Analise as assertivas abaixo.De acordo com o texto, é possív...
CISÃO
Há alguns anos havia uma clara separação entre cultura humanística e cultura científica. As duas não se falavam, tinham vocabulários diferentes. Nenhuma comunicação era possível entre elas, nem por sinais metafóricos: seus códigos simplesmente não combinavam. A divisão continuou até há pouco. Hoje as duas culturas estão na internet e usam a linguagem universal dos impulsos eletrônicos. Conversa-se, pelo menos, entre os dois lados do abismo.
Mas há uma separação que se agrava, entre facções de uma mesma ciência, ou pseudociência: facções com o mesmo vocabulário e os mesmos códigos, mas que não se entendem. Economistas de um lado e de outro do abismo lidam com os mesmos números, recebem os mesmos dados, analisam as mesmas estatísticas – e veem e preveem coisas diferentes. Há dias o Elio Gaspari escreveu sobre a controvérsia que está havendo a respeito das taxas de juros entre economistas brasileiros, todos da mesma escola, com a mesma formação e a mesma informação, e nenhum deles adepto de qualquer heresia econômica. A cisão é inexplicável, a não ser que se procure sua causa no terreno movediço dos egos em choque.
Ou então a explicação é antiga: o mundo da ciência econômica, como todos os mundos, também está dividido entre humanistas e seus contrários. Antes de divergirem nas suas interpretações e receitas, os economistas divergem no seu coeficiente de consciência social. Não é o caso da polêmica citada pelo Gaspari, em que nenhum dos contendores pode remotamente ser chamado “de esquerda”. Mas o menor desafio à ortodoxia vigente já vale como um ponto para o humanismo.
“Consciência social” é um termo escorregadio. Não se trata de compaixão, ou de ter ou não ter coração. Nenhum lado tem monopólio dos bons sentimentos, todos têm consciência da desigualdade crescente, no país e no mundo, entre os poucos que têm dinheiro e poder e a maioria de despossuídos, e da explosão a que pode levar. Ou a que, segundo alguns, já levou. A doença é clara, discute-se a cura. Ela certamente não virá com a insistência num pensamento liberal único e a vassalagem irreversível ao capital financeiro, A divisão reportada por Gaspari é, entre outras coisas, sobre a persistência de um conservadorismo econômico que ainda não se deu conta de que a prancha acabou, e os tubarões estão esperando lá embaixo.
VERÍSSIMO, Luis Fernando. Cisão. Gazeta do Povo, Curitiba, p. 24. 11 e 12 fev 2017.
Analise as assertivas abaixo.
De acordo com o texto, é possível afirmar que entre os economistas há:
I) a integração entre a cultura humanista e a cultura científica;
II) o uso de vocabulário diferente.
III) a utilização dos mesmos dados estatísticos.
IV) a utilização de iguais números.
V) a previsão de coisas semelhantes, apesar de dados e estatísticas distintos.
Está(ão) correta(s) apenas:
Comentários
Veja os comentários dos nossos alunos
Gab.: C
corretos: III e IV;
I) a integração entre a cultura humanista e a cultura científica; (E)
Pelo contrário, de acordo com o texto, há entre os economistas a cisão.
-
II) o uso de vocabulário diferente. (E)
"todos da mesma escola, com a mesma formação e a mesma informação"
-
III) a utilização dos mesmos dados estatísticos. (C)
"...recebem os mesmos dados, analisam as mesmas estatísticas."
-
IV) a utilização de iguais números. (C)
mesma justificativa da II e III.
-
V) a previsão de coisas semelhantes, apesar de dados e estatísticas distintos. (E)
O autor dá a entender diametralmente o oposto: que há dados e estatísticas semelhantes, mas a previsão dos economistas é que diverge entre um e outro profissional.
GABARITO: C
Clique para visualizar este comentário
Visualize os comentários desta questão clicando no botão abaixo