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Q1393207 Português

INSTRUÇÃO: Textos para a questão:


Linguagem, escrita e poder


    A linguagem não é usada somente para veicular informações, isto é, a função referencial denotativa da linguagem não é senão uma entre outas; entre estas ocupa uma posição central a função de comunicar ao ouvinte a posição que o falante ocupa de fato ou acha que ocupa na sociedade em que vive. As pessoas falam para serem "ouvidas", às vezes para serem respeitadas e também para exercer uma influência no ambiente em que realizam os atos linguísticos. O poder da palavra é o poder de mobilizar a autoridade acumulada pelo falante e concentrá-lo num ato linguístico (BOURDIEU, 1977). Os casos mais evidentes em relação a tal afirmação são também os mais extremos: o discurso político, sermão na igreja, aula, etc. As produções linguísticas deste tipo, e também de outros tipos, adquirem valor se realizadas no contexto social e cultural apropriado. As regras que governam a produção apropriada dos atos de linguagem levam em conta as relações sociais entre o falante e o ouvinte.

    Todo ser humano tem que agir verbalmente de acordo com tais regras, isto é, tem que "saber": a) quando pode falar e quando não pode; b) que tipo de conteúdos referenciais lhe são consentidos; c) que tipo de variedade linguística é oportuno que seja usada. Tudo isto em relação ao contexto linguístico e extralinguístico em que o ato verbal é produzido. A presença de tais regras é relevante não só para o falante, mas também para o ouvinte, que, com base em tais regras, pode ter alguma expectativa em relação à produção linguística do falante. Essa capacidade de previsão é devida ao fato de que nem todos os integrantes de uma sociedade têm acesso a todas as variedades e muito menos a todos os conteúdos referenciais. Somente uma parte dos integrantes das sociedades complexas, por exemplo, tem acesso a uma variedade "culta" ou "padrão", considerada geralmente “a língua", e associada tipicamente a conteúdos de prestígio. A língua padrão é um sistema comunicativo ao alcance de uma parte reduzida dos integrantes de uma comunidade; é um sistema associado a um patrimônio cultural apresentado como um "corpus" definido de valores, fixado na tradição escrita.

    Uma variedade linguística "vale" o que "valem" na sociedade os seus falantes, isto é, vale como reflexo do poder e da autoridade que eles têm nas relações econômicas e sociais. Esta afirmação é válida, evidentemente, em termos "internos", quando confrontamos variedades de uma mesma língua, e em termos "externos" pelo prestígio das línguas no plano internacional.


(GNERRE, Maurizio. Linguagem, escrita e poder. São Paulo: Martins Fontes, 1991. Apresentação. p. 5-7).




(Disponível em: https://www.google.com.br/search?q=charge+sobre+preconceito+linguistico&esp v=2&biw. Acesso em: 21/11/15)


Considerando os dois textos acima, analise as seguintes afirmativas:


I. A atitude da professora de Chico Bento confirma a análise explicitada por Gnerre: a variedade falada pelo aluno, de procedência rural, é desqualificada e desvalorizada, “vale” menos que a variedade de prestígio. Isso se reafirma tanto pelo título da história – “Bom Português” – quanto pela afirmação de D. Marocas que, no dia seguinte, quer que o aluno esteja “o fino no português”.

II. Para Gnerre, “todo ser humano tem que agir verbalmente de acordo com tais regras, isto é, tem que "saber": a) quando pode falar e quando não pode; b) que tipo de conteúdos referenciais lhe são consentidos; c) que tipo de variedade linguística é oportuno que seja usada.” Na história de Chico Bento, este demonstra ignorar quando deveria ficar calado e, por isso é justificável a reação da professora, D. Marocas, e o possível castigo aplicado por ela.

III. A presença de regras (tácitas ou explícitas) de uso da língua é relevante não só para o falante, mas também para o ouvinte, que, com base em tais regras, pode ter alguma expectativa em relação à produção linguística do falante. Considerando-se a intencionalidade de ambos os interlocutores – professora e aluno do ensino fundamental – e o que cada um idealiza em relação ao outro, pode-se afirmar que se esperava outro comportamento linguístico de Chico Bento; naquele contexto, requeria-se o domínio e uso de um registro oral formal, calcado numa variedade padrão da língua.

IV. Segundo Gnerre, “somente uma parte dos integrantes das sociedades complexas, por exemplo, tem acesso a uma variedade "culta" ou "padrão", considerada geralmente “a língua", e associada tipicamente a conteúdos de prestígio.” Chico Bento é representante de um grande conjunto de falantes do português brasileiro que fala uma variedade distinta do português padrão, o qual é empregado por pessoas altamente escolarizadas, em centros urbanos e em contextos de formalidade.


Estão CORRETAS as afirmativas contidas apenas em:

Alternativas