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Leia o texto a seguir para responder às questões de nos 1 a 8.
PROFETAS DA CHUVA
“O meu trunfo é o juazeiro”, diz, com a certeza
de muitos anos de observação, o cearense José Erasmo
Barreira, sertanejo de 67 anos, nascido na região de
Quixadá. “Quando o juazeiro flora em novembro, é sinal
5 de inverno tardio.” Erasmo é representante de uma tra-
dição que atravessou os séculos e ainda está presente
na vida do Nordeste brasileiro. Ele é um profeta da chu-
va e, a partir da observação dessa árvore e de outros
indícios da natureza da caatinga, acredita que o tempo
10 está bom para começar o plantio do sertão cearense.
“Do dia 15 de fevereiro até o final de maio, vai ser um
bom inverno”, promete.
Erasmo é um dos cerca de 25 sertanejos que
aprenderam a entender e a prever o clima a partir dos
15 sinais da natureza, da posição das estrelas, da lua, do
comportamento e canto dos pássaros, do vento, da po-
sição do sol e das nuvens. “Em comunidades que so-
frem com a seca, o papel desses personagens adquire
um caráter político, de organização da população em
20 torno de suas previsões”, explica a psicanalista Karla
Patrícia Martins, professora da Unifor (Universidade de
Fortaleza) e autora do livro Os Profetas da Chuva, do
qual foram retirados os depoimentos que constam des-
ta reportagem. Ela conta que “já houve casos de serta-
25 nejos que foram perseguidos, responsabilizados pelas
secas que previram”.
Ultimamente, os profetas estão desaparecendo,
uma vez que seus filhos não se interessam em levar
adiante esse conhecimento adquirido dos seus avós.
30 “Eu nasci e sempre morei no sertão, daí a gente reúne a
experiência”, conta Erasmo. “É uma coisa que a minha
avó sabia e ensinou p’ra minha mãe, que ensinou p’ra
mim e assim vai.” Em janeiro, Erasmo e os profetas
tradicionais participaram de um encontro que ocorre há
35 doze anos em Quixadá, reunindo pesquisadores brasi-
leiros e estrangeiros, técnicos da Funceme (Fundação
Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos) e agri-
cultores.
O meteorologista Namir Melo, da Funceme, parti-
40 cipa do encontro há dez anos e acredita nessa troca de
conhecimentos. “A ciência vê esse tipo de manifestação
com muito respeito”, afirma. “Afinal de contas, a
meteorologia evoluiu de observações da natureza, como
as que são feitas pelos profetas.” Para ele, o índice de
45 aproveitamento das previsões dos profetas mostra que suas
observações devem ser levadas em consideração. [...]
Figuras importantes
Se os próprios cientistas levam a sério as previ-
sões dos profetas, mais ainda os agricultores de Quixadá,
50 que esperam ansiosamente as manifestações de seus
“meteorologistas”. A cidade [...] está localizada em ple-
no semi-árido do sertão central cearense e sofre com a
falta de água. Tanto que lá foi construído o açude do
Cedro, inaugurado em 1906, o mais antigo do Brasil. A
55 eterna luta contra as intempéries da caatinga faz dos
profetas figuras importantes na região. Poucos agricul-
tores apostam suas sementes antes de ouvir suas pre-
visões e até mesmo o comércio vende mais quando eles
prometem chuva.
60 Os profetas não se intimidam com o peso da res-
ponsabilidade. “A gente não adivinha nada, apenas pra-
tica o conhecimento adquirido no passado”, explica
Erasmo. “Peço desculpas, quando não é do agrado de
todo mundo, mas o sertanejo é assim mesmo.” [...]
BONANOME, Flávio. Revista Horizonte Geográfico, no 115, fev. 2008.
(Adaptado)
No texto, “intempéries” (l. 55) significa