No que se refere aos recursos estilísticos que Saraiva e Lop...

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Q2006228 Literatura
— Se não, vejam vossas senhorias isto! Que paz, que animação, que prosperidade!
E com um grande gesto mostrava-lhes o Largo do Loreto, que àquela hora, num fim de tarde serena, concentrava a vida da cidade. Tipoias vazias rodavam devagar; pares de senhoras passavam, com os movimentos derreados, a palidez clorótica duma degeneração de raça; nalguma magra pileca, ia trotando algum moço de nome histórico, com a face ainda esverdeada da noitada de vinho; pelos bancos de praça gente estirava-se num torpor de vadiagem; um carro de bois, aos solavancos sobre suas altas rodas, era como o símbolo de agriculturas atrasadas de séculos; fadistas gingavam, de cigarro nos dentes; algum burguês enfastiado lia nos cartazes o anúncio de operetas obsoletas; nas faces enfezadas de operários havia como a personificação das indústrias moribundas... E todo este mundo decrépito se movia lentamente, sob um céu lustroso de clima rico, entre garotos apregoando a lotaria e a batota pública, e rapazitos de voz plangente oferecendo o Jornal das pequenas novidades [...].

 QUEIRÓS, Eça de. O crime do padre Amaro. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda,
2000.
No que se refere aos recursos estilísticos que Saraiva e Lopes (2004) reconhecem na prosa de Eça de Queirós, observa-se no excerto o emprego de
Alternativas

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A alternativa correta para a questão é a alternativa B - ironia.

Vamos entender por que essa é a resposta certa e analisar as demais alternativas:

Ironia é uma figura de linguagem amplamente utilizada por Eça de Queirós, especialmente em obras como "O Crime do Padre Amaro". A ironia ocorre quando o autor expressa uma ideia usando palavras cujo sentido aparente é o oposto do real. No trecho apresentado, Eça descreve a cena de forma a criticar a decadência e a hipocrisia social, ainda que, na superfície, as palavras possam parecer elogiosas. A contradição entre a descrição idealizada e a realidade decadente é um exemplo claro de ironia.

Alternativa A - Hipálage: Essa figura de linguagem ocorre quando um adjetivo é associado a um substantivo que não é o mais adequado ou lógico, criando um efeito poético. No entanto, no trecho de Eça, não temos essa deslocação de adjetivo como recurso principal.

Alternativa C - Metonímia: Trata-se de uma figura de linguagem onde um termo é usado no lugar de outro, com uma relação de proximidade ou contiguidade entre eles. No excerto, essa não é a figura mais evidente, pois o foco está na crítica social e não em substituir palavras por outras.

Alternativa D - Sinestesia: Essa figura consiste na combinação de sensações percebidas por diferentes sentidos, como combinar cores com sons. Apesar de Eça de Queirós ter um estilo rico e detalhado, a sinestesia não é o recurso mais proeminente no exemplo dado, diferentemente da ironia.

Ao analisar o texto de Eça, fica claro que a intenção é criticar e satirizar a sociedade da época, utilizando a ironia para criar um contraste entre a aparência e a realidade. Essa técnica é característica do estilo realista do autor, que busca expor as falhas e contradições sociais.

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