Considerando as regras gramaticais vigentes, o que ocorre no...
O texto a seguir contextualiza o tema a ser tratado na questão.
A xacina do testo
Apezar da xuva, muita jente esteve prezente ao ezersisio de jinastica qe teve lugar no colejio. Omens, mulheres e criansas no fim cantaram o Ino Nasional. Ouve pesoas qe ate xoraram de emosão cuando a festa terminou. Oje qem qiser pode asistir a nova aprezentasão.
A impressão é de escombros do que foi outrora a língua portuguesa em sua forma escrita. Como se tivesse sido atingida por uma bomba e alguns destroços irreconhecíveis houvessem sido resgatados da hecatombe. A comparação não é absurda. Tem o efeito de uma bomba a radical reforma ortográfica defendida pelo site Simplificando a Ortografia (simplificandoaortografia.com), criado pelo professor de português Ernani Pimentel. Sua proposta é acabar com letras que não se pronunciam, como o “H” no início de certas palavras e o “U” que se segue ao “Q” em “quintal” e “querido”, assim como a duplicidade de representação do mesmo som em “S” e “Z”, “SS” e “Ç” ou “G” e “J”. [...]
Duas audiências públicas serão realizadas pelo Grupo de Trabalho da Comissão de Educação na primeira quinzena de outubro. Espera‐se que, nelas, falem mais alto as palavras da professora Marília Ferreira, presidente da Associação Brasileira de Linguística, em carta ao senador Cristovam Buarque: “A ortografia não existe para representar a fala, mas é uma representação abstrata e convencional da língua. Para poder ser de fato funcional, a ortografia deve necessariamente afastar‐se da diversidade da fala. Só assim se poderá garantir um sistema ortográfico estável e perene em que haja uma única representação gráfica para cada palavra. É essa representação única que torna possível que a palavra seja reconhecida em qualquer texto, independentemente de suas inúmeras pronúncias no espaço e no tempo”.
A alternativa é a xacina do testo em língua portugueza. A anarqia. A ecatombe.
(Roberto Pompeu de Toledo. Veja, 17 de setembro de 2014.)