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Q2466753 Português
A luta vã contra as palavras


        “O Ministério Público Federal de Uberlândia ajuizou em 2012 uma ação para que o Dicionário Houaiss fosse recolhido. Afinal, ali se registra que cigano também quer dizer “aquele que tem vida incerta e errante; boêmio; aquele que trapaceia; velhaco, burlador; agiota, sovina”. O dicionário seria, portanto, preconceituoso. Além de expulso das prateleiras, teria que pagar indenização de R$ 200 mil por danos morais coletivos.

     Dicionários são mesmo um problema. Acobertam essas criaturas de alta periculosidade, as palavras e seus significados adquiridos ao longo do tempo. Arrumadinhas em ordem alfabética, lembram inofensivas coleções de borboletas espetadas no feltro. Ao lado, descreve-se o corpo(classe gramatical, gênero, pronúncia) e especula-se sobre sua alma (sinônimos, definições, etimologia).

        Estão aparentemente paralisadas, “em estado de dicionário”. Mas não vamos nos iludir: permanecem guardiãs de seus conteúdos, senhoras de seus voos pretéritos. Atentas ao que foram desde a fase de ovo (ainda em sânscrito, grego, árabe ou latim), de larva e crisálida, até ganhar asase se deixar levar pelo vento, pelas línguas. Vivinhas da silva em sua potência (as palavras), em sua beleza (palavras e borboletas). Não importa que tenham sido metamorfoses ambulantes (ou volantes) e o quanto de si tenham deixado para trás. Ao “penetrar surdamente no reino das palavras” devemos-lhes reverência. ”


(AFFONSO, Eduardo. A luta vã contra as palavras. Jornal O Globo. Opinião. Disponível em<<https://oglobo.globo.com/opiniao/a-luta-va-contra-as-palavras-23653311>>. Acesso em jun 2019)
Analisando o texto e usufruindo do seu conhecimento em literatura e produção textual, assinale a alternativa correta correspondente ao trecho.
Alternativas

Comentários

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Alternativa A:

Erro: O autor não cita Vinícius de Moraes no texto. A frase “penetrar surdamente no reino das palavras” é, na verdade, uma citação do poema "Procura da poesia", de Carlos Drummond de Andrade, não de Vinícius de Moraes. Portanto, a referência está incorreta.

Alternativa B:

Erro: A expressão “vivinhas da silva” não é importuna ao tipo de texto escolhido pelo autor. Na crônica, é comum o uso de uma linguagem mais coloquial e descontraída, o que permite o uso de expressões populares, neologismos e metáforas. A crônica valoriza a expressão individual do autor e muitas vezes se afasta da norma culta para criar um texto mais próximo do leitor.

Alternativa C:

Erro: Ao afirmar que o dicionário seria expulso e pagaria indenização, o autor está relatando um fato real de uma ação judicial, não está utilizando prosopopeia (ou personificação). Prosopopeia é uma figura de linguagem que atribui características humanas a seres inanimados ou abstratos. Nesse trecho, o autor está descrevendo eventos e consequências de uma ação jurídica, não atribuindo características humanas ao dicionário.

Alternativa D:

Erro: Ao comparar a evolução e o comportamento do dicionário com o de uma borboleta, o autor faz uso de uma metáfora, não de catacrese. A catacrese é o uso de uma palavra fora do seu contexto habitual para suprir a falta de um termo específico, como "braço da cadeira". A metáfora, por outro lado, é uma comparação implícita entre dois elementos diferentes, sugerindo uma semelhança entre eles, como feito no texto ao comparar palavras com borboletas.

Resumo sobre figuras de linguagem:

As figuras de linguagem são recursos estilísticos usados na literatura e na comunicação para criar efeitos expressivos e estéticos. Aqui estão algumas das mais comuns:

  1. Metáfora: Consiste em uma comparação implícita entre dois elementos distintos, sem o uso de conectivos comparativos. Exemplo: "O amor é uma flor."
  2. Simile (ou Comparação): Estabelece uma comparação explícita entre dois elementos diferentes, utilizando conectivos como "como", "tal", "assim como". Exemplo: "O amor é como uma flor."
  3. Metonímia: Substituição de um termo por outro com o qual mantém uma relação de proximidade. Exemplo: "Ler Shakespeare" (em vez de "ler as obras de Shakespeare").
  4. Sinédoque: Uma forma de metonímia em que se usa uma parte para representar o todo ou vice-versa. Exemplo: "Viver do seu trabalho" (onde "trabalho" representa a renda obtida pelo trabalho).
  5. Personificação (ou Prosopopeia): Atribuição de características humanas a seres inanimados ou abstratos. Exemplo: "O vento sussurra."
  6. Catacrese: Uso de uma palavra fora do seu contexto habitual para suprir a falta de um termo específico. Exemplo: "Braço da cadeira."
  7. Hipérbole: Exagero intencional para criar um efeito enfático. Exemplo: "Estou morrendo de sede."
  8. Eufemismo: Substituição de uma expressão por outra mais suave para evitar a dureza ou a vulgaridade. Exemplo: "Ele passou desta para melhor" (em vez de "ele morreu").

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