As três frases do trecho “Alguns passam a vida acompanhados ...
Leia o texto abaixo e responda às questões propostas.
POR POUCO
Eu estava a ponto de escrever alguma coisa sobre as pessoas que estão a ponto de tomar uma atitude definitiva e recuam – e recuei. Ia escrever sobre os que um dia, por pouco, quase, ali-ali, estiveram prestes a mudar sua vida mas não deram o passo crucial, mas não vou. Pena e comiseração para os que não deram o passo crucial.
Pena e comiseração para os que preferiram o pássaro na mão. Para os que não foram ser os legionários dos seus primeiros sonhos. Para os que hesitaram na hora de pular. Para os que pensaram duas vezes. Pena e comiseração para os que envelheceram tentando decidir o que iam ser quando crescessem. E para os que decidiram, mas na hora não foram.
Alguns passam a vida acompanhados pelo que podiam ter sido. Por fantasmas do irrealizado. Um cortejo de ressentimentos. Este aqui sou eu se tivesse decidido fazer aquele curso em Paris. Este outro sou eu se tivesse chegado um minuto antes no vestibular...
Olha que bom aspecto eu teria se tivesse aceito aquela nomeação. Veja o bigode. O corte decidido do cabelo. O olhar de quem é firme, mas justo com subalternos. A cintura ajustada. As mãos que não tremem. Elas me seguem por toda a parte, as minhas alternativas.
Você conhece muitos assim. Gente que cultiva suas oportunidades perdidas como outros guardam o próprio apêndice num vidrinho. E não perdem oportunidade de contar como foi a oportunidade perdida.
– Foi num jogo de pôquer. Tinha dois pares e não joguei. Quem ganhou tinha só um. A melhor mesa da noite. Milhões. Eu, hoje, seria outro.
– Fiz uma ponta naquele filme do Tarzã, mas cortaram a minha parte. Se tivessem me visto em Hollywood...
– Se eu tivesse dito sim...
– Se eu tivesse dito não...
– Se mamãe não tivesse interferido...
Uma vez fui fazer um teste no Fluminense. Abafei. Mas a família foi contra. Insistiu com a contabilidade. Eu, hoje, seria outro.
– Já tive a minha época de escritor, tá sabendo? Uns contos até razoáveis. Mas nunca me mexi. Hoje eles estão numa gaveta, sei lá.
– Você sabe que só não me elegi deputado, porque não quis?
– Eu, hoje, podia ser até primeiro-violino.
– Tudo porque eu não saí daqui quando devia.
Pena e comiseração para os que não saíram daqui quando deviam. Há quem diga que o passo crucial só pode ser dado uma vez e nunca mais. Tem a sua hora certa, e ela não volta. Bobagem, claro. Mas não para os que tiveram a sua hora e não aproveitaram. Os mártires do por pouco.
– Sei exatamente quando foi que eu tomei a decisão errada. Foi numa noite de Ano-Bom.
Você já ouviu a história várias vezes. Mas não pode impedi-lo de falar. O único divertimento que lhe resta é o que ele poderia ter sido. Os que não deram o passo crucial quando deviam estão condenados ao condicional. E tem a volúpia da própria frustração.
– Se eu tivesse aproveitado... Ela estava gamada. Gamadona. Filha da segunda fortuna do Brasil.
Da última vez que você ouviu a história, era a terceira fortuna do Brasil, mas tudo bem.
– Bobeei e babaus. Hoje, quando eu penso...
Você tenta ajudar
– Podia não ter dado certo. O pai dela não ia deixar. Um morto-de-fome como você...
– Morto-de-fome, porque eu não dei o passo crucial na hora que me ofereceram aquele negócio no Mato Grosso. Ia dar um dinheirão.
– Mas se você fosse para o Mato Grosso, não teria conhecido a menina na noite de Ano-Bom.
– Pois é. Agora é tarde. Sei lá.
