Considerando a leitura do terceiro parágrafo do texto, bem c...

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Q519189 Português
      Como diz o outro, preconceito é o diabo. Tanto mais quando as sociedades humanas até hoje não foram capazes de se estruturar nem de se organizar sem ele, isto é, sem alguma forma de negar o próximo. Daí a necessidade de combater o preconceito a cada instante e daí a sua persistência na História, sob formas sucessivas. Vai um, vem outro, muita gente vive dele e para ele, enquanto poucos lutam contra. Na pior hipótese admissível, ele deve ser pelo menos recalcado, disfarçado, porque disfarçando a pessoa acaba por atenuar o seu impacto e não deixa que ele se torne impedimento de relações mais ou menos normais. Por isso costumamos esperar e até exigir que os educadores, os chefes, os líderes, as pessoas que expressam grupos ou são investidas de alguma representação coletiva não manifestem preconceito, para poderem executar bem sua tarefa. Se os têm, que os escondam e não atuem em função deles. 
       Eis por que foi mesmo lamentável o pronunciamento do general Coelho Neto, para quem o cardeal Arns é mau brasileiro, e talvez nem seja brasileiro, por ser contrário à entrada do Brasil na indústria armamentista. Pensando no motivo que teria levado o general a simular dúvida sobre a nacionalidade óbvia de um eminente patrício seu, me ocorre que ele poderia estar exprimindo uma das formas mais arcaicas de preconceito que há no Brasil: a noção que o descendente de estrangeiros, portador de sobrenome não-português, é menos brasileiro. Menos brasileiro em relação a quem? 
       Quando eu era menino, há meio século e mais, ainda florescia este sentimento torto, partilhado automaticamente, quase sem malícia, nem prejuízo das relações do dia a dia, pela maior parte dos descendentes de famílias que eram velhas por aqui. Mas a coisa podia engrossar em certas circunstâncias, porque, como eles se achavam “mais brasileiros", achavam-se também mais donos do país, e quando o estrangeiro ou seu filho faziam qualquer coisa que desagradava — do tipo ganhar dinheiro demais, comprar terras do pessoal antigo, brilhar ou mostrar mais capacidade — havia quem se sentisse vagamente espoliado de um direito virtual. E que podia chegar a ver no caso um desaforo tácito, atentatório, à integridade e ao destino da Nação... 

CANDIDO, A. Preconceito arcaico. (Folha de S.Paulo, 7/4/1982). Texto com adaptações. In: Textos de Intervenção/ Antonio Candido; seleção, apresentação e notas de Vinicius Dantas. São Paulo: Duas Cidades; Ed.34, 2002
Considerando a leitura do terceiro parágrafo do texto, bem como as orientações da prescrição gramatical no que se refere a textos escritos na modalidade padrão da Língua Portuguesa, assinale a alternativa correta.
Alternativas

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O tema central da questão é a análise do uso da pontuação e da interpretação gramatical do texto. Para resolver essa questão, é necessário compreender a função e o efeito de determinados elementos no texto, como a pontuação, a coerência e a coesão, além de uma análise semântica de certas expressões.

A alternativa correta é a D. Vamos entender por quê:

Alternativa D: O uso do adjetivo “virtual” indica que as aspirações possessórias dos que se consideravam "mais brasileiros" não eram vistas como legítimas pelo autor do texto. O adjetivo “virtual” sugere algo que existe apenas em teoria ou forma, mas que não é reconhecido como real ou legítimo. Assim, a escolha dessa palavra pelo autor já é por si mesma uma crítica às pretensões desses grupos. Portanto, a alternativa está correta.

A seguir, vamos analisar porque as outras alternativas estão incorretas:

Alternativa A: A expressão “há meio século e mais” refere-se a um tempo transcorrido. Gramaticalmente, "há" indica tempo passado, enquanto "fazem" não é corretamente aplicado para expressar tempo transcorrido; portanto, a substituição proposta não mantém a correção gramatical.

Alternativa B: O termo “pela maior parte dos descendentes de famílias que eram velhas por aqui” não está sintaticamente relacionado ao verbo “florescer”. A tentativa de intercalar essa expressão quebraria a estrutura gramatical correta do período original.

Alternativa C: Não é obrigatória a utilização de uma vírgula após o segundo travessão, pois a frase já está correta conforme a pontuação do texto original. A vírgula após um travessão seria inadequada nesse caso.

Alternativa E: A substituição de “E que podia” por “E quem pudesse” altera o sentido original da frase e prejudica a coesão com o período anterior, pois transforma a estrutura sintática e altera a função do sujeito na oração.

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Comentários

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Qual o erro da B?

Fagner Santos, 


Não é a B porque o termo “pela maior parte dos descendentes de famílias que eram velhas por aqui” não está sintaticamente relacionado ao verbo “florescer”, e sim ao "partilhado" (partilhado por quem? --> OI). Perceba que "este sentimento torto" florescia no autor, de modo que, se o termo “pela maior parte dos descendentes de famílias que eram velhas por aqui” fosse intercalado entre o verbo florescer e o termo “este sentimento torto” (no terceiro parágrafo), então quem estaria florescendo tal sentimento seria os "descendentes de famílias que eram velhas por aqui". 


[ ]s

Porque a letra A esta errada? Alguém poderia explicar.

Raquel, o verbo fazer,  quando tem sentido de tempo transcorrido, não deve ser flexonado. Sempre no singular.

O correto seria: Faz mais de 50 anos.

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