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Q625567 Português
                                 Conto de mistério

      Com a gola do paletó levantada e a aba do chapéu abaixada, caminhando pelos cantos escuros, era impossível a qualquer pessoa que cruzasse com ele ver seu rosto. No local combinado, parou e fez o sinal que tinham já estipulado à guisa de senha. Parou debaixo do poste, acendeu um cigarro e soltou a fumaça em três baforadas compassadas. Imediatamente, um sujeito mal-encarado, que se encontrava no café em frente, ajeitou a gravata e cuspiu de banda.

      Era aquele. Atravessou cautelosamente a rua, entrou no café e pediu um guaraná. O outro sorriu e se aproximou:

      - Siga-me! - Foi a ordem dada com voz cava. Deu apenas um gole no guaraná e saiu. O outro entrou num beco úmido e mal-iluminado, e ele - a uma distância de uns dez a doze passos - entrou também.

      Ali parecia não haver ninguém. O silêncio era sepulcral. Mas o homem que ia na frente olhou em volta, certificou-se de que não havia ninguém de tocaia e bateu numa janela. Logo uma dobradiça gemeu e a porta abriu-se discretamente.

      Entraram os dois e deram numa sala pequena e enfumaçada onde, no centro, via-se uma mesa cheia de pequenos pacotes. Por trás dela um sujeito de barba crescida, roupas humildes e ar de agricultor parecia ter medo do que ia fazer. Não hesitou - porém - quando o homem que entrara na frente apontou para o que entrara em seguida e disse: "É este".

      O que estava por trás da mesa pegou um dos pacotes e entregou ao que falara. Este passou o pacote para o outro e perguntou se trouxera o dinheiro. Um aceno de cabeça foi a resposta. Enfiou a mão no bolso, tirou um bolo de notas e entregou ao parceiro. Depois virou-se para sair. O que entrara com ele disse que ficaria ali.

      Saiu então sozinho, caminhando rente às paredes do beco. Quando alcançou uma rua mais clara, assoviou para um táxi que passava e mandou tocar a toda pressa para determinado endereço. O motorista obedeceu e, meia hora depois, entrava em casa a berrar para a mulher:

       - Julieta! Ó Julieta... consegui.

      A mulher veio lá de dentro enxugando as mãos em um avental, a sorrir de felicidade. O marido colocou o pacote sobre a mesa, num ar triunfal. Ela abriu o pacote e verificou que o marido conseguira mesmo. Ali estava: um quilo de feijão.

           Stanislaw Ponte Preta, Primo Altamirando e elas. 5. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1975. pp. 197-199. 
Das afirmações seguintes: I. Os homens encontraram na pequena sala enfumaçada um sujeito com características de agricultor, só que ele não era agricultor.
II. O motivo de tanto segredo e preocupação era a compra de um quilo de feijão.
III. O homem tomou providências para que ninguém o reconhecesse porque certamente a venda do feijão era proibida.
Alternativas

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Alternativa Correta: B - Apenas II e III estão corretas.

Para compreender esta questão, é essencial focar na interpretação de texto, identificando como o autor utiliza a linguagem para criar um cenário de mistério e surpresa. Stanislaw Ponte Preta, conhecido por seu humor e ironia, emprega esses elementos para enganar o leitor e revelar, ao final, que todo o suspense era apenas para a compra de um quilo de feijão.

Análise das Afirmativas:

I. Os homens encontraram na pequena sala enfumaçada um sujeito com características de agricultor, só que ele não era agricultor.

A afirmativa I está incorreta. No texto, o sujeito que parece ter características de agricultor (barba crescida, roupas humildes e ar de agricultor) não tem seu verdadeiro ofício confirmado. O autor cria uma imagem visual que pode ou não corresponder à realidade, mas não há elementos suficientes para afirmar que ele realmente não era agricultor.

II. O motivo de tanto segredo e preocupação era a compra de um quilo de feijão.

A afirmativa II está correta. O texto revela que todo o mistério e preocupação eram, ironicamente, para a compra de um simples quilo de feijão, enfatizando o caráter cômico e surpreendente do conto.

III. O homem tomou providências para que ninguém o reconhecesse porque certamente a venda do feijão era proibida.

A afirmativa III está correta. Embora o texto não afirme explicitamente que a venda do feijão era proibida, o comportamento dos personagens (cuidado em não serem reconhecidos, negociações secretas e a atitude furtiva) sugere que havia algo de ilícito ou, no mínimo, incomum na transação do feijão, justificando a interpretação.

Estratégias de Interpretação:

1. Leia atentamente o texto: Observe as pistas e o tom do narrador. Note como o humor e a ironia são usados para subverter expectativas.

2. Identifique a intenção do autor: Entenda o contexto e o objetivo do texto, especialmente em contos que utilizam um desfecho inesperado.

3. Preste atenção em detalhes: Elementos como as descrições dos personagens e suas ações são cruciais para compreender o que é literal e o que pode ser interpretado.

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Comentários

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Gabarito B.

  Entraram os dois e deram numa sala pequena e enfumaçada onde, no centro, via-se uma mesa cheia de pequenos pacotes. Por trás dela um sujeito de barba crescida, roupas humildes e ar de agricultor...( Ali estava: um quilo de feijão.)a primeira esta errada, pois no final do testo se tem a certeza de que o homem era realmente agricultor.as outras estão certas.alternativa correta B

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