O cronista considera o expressivo contraste que há entre

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Q1968244 Português

Fim de semana na fazenda


        São fazendas do fim do século XIX, não mais. Seus donos ainda estão lá: já não se balançam, é verdade, nas cadeiras austríacas da varanda nem ouvem a partida desse bando de maritacas que se muda para o morro do outro lado da várzea.

        Ou talvez ouçam, quem sabe. Mas estão hirtos dentro de suas molduras, nas paredes da sala. Assim, rígidos, pintados a óleo, eles parecem reprovar nossos uísques e nossas conversas. Mas eis que o amigo Mário Cabral toca um samba no velho piano de cauda, e creio que eles gostam, talvez achem uma interessante novidade musical vinda da capital do Império. Depois Mário ataca uma velha música francesa − “Solitude” − e creio bem que vi, ou senti, a senhora viscondessa suspirar de leve.

        Ah, senhora viscondessa! Que solidão irremediável não sentiu dentro de vossas grossas molduras douradas. Olhais para a frente, dura, firme. Lá fora as mangueiras e jabuticabeiras estão floridas, na pompa da manhã. Um beija-flor corta o retângulo da janela no seu voo elétrico e se imobiliza no ar, zunindo. Onde está o senhor visconde?

        Ele está em outra parede, também duro, de uniforme e espada. Não olha a esposa. Os dois não se olham. Alguma intriga? Não. Apenas eles estão cansados de estar casados, cansados de estar mortos, cansados de estar pintados, cansados de estar emoldurados e pendurados − e tão cansados e enfadados que há mais de sessenta anos não chupam uma só jabuticaba, sequer uma.

(Adaptado de: BRAGA, Rubem. Os sabiás da crônica. Antologia. Org. Augusto Massi. Belo Horizonte: Autêntica, 2021, p. 80)

O cronista considera o expressivo contraste que há entre
Alternativas

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A questão é de interpretação de texto e quer saber em qual alternativa o cronista considera que há um expressivo contraste. Vejamos:


  • Contraste: diferença ou oposição fortes, marcantes, entre coisas análogas ou que se apresentam no mesmo contexto de percepção.

A) o livre voo das maritacas e o samba tocado pelo amigo Mário.  
ERRADO. Não há contraste entre “livre voo" e “samba".

B) o florescimento das árvores e o voo de um beija-flor. 
ERRADO. Não há contraste entre “florescimento" e “voo".

C) a rigidez dos retratados e a pintura a óleo emoldurada. 
ERRADO. Não há contraste entre “rigidez" e “pintura a óleo".

D) a paralisia no passado e o desfrute de uma jabuticaba. 
CERTO. Há contraste entre “paralisia" e “desfrute": a paralisia está relacionada a uma ausência de ação; já o desfrute está relacionado à presença de uma vantagem.

Paralisia: falta de ação, de atividade; marasmo; torpor.

Desfrute: ato de aproveitar oportunidade ou vantagem; fruição, proveito, usufruto.

E) o tédio dos casamentos e a incomunicabilidade entre os retratos. 
ERRADO. Não há contraste em “tédio" e “incomunicabilidade".

Gabarito: Letra D

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Comentários

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É necessário se esforçar um pouco. Essa não sai tão rápido, mas me parece que nas outras alternativas nada é um contraste e sim uma igualdade de sentidos.

Gab. D

Que texto... sem comentários hahaha

O tipo de questão que a gente acerta, porém com uma pulga atrás da orelha

Nem ouvem a partida desse bando de maritacas que se muda para o morro do outro lado da várzea.

Mas eis que o amigo Mário Cabral toca um samba no velho piano de cauda, e creio que eles gostam

Se eles gostam é porque ouvem, entendi isso como contraste!

Não acertaria essa na prova.

Sinceramente, nao entendi. Não consegui enxergar o contraste. Ja oercebo wue eu tenho dificuldade com crônica.

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