De acordo com a autora, o resgate do casaco
O resgate do casaco
Já entrávamos no restaurante quando minha amiga deu um grito. Tinha esquecido seu casaco no táxi. Vi no seu olho o tamanho da perda. Mulher sabe.
Não era um casaco qualquer. Era daqueles que jamais poderão ser substituídos, roupas energéticas que serão lembradas para todo o sempre. Nem pestanejei. Corri para a rua. O táxi ainda estava parado no semáforo da esquina. Me concentrei na atleta que poderia existir oculta dentro de mim e fiz minha melhor performance nos cem metros rasos.
Quando estava bem perto, o sinal abriu e o táxi acelerou. Tive vontade de chorar. Eu estava quase.
Por muito pouco não o alcancei. Desisti por um momento, ofegante, mas um pequeno engarrafamento parou o carro novamente. Inflei mais uma vez minha esperança atlética e dei o melhor de mim.
Não reconhecia minhas pernas se alternando em tamanha velocidade e agora eu já pensava muito mais na minha capacidade de atingir o que me parecia impossível do que no casaco da minha amiga.
Inacreditavelmente, o carro se pôs de novo em movimento a apenas alguns passos de minhas potentes pernas. Não parei. Não sei o que me deu. Não sei como, mas continuei a correr. Não pude engolir dois fracassos. Fui além. Corri no limite do impossível.
O resgate do casaco virou uma questão de honra, de exercício da esperança duas vezes desafiada. Agora eu corria gritando a plenos pulmões:
— Pare este táxi! Pare este táxi!
Deu certo. Pararam o táxi e eu, quase morrendo, recuperei o precioso casaco de minha amiga.
Quando o coloquei em suas mãos, ela me abraçou e caiu numa crise de choro. Não parava de chorar. Entendi que o casaco não era o que mais importava também para ela, e juntas choramos abraçadas sob os olhares curiosos de nossos maridos.
Tínhamos ambas nos transformado pelo que tinha acontecido. Tão banal e tão revelador.
Minha amiga sempre me fala da história do casaco. Diz que sempre se lembra dela e que já chegou a vesti-lo quando estava prestes a desistir de uma empreitada sem ao menos ter tentado.
Quanto a mim, sei o quanto foi especial aquele momento. Minha esperança em vaivém, tornando-se elástica quando tudo parecia perdido. Uma heroína desconhecida se fazendo valer à minha revelia, desafiada pela frustração de sucessivos quases.
(Denise Fraga. www.folha.uol.com.br. 08.05.2016. Adaptado)
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Vamos analisar a questão de interpretação de texto que foi apresentada. O foco aqui é compreender o tema central do texto e como ele se relaciona com as alternativas propostas.
O enunciado pede que identifiquemos o significado do resgate do casaco segundo a autora. Em questões de interpretação como esta, é crucial prestar atenção às emoções e mudanças de perspectiva descritas no texto.
Alternativa E - "correspondeu à superação de aparentes limitações"
Esta é a alternativa correta. Ao longo do texto, a autora descreve uma experiência que, inicialmente, parecia ser apenas sobre a recuperação de um casaco. No entanto, à medida que a narrativa avança, percebemos que o verdadeiro significado está na superação pessoal. A autora destaca sua capacidade de ir além dos seus limites físicos e mentais, transformando a situação em uma questão de honra e aprendizado pessoal.
Vamos analisar por que as outras alternativas estão incorretas:
A - "despertou nela a vontade de ter uma vida mais ativa": Não há indicação no texto de que o episódio tenha motivado a autora a adotar um estilo de vida mais ativo permanentemente. O foco está mais na superação momentânea.
B - "deu início a sua carreira como atleta profissional": A narrativa não sugere que a autora tenha se tornado uma atleta profissional. A corrida foi um evento isolado e não um ponto de partida para uma nova carreira.
C - "fez com que ela reavaliasse o valor de suas roupas": O texto não aborda uma reavaliação do valor material das roupas, mas sim o valor simbólico e emocional da superação pessoal.
D - "levou-a a ser mais cuidadosa com seus pertences": O texto não menciona que a autora tenha se tornado mais cuidadosa com seus pertences após o incidente.
A chave para resolver esta questão é observar as mudanças emocionais e as reflexões da autora, que vão além do simples resgate de um casaco. Essa prática de leitura atenta e análise das intenções implícitas no texto é essencial para interpretar corretamente questões desse tipo em concursos.
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Comentários
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''Não sei como, mas continuei a correr. Não pude engolir dois fracassos. Fui além. Corri no limite do impossível.''
''Quanto a mim, sei o quanto foi especial aquele momento. Minha esperança em vaivém, tornando-se elástica quando tudo parecia perdido. Uma heroína desconhecida se fazendo valer à minha revelia, desafiada pela frustração de sucessivos quases.''
LETRA E
E- superação de aparentes limitações
"Não reconhecia minhas pernas se alternando em tamanha velocidade e agora eu já pensava muito mais na minha capacidade de atingir o que me parecia impossível do que no casaco da minha amiga."
Viajei no texto que inclusive é muito bonito.
Assertiva (b)
deu início a sua carreira como atleta profissional..
kkkkk . usain bolt ..... (O resgate do casaco)
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