Agora é tarde. As decisões erradas são irrecorríveis. Você o imagina cercado das suas alternativas. De um lado, casado com a, vá lá, primeira fortuna do Brasil. O último homem do Rio a usar echarpe de seda. Grisalho, mas ainda em forma com aquele tom de pele que só se consegue passando o dia na piscina do Copa, mas na sombra. Do outro lado, o próspero fazendeiro do Mato Grosso que pilota o seu próprio avião e tem rugas em torno dos olhos de tanto procurar o fim das suas terras no horizonte, ou de tanto rir dos pobres. E no meio, ele, a ponto de lhe pedir dinheiro emprestado outra vez. Triste, triste. Eu ia escrever uma boa crônica sobre tudo isso. Mas o assunto me fugiu, perdi a hora certa. Agora é tarde.
(VERÍSSIMO, L. Fernando. Ed Morte e outras histórias. Círculo do Livro.)
As três frases do trecho “Alguns passam a vida acompanhados pelo que podiam ter sido. Por fantasmas do irrealizado. Um cortejo de ressentimentos.” (3º parágrafo) poderiam ser redigidas num único período. Caso fosse feita essa opção, a redação com a pontuação adequada seria:
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Gabarito comentado
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A alternativa correta é a D: "Alguns passam a vida acompanhados pelo que podiam ter sido, por fantasmas do irrealizado: um cortejo de ressentimentos."
Tema central da questão: A questão trata da pontuação, um elemento essencial da Gramática, que influencia diretamente a clareza e o sentido do texto. Aqui, o desafio é reescrever três frases em um único período utilizando a pontuação correta para manter o sentido original.
Justificativa da alternativa correta: A alternativa D é a correta porque utiliza a vírgula e os dois pontos de forma adequada. A vírgula é usada para separar elementos de mesma função sintática, enquanto os dois pontos introduzem uma explicação ou uma enumeração. Neste caso, "um cortejo de ressentimentos" é uma explicação do que são "fantasmas do irrealizado".
Análise das alternativas incorretas:
A - "Alguns passam a vida acompanhados pelo que podiam ter sido; por fantasmas do irrealizado: um cortejo de ressentimentos."
O uso do ponto e vírgula não é adequado aqui, pois não há orações com independência sintática para justificar essa pontuação.
B - "Alguns passam a vida acompanhados pelo que podiam ter sido, por fantasmas do irrealizado; um cortejo de ressentimentos."
Novamente, o ponto e vírgula está mal empregado, pois separa elementos que deveriam estar ligados por outro tipo de pontuação. O ponto e vírgula geralmente é usado para separar orações coordenadas extensas, o que não é o caso aqui.
C - "Alguns passam a vida acompanhados pelo que podiam ter sido: por fantasmas do irrealizado; um cortejo de ressentimentos."
O uso dos dois pontos após "pelo que podiam ter sido" sugere que "por fantasmas do irrealizado" é uma explicação ou enumeração, mas "um cortejo de ressentimentos" não deve ser separado por ponto e vírgula.
E - "Alguns passam a vida acompanhados pelo que podiam ter sido: por fantasmas do irrealizado, um cortejo de ressentimentos."
Neste caso, a presença dos dois pontos está correta, mas a vírgula depois de "irrealizado" não transmite adequadamente a mesma ideia de explicação ou enumeração que a correta separação por dois pontos oferece.
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Comentários
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Analisando as opções e escolhendo a melhor redação
A alternativa correta é a E:
Alguns passam a vida acompanhados pelo que podiam ter sido: por fantasmas do irrealizado, um cortejo de ressentimentos.
Por quê?
Dois pontos: Introduzem uma explicação para a expressão "acompanhados pelo que podiam ter sido".
Vírgula antes de "um cortejo de ressentimentos": Separa uma enumeração de elementos que explicam a expressão "fantasmas do irrealizado".
Análise das demais opções:
A, B e C: Utilizam vírgulas de forma inadequada, gerando ambiguidades na interpretação da frase.
D: Utiliza um ponto e vírgula antes de "um cortejo de ressentimentos", o que não é necessário nesse contexto, pois não há uma pausa tão forte entre as ideias.
Justificativa:
A opção E apresenta a pontuação mais clara e concisa, estabelecendo uma relação de explicação entre os elementos da frase. Os dois pontos introduzem uma explicação para a expressão "acompanhados pelo que podiam ter sido", e a vírgula antes de "um cortejo de ressentimentos" separa os elementos da enumeração que explicam "fantasmas do irrealizado".
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