Avaliando o excerto do poema de Herberto Helder à luz dos fa...

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Q2006233 Literatura

HÚMUS


Pátios de lajes soerguidas pelo único

esforço da erva: o castelo –

a escada, a torre, a porta,

                                                  a praça. 

Tudo isto flutua debaixo

de água, debaixo de água.

                                               − Ouves

o grito dos mortos?


A pedra abre a cauda de ouro incessante,

só a água fala nos buracos.


São palavras pronunciadas com medo de pousar,

uma tarde que viesse na ponta dos pés, o som

devagar de uma

borboleta.

                                      − A morte não tem

só cinco letras. Como a claridade na água

para me entontecer,

                                       a cantaria lavrada:

com um povo de estátuas em cima,

com um povo de mortos em baixo.


Primaveras extasiadas, espaços negros, flores desmedidas

− todos os dias debalde repelimos os mortos.


É preciso criar palavras, sons, palavras

vivas, obscuras, terríveis.

[...]


HELDER, Herberto. Poemas completos. Rio de Janeiro: Tinta-da-china Brasil, 2016. p. 215-216.

Avaliando o excerto do poema de Herberto Helder à luz dos fatores que Koch e Elias (2012) relacionam à coerência, é pertinente afirmar que
Alternativas

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Alternativa correta: D - A opção do autor por desautomatizar o processo de leitura do texto evidencia uma atitude provocativa que estimula ainda mais uma postura ativa do leitor, potencializando a natureza interativa da produção do sentido.

A questão em foco exige que você compreenda como a coerência textual pode ser utilizada e percebida em um poema, particularmente no trabalho de Herberto Helder. Vamos explorar a justificativa para a alternativa correta e entender por que as demais estão incorretas.

Alternativa D: A opção correta destaca a intenção do poeta em desautomatizar a leitura. Herberto Helder é conhecido por criar textos que exigem uma postura ativa do leitor. Ele usa técnicas que desafiam a leitura linear e tradicional, construindo um poema que demanda uma interpretação mais engajada, refletindo a natureza interativa da construção de sentido. Isso está alinhado com a ideia de que a coerência não é dada, mas construída na interação entre texto e leitor.

Alternativa A: Está incorreta porque menciona uma precariedade na articulação dos enunciados, sugerindo uma falha no monitoramento do leitor interno. No entanto, a complexidade do texto de Helder não se deve a um erro, mas sim a uma escolha estilística consciente para provocar o leitor.

Alternativa B: Esta alternativa incorretamente afirma que a seleção lexical causa mais confusão do que clareza. Apesar da combinação de campos semânticos distintos, isso é proposital e contribui para a profundidade e riqueza do poema, não se deve à aleatoriedade, mas sim a uma estratégia de provocação e reflexão.

Alternativa C: Também está errada ao sugerir que o reconhecimento de referências a Raul Brandão é necessário para a compreensão do poema. Embora referências intertextuais possam enriquecer a leitura, dizer que são necessárias desconsidera o poder autônomo do poema e a experiência individual do leitor.

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