A generalização expressa nas ações descritas no primeiro par...
As questões abaixo baseiam-se em excertos do texto “Exaustos-e-correndo-e-dopados”, de Eliane Brum. Leia-os, com atenção, para assinalar a opção correta.
EXCERTO 1- QUESTÕES 1 a 5
Exaustos-e-correndo-e-dopados
Eliane Brum
- Nos achamos tão livres como donos de tablets e celulares, vamos a qualquer lugar
- na internet, lutamos pelas causas mesmo de países do outro lado do planeta, participamos de
- protestos globais e mal percebemos que criamos uma pós-submissão. Ou um tipo mais
- perigoso e insidioso de submissão. Temos nos esforçado livremente e com grande afinco
- para alcançar a meta de trabalhar 24 x 7. Vinte e quatro horas por sete dias da semana.
- Nenhum capitalista havia sonhado tanto. O chefe nos alcança em qualquer lugar, a qualquer
- hora. O expediente nunca mais acaba. Já não há espaço de trabalho e espaço de lazer, não
- há nem mesmo casa. Tudo se confunde. A internet foi usada para borrar as fronteiras
- também do mundo interno, que agora é um fora. Estamos sempre, de algum modo,
- trabalhando, fazendo networking, debatendo (ou brigando), intervindo, tentando não perder
- nada, principalmente a notícia ordinária. Consumimo-nos animadamente, a o ritmo de
- emoticons. E, assim, perdemos só a alma. E alcançamos uma façanha inédita: ser senhor e
- escravo ao mesmo tempo.
- Como na época da aceleração os anos já não começam nem terminam, apenas se
- emendam, tanto quanto os meses e como os dias (...). Estamos exaustos e correndo.
- Exaustos e correndo. Exaustos e correndo. E a má notícia é que continuaremos exaustos e
- correndo, porque exaustos-e-correndo virou a condição humana dessa época. E já
- percebemos que essa condição humana um corpo humano não aguenta. O corpo então virou
- um atrapalho, um apêndice incômodo, um não-dá-conta que adoece, fica ansioso, deprime,
- entra em pânico. E assim dopamos esse corpo falho que se contorce ao ser submetido a uma
- velocidade não humana. Viramos exaustos-e-correndo-e-dopados. Porque só dopados para
- continuar exaustos-e-correndo. Pelo menos até conseguirmos nos livrar desse corpo que se
- tornou uma barreira. O problema é que o corpo não é um outro, o corpo é o que chamamos
- de eu. O corpo não é limite, mas a própria condição. O corpo é.
- Os cliques da internet tornaram-se os remos das antigas galés. Remem remem
- remem. Cliquem cliquem cliquem para não ficar para trás e morrer. Mas o presente, nessa
- velocidade, é um pretérito contínuo. Se a internet parece ter encolhido o mundo, e milhares
- de quilômetros podem ser reduzidos a um clique, como diz o clichê e alguns anúncios
- publicitários, nosso mundo interno ficou a oceanos de nós. Conectados ao planeta inteiro,
- estamos desconectados do eu e também do outro. Incapazes da alteridade, o outro se tornou
- alguém a ser destruído, bloqueado ou mesmo deletado. Falamos muito, mas sozinhos.
- Escassas são as conversas, a rede tornou-se em parte um interminável discurso
- autorreferente, um delírio narcisista. E narciso é um eu sem eu. Porque para existir eu é
- preciso o outro.