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Q2004549 Português
Que benefício a educação superior traz à sociedade?
Thomaz Wood Jr.

      A expansão da educação superior tem sido objeto de políticas públicas em todo o mundo. O senso
comum, sustentado por pesquisas e evidências, associa educação a desenvolvimento. Gestores públicos
vangloriam-se quando o porcentual da população jovem que atinge a universidade cresce. Quanto mais,
melhor. O movimento envolve também a pós-graduação, com a multiplicação do número de mestrados e
doutorados. Supõe-se que mais mestres e doutores ajudem a gerar mais conhecimento, patentes e riquezas.
      A expansão da educação superior faz muita gente feliz: estudantes que almejam um futuro melhor,
famílias que querem o bem para suas crias, professores felizes com a demanda crescente, gestores públicos
orgulhosos de sua obra e até investidores, atraídos por gordas margens de lucro, no caso de algumas
universidades privadas. Entretanto, por trás da fachada, a realidade tem mais espinhos do que flores.
      Pressionados a expandir o atendimento, os sistemas públicos experimentam sinais de deterioração e
perda de qualidade. Alguns deles se converteram em arenas políticas de governança impraticável, nas quais
grupos digladiam na disputa por pequenos espaços e vantagens. Enquanto isso, muitos sistemas privados se
transformam em usinas de aulas, a gerar diplomas como quem produz commodities.
      Em um ensaio de promoção de seu livro The Case Against Education: Why the Education System Is
a Waste of Time and Money (Princeton University Press), Bryan Caplan, professor de Economia da
Universidade George Mason, trata do tema. Em uma era que celebra o conhecimento, sua tese soa herética:
para o economista, a verdadeira função da educação é simplesmente prover um certificado aos formandos.
Em outras palavras, com honrosas exceções, pouco se aprende na universidade. O que importa é o diploma
que dará acesso ao futuro emprego.
      Para Caplan, o sistema de educação superior desperdiça tempo e dinheiro. O retorno para os
indivíduos é substantivo: com o título vêm melhores salários. No entanto, o retorno para a sociedade é pífio.
Segundo o autor, quanto mais se investe na educação superior, mais se estimula a corrida por títulos. E basta
cruzar a linha de chegada: terminar a faculdade.
      Nas universidades, estudantes passam anos debruçados sobre assuntos irrelevantes para sua vida
profissional e para o mercado de trabalho. Qual o motivo para a falta de conexão entre o que é ensinado e o
que será necessário? Simples: professores ensinam o que sabem, não o que é preciso ensinar. E muitos têm
pouquíssima ideia do que se passa no mundo real.
      Além disso, Caplan observa que os estudantes retêm muito pouco do que lhes é ensinado. De fato,
seres humanos têm dificuldade para conservar conhecimentos que raramente usam. Alguns cursos
proporcionam modos e meios para que os pupilos assimilem e exercitem novos conhecimentos. Contudo, a
maioria falha em prover tais condições.
      Curiosamente, o fato de os estudantes pouco aprenderem nos quatro ou cinco anos de universidade
não é relevante. O que seus empregadores procuram é apenas uma credencial que ateste que o candidato
seja inteligente, diligente e capaz de tolerar a rotina tediosa do trabalho. Para isso basta o título.
      O autor não poupa críticas a estudantes, colegas e gestores. Os primeiros, para ele, são incultos e
vulgares, incapazes de transpor conteúdos escolares para a vida real. Passam a maior parte do tempo na
universidade como zumbis na frente de seus smartphones e em outras atividades destinadas a turvar a mente
e o espírito.
      Além disso, o crescimento da educação superior está levando para a universidade indivíduos sem
características para serem universitários. Está atraindo para a pós-graduação profissionais sem o perfil para
reflexão profunda e crítica. E está formando mestres e doutores que não têm talento ou inclinação para ensinar
e pesquisar.
      Inflar as vagas e criar mecanismos para facilitar o acesso à universidade pode parecer causa nobre.
Alimenta os sonhos das classes ascendentes e produz casos de sucesso, sempre ao gosto da mídia popular.
Entretanto, pode estar drenando recursos do ensino fundamental e vocacional, e da pesquisa de ponta.
      A educação é, certamente, um grande meio de transformação social. Isso não significa despejar
insensatamente recursos em simulacros de ensino e sistemas de emissão de títulos universitários. 
                                                  Disponível em: <www.cartacapital.com.br>. Acesso em: ago. 2018. [Adaptado]
Em conformidade com o gênero discursivo, a linguagem utilizada no texto tende,
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No trecho: "(...) a realidade tem mais espinhos do que flores" temos um termo conotativo. Então, já não pode ser exclusivamente denotativo.

tem também o trecho "gordas margens de lucro"

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