arrisquei-ME a tentar conversar em Karajá...". Os pronomes são palavras que substituem ou acompanham substantivos, desempenhando funções variadas na frase. Compreender os tipos de pronomes é essencial para dominar aspectos importantes da morfologia.
Resumo teórico: Os pronomes podem ser classificados em diferentes categorias, como:
- Pronomes pessoais do caso reto: substituem o sujeito da oração (eu, tu, ele, etc.).
- Pronomes possessivos: indicam posse (meu, teu, seu, etc.).
- Pronomes oblíquos: podem ser átonos ou tônicos e funcionam como complementos verbais.
- Pronomes de tratamento: usados para se referir a alguém com formalidade (você, senhor, etc.).
Justificativa para a alternativa correta - C:
A palavra em destaque "ME" é um pronome oblíquo átono. Os pronomes oblíquos átonos são aqueles que não têm acento tônico próprio e acompanham diretamente os verbos, geralmente funcionando como complementos verbais. Na frase "arrisquei-ME", o pronome "ME" desempenha o papel de objeto direto do verbo "arriscar", indicando que a ação foi feita pelo sujeito a ele mesmo.
Análise das alternativas incorretas:
- A - pronome reto: Não é a resposta correta porque o pronome reto é utilizado como sujeito, e "ME" não desempenha essa função na frase.
- B - pronome possessivo: Não é adequado, já que pronomes possessivos indicam posse, e "ME" não está indicando posse, mas sim participação na ação.
- D - pronome oblíquo tônico: Esses pronomes têm acento próprio e são usados após preposições (mim, ti, si, etc.), o que não é o caso do "ME" aqui.
- E - pronome de tratamento: Não se aplica, pois esses pronomes são usados para se referir a alguém com formalidade, o que não ocorre com o "ME".
Entender a função dos pronomes em uma oração ajuda a evitar erros comuns e compreender melhor a construção das frases. Uma dica é sempre verificar qual papel o pronome desempenha na estrutura da frase para identificá-lo corretamente.
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( C )
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