No fragmento “Ele sente amor e gratidão pelo homem.” (7º§), ...

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Q2509592 Português
Um amor conquistado

    Encontrei Ivan Lessa na fila de lotação do bairro e estávamos conversando, quando Ivan se espantou e me disse: olhe que coisa esquisita. Olhei para trás e vi, da esquina para a gente, um homem vindo com seu tranquilo cachorro puxado pela correia. Só que não era cachorro. A atitude toda era de cachorro, e a do homem era a de um homem com o seu cão. Este é que não era. Tinha focinho acompridado de quem pode beber em copo fundo, rabo longo e duro – poderia, é verdade, ser apenas uma variação individual da raça. Ivan levantou a hipótese de quati, mas achei o bicho muito cachorro demais para ser quati, ou seria o quati mais resignado e enganado que jamais vi.

    Enquanto isso, o homem calmamente vindo. Calmamente, não; havia uma tensão nele, era uma calma de quem aceitou luta: seu ar era de um natural desafiador. Não se tratava de um pitoresco; era por coragem que andava em público com o seu bicho. Ivan sugeriu a hipótese de outro animal de que na hora não se lembrou o nome. Mas nada me convencia. Só depois entendi que minha atrapalhação não era propriamente minha, vinha de que aquele bicho já não sabia mais quem ele era, e não podia, portanto, me transmitir uma imagem nítida.

    Até que o homem passou perto. Sem um sorriso, costas duras, altivamente se expondo – não, nunca foi fácil passar diante da fila humana. Fingia prescindir de admiração ou piedade; mas cada um de nós reconhece o martírio de quem está protegendo um sonho.

    – Que bicho é esse? Perguntei-lhe, e intuitivamente meu tom foi suave para não feri-lo com uma curiosidade. Perguntei que bicho era aquele, mas na pergunta o tom talvez incluísse: “por que é que você faz isso? Que carência é essa que faz você inventar um cachorro? E por que não um cachorro mesmo, então? Pois se os cachorros existem! Ou você não teve outro modo de possuir a graça desse bicho senão com uma coleira? Mas você esmaga uma rosa se apertá-la com força!”. Sei que o tom é uma unidade indivisível por palavras, sei que estou esmagando uma rosa, mas estilhaçar o silêncio em palavras é um dos meus modos desajeitados de amar o silêncio, e é assim que muitas vezes tenho matado o que compreendo. (Se bem que, glória a Deus, sei mais silêncio que palavras.)

    O homem, sem parar, respondeu curto, embora sem aspereza. E era quati mesmo. Ficamos olhando. Nem Ivan nem eu sorrimos, ninguém na fila riu – esse era o tom, essa era a intuição. Ficamos olhando.

    Era um quati que se pensava cachorro. Às vezes, com seus gestos de cachorro, retinha o passo para cheirar as coisas, o que retesava a correia e retinha um pouco o dono, na usual sincronização de homem e cachorro. Fiquei olhando esse quati que não sabe quem é. Imagino: se o homem o leva para brincar na praça, tem uma hora que o quati se constrange todo: “mas, santo Deus, por que é que os cachorros me olham tanto?”. Imagino também que, depois de um perfeito dia de cachorro, o quati se diga melancólico, olhando as estrelas; “que tenho afinal? Que me falta? Sou tão feliz como qualquer cachorro, por que então este vazio, esta nostalgia? Que ânsia é esta, como se eu só amasse o que não conheço?”. E o homem, o único a poder livrá-lo da pergunta, esse homem nunca lhe dirá para não perdê-lo para sempre.

    Penso também na iminência de ódio que há no quati. Ele sente amor e gratidão pelo homem. Mas por dentro não há como a verdade deixar de existir: e o quati só não percebe que o odeia porque está vitalmente confuso.

    Mas se ao quati fosse de súbito revelado o mistério de sua verdadeira natureza? Tremo ao pensar no fatal acaso que fizesse esse quati inesperadamente defrontar-se com outro quati, e nele reconhecer-se, ao pensar nesse instante em que ele ia sentir o mais feliz pudor que nos é dado: eu... nós... Bem sei, ele teria direito, quando soubesse, de massacrar o homem com o ódio pelo que de pior um ser pode fazer a outro ser – adulterar-lhe a essência a fim de usá-lo. Eu sou pelo bicho, tomo o partido das vítimas do amor ruim. Mas imploro ao quati que perdoe o homem, e que o perdoe com muito amor. Antes de abandoná-lo, é claro.

(LISPECTOR, Clarice. Elenco de cronistas modernos – 25ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2013.)
No fragmento “Ele sente amor e gratidão pelo homem.” (7º§), assinale a alternativa correta quanto ao número de sílabas.
Alternativas

Gabarito comentado

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A alternativa A é a correta.

O tema central da questão é Fonologia, mais especificamente, a contagem de sílabas em palavras, o que exige uma compreensão das classificações silábicas das palavras na língua portuguesa. Essa habilidade é crucial para identificar a quantidade de sílabas de cada palavra e classificá-las corretamente.

No fragmento “Ele sente amor e gratidão pelo homem”, precisamos analisar a quantidade de sílabas das palavras. A questão pede para identificar uma palavra trissílaba, ou seja, uma palavra que possui três sílabas.

Analisando cada palavra do fragmento, temos:

  • Ele - Dissílaba (2 sílabas)
  • sente - Dissílaba (2 sílabas)
  • amor - Dissílaba (2 sílabas)
  • e - Monossílaba (1 sílaba)
  • gratidão - Trissílaba (3 sílabas)
  • pelo - Dissílaba (2 sílabas)
  • homem - Dissílaba (2 sílabas)

A palavra que possui três sílabas é "gratidão", portanto, a alternativa A está correta, pois se refere a uma palavra trissílaba.

Justificativas das alternativas incorretas:

  • B - Três palavras dissílabas: Embora o fragmento contenha palavras dissílabas, como "ele", "sente", "amor", "pelo", "homem", a questão pede especificamente uma trissílaba, não três dissílabas.
  • C - Uma palavra polissílaba: Uma palavra polissílaba contém quatro ou mais sílabas. "Gratidão" tem apenas três sílabas, então não é polissílaba.
  • D - Duas palavras monossílabas: No fragmento, a única palavra monossílaba é "e". A alternativa não se aplica, já que buscamos uma trissílaba.

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Comentários

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ele - 1

sente - 2

amor - 1

e - 1

gratidão - 3

pelo - 2

homem -2

marquei B, q na minha opiniao tb é gabarito

justamente, o gabarito tem mais de uma opção correta

E-le - 2

Sen-te - 2

A-mor - 2

Gra-ti-dão - 3

Pe-lo - 2

Ho-mem - 2

Toda sílaba tem somente uma vogal, sendo assim :

E-le 2 sílaba dissílaba

sen-te 2 sílaba dissílaba

a-mor 2 sílaba dissílaba

e 1 sílaba monossílaba

gra-ti-dão 3 sílaba trissílaba

pe-lo 2 sílaba dissílaba

ho-mem 2 sílaba dissílaba

Gabarito: A

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