Em Minha senhora de mim, Maria Teresa Horta efetua uma relei...
Texto 1
Comigo me desavim,
Sou posto em todo perigo;
Não posso viver comigo
Nem posso fugir de mim.
Com dor da gente fugia,
Antes que esta assim crescesse:
Agora já fugiria
De mim, se de mim pudesse.
Que meio espero ou que fim
Do vão trabalho que sigo,
Pois que trago a mim comigo
Tamanho imigo de mim?
SÁ DE MIRANDA, Francisco de. Trova. In: MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa através dos
textos. 33. ed. São Paulo: Cultrix, 2012.
Texto 2
Minha senhora de mim
Comigo me desavim
minha senhora
de mim
sem ser dor ou ser cansaço
nem o corpo que disfarço
Comigo me desavim
minha senhora
de mim
nunca dizendo comigo
o amigo nos meus braços
Comigo me desavim
minha senhora
de mim
recusando o que é desfeito
no interior do meu peito
HORTA, Maria Teresa. Cem poemas (antologia pessoal): 22 inéditos.
Rio de Janeiro: 7Letras, 2006.
Sobre a relação temática entre os textos, considere as seguintes afirmações:
I. O desacordo interior se mantém como cerne dos dois poemas, mas assume nuances diferentes: enquanto no texto 1, o conflito é representado de modo mais geral - e, portanto, pretensamente universalizante -, no texto 2, a indicação dos aspectos a que se associa a tensão o torna mais particular. II. A situação exposta nos dois poemas mostra-se, ao mesmo tempo, pessoal e social, representando a condição dual inerente ao ser humano − dividido entre aparência e essência, entre corpo material e alma −, para metaforizar o embate de formas antitéticas de se conceber a existência. III. O sujeito poético de cada texto adota atitude equivalente em face da contenda interna, considerando-a danosa a seu equilíbrio emocional por não encontrar meios para atenuá-la ou solucioná-la, dada a impossibilidade de esquivar-se de um enfrentamento direto ou de negar o que o aflige.
Está(ão) correta(s) a(s) afirmativa(s)
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Alternativa Correta: A - I, apenas.
Vamos analisar a relação entre os dois textos apresentados e as afirmações feitas sobre eles. Ambos os poemas exploram o tema do desacordo interior, mas há diferenças significativas entre suas abordagens.
Afirmativa I: Esta afirmativa está correta. No Texto 1 de Francisco de Sá de Miranda, o conflito é tratado de maneira mais ampla e pode ser entendido como uma questão universal. O sujeito poético expressa um desavim consigo mesmo, de forma que essa angústia poderia ser aplicada a qualquer indivíduo. Já no Texto 2 de Maria Teresa Horta, embora a estrutura do poema dialogue com o primeiro, há um toque mais pessoal e específico, com referências a uma "senhora de mim" e elementos particulares que dão um caráter mais íntimo ao conflito.
Afirmativa II: Esta afirmativa está incorreta. Embora ambos os poemas possam refletir questões pessoais e sociais, a interpretação de um embate entre aparência e essência, corpo e alma, não é explicitamente apresentada nos textos. A afirmativa sugere uma metáfora que não está evidente de forma clara em ambos os poemas, e portanto, não é possível considerá-la correta no contexto apresentado.
Afirmativa III: Esta afirmativa também está incorreta. Enquanto o sujeito poético no Texto 1 expressa uma clara incapacidade de escapar da sua aflição interna, o Texto 2 não necessariamente adota a mesma atitude. A expressão de desavim no segundo texto não indica diretamente que o sujeito poético considera essa contenda como danosa ao seu equilíbrio emocional da mesma forma que no primeiro.
Em resumo, a única afirmativa correta é a I, pois ela reflete com precisão a diferença de abordagem entre os dois poemas, onde um trata o conflito de forma mais universal e o outro de maneira mais particular.
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