O poema de Herberto Helder, do qual se apresenta apenas o ex...
HÚMUS
Pátios de lajes soerguidas pelo único
esforço da erva: o castelo –
a escada, a torre, a porta,
a praça.
Tudo isto flutua debaixo
de água, debaixo de água.
− Ouves
o grito dos mortos?
A pedra abre a cauda de ouro incessante,
só a água fala nos buracos.
São palavras pronunciadas com medo de pousar,
uma tarde que viesse na ponta dos pés, o som
devagar de uma
borboleta.
− A morte não tem
só cinco letras. Como a claridade na água
para me entontecer,
a cantaria lavrada:
com um povo de estátuas em cima,
com um povo de mortos em baixo.
Primaveras extasiadas, espaços negros, flores desmedidas
− todos os dias debalde repelimos os mortos.
É preciso criar palavras, sons, palavras
vivas, obscuras, terríveis.
[...]
HELDER, Herberto. Poemas completos. Rio de Janeiro: Tinta-da-china Brasil, 2016. p. 215-216.
Com base no excerto, em seu diálogo com o texto-fonte e nas características da produção de Herberto Helder apontadas por Saraiva e Lopes (2004), leia as afirmações abaixo e marque V, para as verdadeiras, e F, para as falsas.
( ) Ao empreender uma operação que recombina diferentes passagens do texto-fonte, Herberto Helder adota uma postura de transgressão da linearidade do discurso. Com isso, não só se alinha à experimentação que predomina na poesia portuguesa durante a década de 1960, mas também se mostra tributário do Surrealismo, uma vez que a montagem possibilita uma liberdade metafórica própria desse movimento. ( ) A rede imagética obtida pela modificação do texto-fonte altera a cena inicial, trazendo ao poema camadas de significação distintas daquelas que se manifestam na abertura da obra de Brandão. A presença, por exemplo, de metáforas associadas ao elemento aquático minimiza o abatimento associado à imagem do “invólucro de pedra”, dado pertencerem ao campo semântico da fluidez. ( ) A transmutação operada por Helder no nível do significante também se manifesta tematicamente: imagens ligadas à finitude são apresentadas juntamente com símbolos de fecundação e renascimento, sugerindo uma ideia de coincidência dos opostos própria do imaginário hermético-alquímico. A simetria entre o que está “em cima” e o que está “em baixo” reforça essa possibilidade interpretativa.
A sequência correta, de cima para baixo, é
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Gabarito comentado
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A alternativa correta é a C - V – F – V.
O poema de Herberto Helder demonstra uma complexidade imagética e temática que dialoga com a tradição poética do Surrealismo e a experimentação dos anos 1960. Vamos analisar as afirmações:
1ª Afirmação (Verdadeira): Ao recombinar passagens do texto de Raul Brandão, Helder transgride a linearidade do discurso. Isso se alinha com a experimentação poética dos anos 1960 e com o Surrealismo, que valorizam a montagem e a liberdade metafórica, elementos evidentes no poema.
2ª Afirmação (Falsa): Embora Helder utilize metáforas associadas ao elemento aquático, que trazem fluidez ao poema, isso não minimiza o abatimento da imagem do “invólucro de pedra”. Pelo contrário, a coexistência de imagens opostas intensifica o contraste entre imobilidade e transformação.
3ª Afirmação (Verdadeira): A obra explora temas ligados à finitude e renascimento, simbolizando uma coincidência dos opostos, característica do imaginário hermético-alquímico. A menção ao que está “em cima” e “em baixo” reforça essa dualidade e sugere uma interpretação simbólica do ciclo de vida e morte.
Assim, a resposta correta é a C - V – F – V, pois reflete corretamente as nuances do poema e suas interpretações.
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