Assinale a alternativa na qual a palavra “que” tenha sido em...
Instrução: As questões de números 01 a 10 referem-se ao texto abaixo. Os destaques ao longo do texto estão citados nas questões.
Aviãozinho
Por Luís Fernando Verissimo
- A estratégia do falso aviãozinho que todas as mães do mundo ― literalmente: todas ―
- usam para convencer o bebê a comer sua papinha e é tão antiga quanto o próprio avião, não
- tem nenhuma lógica. Para começar, é pouco provável que um bebê na idade de comer papinha
- sequer saiba o que é um avião. A mãe fazer o ruído do motor enquanto aproxima o
- pseudoaviãozinho da sua boca não ajuda em nada, o bebê também não sabe como é barulho de
- avião. Para ele, aquilo é apenas outro barulho de mãe.
- Em segundo lugar, não há qualquer razão para um bebê aceitar papinha de um avião que
- não aceitaria de uma colher. No seu universo, avião e colher é a mesma coisa. Navio e colher é
- a mesma coisa. Se o bebê, por um fenômeno de precocidade, se desse conta do surrealismo da
- cena ― "Abre a boquinha que lá vai o aviãozinho"?! ― isso seria mais causa para espanto do
- que para abrir a boca. Quem quer comer papinha com um avião se aproximando da sua boca,
- fazendo barulho?
- Pensando bem, nossa infância era cheia de surrealismo inconsciente, de ameaças e
- sentenças que só não nos paralisavam de medo ou perplexidade porque não pensávamos muito
- a respeito. Não me lembro de ficar muito impressionado com a informação de que eu só não
- perdia a cabeça porque ela estava presa no corpo, por exemplo. Hoje, sim, penso naquela terrível
- possível consequência da minha distração ― ir embora e deixar a cabeça em algum lugar! Ou,
- já que o cérebro estava na cabeça, pelo menos a maior parte, me dar conta de que meu corpo
- tinha me esquecido. Sem poder gritar, sem poder sequer assoviar, já que os pulmões tinham ido
- junto. Uma cabeça abandonada no mundo, incapaz de sequer se alimentar.
- A não ser, claro, que um aviãozinho surgisse, misteriosamente, do passado, carregado
- de papinha, para me salvar. Pulseira dourada Mais lembranças inúteis. Tinha eu meus 7 anos...
- Se você quiser parar por aqui, tudo bem. Não, não, nenhum constrangimento. Vá ler o resto do
- jornal, aqui você só estaria perdendo tempo. O que é isso? Eu entendo. Numa boa. Eu mesmo
- só fico porque preciso botar o ponto final. Mas tinha eu meus 7 anos e morávamos em Los
- Angeles. Meu pai lecionava na UCLA, eu e minha irmã frequentávamos uma escola perto de casa.
- E me apaixonei por uma menina da escola. Uma daquelas paixões dos 7 anos, terrível e, no meu
- caso, secreta e silenciosa. Os donos da casa que alugávamos tinham deixado uma bijuteria mal
- escondida atrás de uns livros, numa prateleira da sala. Uma pulseira dourada dentro de uma
- caixa. Um dia, tomei a decisão. Meu amor justificava tudo, até o crime. Peguei a pulseira e a
- levei, escondida, para a escola. Na saída, entreguei a caixa para ___ menina ― e saí correndo.
- Em casa nunca deram falta da pulseira. A menina nunca disse nada sobre o presente. Eu,
- obviamente, nunca mencionei o fato para ninguém, muito menos para a menina ― com quem,
- aliás, nunca troquei nem um tímido "hello". A história termina aqui. Eu avisei que você ia perder
- tempo. Mas ___ vezes penso naquela pulseira e imagino coisas. Chegar, um dia, nos Estados
- Unidos e alguém da imigração americana consultar um computador e dizer "Há a questão de
- certa pulseira dourada na Califórnia, Mr. Verissimo...". Estar assistindo ___ entrevista de alguma
- atriz famosa na TV e ela contar que um dia, quando tinha 7 anos, um garoto estranho lhe
- entregara uma pulseira e saíra correndo, e mostrar a pulseira dourada, que lhe dera sorte, que
- era responsável pelo seu sucesso, e que ela nunca pudera agradecer... Pelo menos minha vida
- de crimes acabou ali. Post scriptum tipo nada a ver com nada. Muitos anos depois visitei o bairro
- em que morávamos em Los Angeles e fui procurar a escola, palco do meu gesto tresloucado.
- Tinha sido destruída por um terremoto.
(Disponível em: Cultura Genial – https://www.culturagenial.com/cronicas-engracadas-de-luis-fernando-verissimo-comentadas/ – texto adaptado especialmente para esta prova).
Assinale a alternativa na qual a palavra “que” tenha sido empregada como pronome relativo.