Sobre os elementos destacados do segmento “Agora, quando le...
Texto para responder à questão.
Memórias de um aprendiz de escritor
Escrevo há muito tempo. Costumo dizer que, se ainda não aprendi - e acho mesmo que não aprendi, a gente nunca para de aprender não foi por falta de prática. Porque comecei muito cedo. Na verdade, todas as minhas recordações estão ligadas a isso, a ouvir e contar histórias. Não só as histórias dos personagens que me encantaram, o SaciPererê, o Negrinho do Pastoreio, a Cuca, Hércules, Tarzan, os piratas. Mas também as minhas próprias histórias, as histórias de meus personagens, essas criaturas reais ou imaginárias, com quem convivi desde a infância.
“Na verdade”, eu escrevi ali em cima. Verdade é uma palavra muito relativa para um escritor de ficção. O que é verdade, o que é imaginação? No colégio onde fiz o segundo grau, havia um rapaz que tinha fama de mentiroso. Fama, não; ele era mentiroso. Todo mundo sabia que ele era mentiroso. Todo mundo, menos ele.
Certa vez, o rádio deu uma notícia alarmante: um avião em dificuldades sobrevoava Porto Alegre. Podia cair a qualquer momento. Fomos para o colégio, naquele dia, preocupados; e conversávamos sobre o assunto, quando apareceu ele, o Mentiroso. Pálido:
— Vocês nem podem imaginar!
Uma pausa dramática, e logo em seguida:
— Sabem esse avião que estava em perigo? Caiu perto da minha casa. Escapamos por pouco. Gente, que coisa horrível!
E começou a descrever o avião incendiando,o piloto gritava por socorro ... Uma cena impressionante. Aí veio um colega correndo, com a notícia: o avião acabara de aterrissar, são e salvo. Todo mundo começou a rir. Todo mundo, menos o Mentiroso:
— Não pode ser! - repetia incrédulo, irritado. — Eu vi o avião cair!
Agora, quando lembro este fato, concluo que não estava mentindo. Ele vira, realmente, o avião cair. Com os olhos da imaginação, decerto; mas para ele o avião tinha caído, e tinha incendiado, e tudo o mais. E ele acreditava no que dizia, porque era um ficcionista. Tudo que precisava, naquele momento, eram um lápis e um papel. Se tivesse escrito o que dizia, seria um escritor; como não escrevera, tratava-se de um mentiroso. Uma questão de nomes, de palavras.
SCLIAR, Moacyr. Memórias de um aprendiz de escritor. São Paulo: Ed. Nacional, 1984.
Aos que assinalaram a alternativa "a" (de acordo com as estatísticas da questão, foi a segunda alternativa mais assinalada):
A conjunção 'quando', nessa frase, é uma conjunção subordinada adverbial temporal, a qual poderia ser substituída por "enquanto, assim que, logo que, até que". Logo, por conta disso, não se poderia substituir por "se", que é uma conjunção subordinada adverbial condicional.
O sentido da frase "Agora, quando lembro este fato, concluo que não estava mentindo" é que hoje em dia, nos momentos em que ele pára e se lembra do fato, ele conclui que não estava mentindo. A frase não é construída no sentido de "agora, CASO/SE lembro do fato".
Portanto, gabarito é letra "B".
Não entendi o gabarito da letra B por conta desse trecho: Tudo que precisava, naquele momento, eram um lápis e um papel
Não entendi a concordância
Achei que '' tudo o mais'' era coloquialismo
Tudo que precisava, naquele momento, eram um lápis e um papel
Concordância Correta, basta colocar a frase na ordem direta
Um lápis e um papel eram tudo que precisaria naquele momento.
"Tudo que precisava, naquele momento, eram um lápis e um papel". Formalmente, a regência do verbo precisar, indicando necessidade, não deveria ser obedecida, "precisar DE" (VTI)? Sei que com o "que" é "aceitável" a ausência da preposição, mas por se falar em " respeito à norma culta da língua" fiquei na dúvida...
Se MOACIR SCLIAR
Não respeita a Norma Culta quem dirá EU ser ÍNFIMO do conhecimento de
nossa língua.
Isabela, pensei isso aí que disse. Mas lembrei que já errei uma questão do mesmo jeitinho da Ibade, problema de regência é diferente de problema de concordância :(