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Q2006235 Literatura
Bosi (2006) faz uma análise sob a perspectiva de Lucien Goldmann, que propõe uma abordagem genético-estrutural do romance tendo como ponto de partida a tensão entre o escritor e a sociedade. Ao estabelecer essa tensão como dado existencial primário, Goldmann define uma “hipótese explicativa do romance moderno, na sua relação com a totalidade social”, em que o romance se funda na oposição ego e sociedade. Dessa hipótese, deriva uma classificação que estabelece a existência de romances em que o herói ou empreende uma busca por valores pessoais que vençam a hostilidade do meio em que vive, como em Dom Quixote, ou se fecha em si mesmo, como em A Educação Sentimental, de Flaubert, podendo, ainda, aprender a viver, como em Wilhelm Meister, de Goethe.
Uma revisão do esquema de Goldmann possibilita a análise do romance brasileiro moderno, após 1930, a partir da observação de um grau crescente de tensão entre o herói e o seu meio.
Sobre essa análise, é INCORRETO afirmar que
Alternativas

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A alternativa correta para a questão é a B. Vamos analisar cada uma das alternativas para entender o porquê.

Alternativa A: Esta alternativa está correta no contexto da análise proposta. Nos romances de tensão mínima, o conflito realmente se apresenta de forma mais sutil, como uma oposição verbal ou sentimental. As personagens geralmente estão bem integradas ao seu meio e não há um grande distanciamento em relação ao contexto social e histórico em que estão inseridas. Dessa forma, há um destaque ao espaço e ao tempo histórico, o que é um ponto de concordância com a hipótese de Goldmann.

Alternativa B: Esta é a incorreta. A questão afirma que na obra de Clarice Lispector, o herói busca ultrapassar conflitos existenciais através do mito ou da metafísica, mas falha, resultando em uma tensão irresoluta. No entanto, a obra de Clarice Lispector geralmente aborda uma introspecção mais subjetiva e pessoal, onde o foco está na transformação interna do personagem e não necessariamente em um fracasso na tentativa de transcender conflitos existenciais. Esta descrição não condiz perfeitamente com as características principais dos personagens de Lispector.

Alternativa C: Esta alternativa está correta. Nos romances de tensão crítica, como mencionados "Usina" e "Fogo Morto" de José Lins do Rego, o herói realmente resiste às pressões externas do meio social e da paisagem. Estas obras apresentam personagens que enfrentam e se opõem às condições ao seu redor, o que está de acordo com a classificação proposta na análise de Goldmann.

Alternativa D: Esta alternativa está correta. Na obra de Lygia Fagundes Telles, há frequentemente uma introspecção para o mundo interior dos personagens. O herói, ao voltar-se para o seu íntimo, evita o conflito externo, marcando uma tensão que se interioriza. Isso reflete como a tensão está mais dentro do personagem do que em oposição ao seu ambiente externo, alinhando-se assim com a perspectiva da tensão entre herói e meio.

Assim, ao analisar as alternativas, a única afirmação que não se alinha à análise proposta é a alternativa B, que apresenta uma interpretação incorreta sobre a obra de Clarice Lispector.

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B

o que Goldmann propõe, em última análise é uma hipótese explicativa do romance moderno, na sua relação com a totalidade social. Nessa perspectiva, poderíamos distribuir o romance brasileiro moderno, de 1930 para cá, em, pelo menos, quatro tendências, segundo o grau crescente de tensão entre o “herói” e seu mundo:

 

1. romances de tensão mínima. Há conflito, mas este se configura em termos de oposição verbal, sentimental quando muito: as personagens não se destacam visceralmente da estrutura e das paisagens que as condicionam [...].

2. romances de tensão crítica. O herói opõe-se e resiste agonicamente às pressões da natureza e do meio social, formule ou não em ideologias explícitas o seu mal-estar permanente [...].

3. romances de tensão interiorizada. O herói não se dispõe a enfrentar a antinomia eu/mundo pela ação: evade-se, subjetivando o conflito [...].

4. romances de tensão transfigurada. O herói procura ultrapassar o conflito que o constitui existencialmente pela transmutação mítica ou metafísica da realidade.

BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 2015, p. 470. Adaptado.

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