Após ler e analisar as palavras em destaque (sublinhadas) é...
Smartphone – o novo cigarro
4 BILHÕES DE PESSOAS TÊM UM – E O TIRAM DO BOLSO MAIS DE 200 VEZES POR DIA. NÃO POR ACASO. ENTENDA COMO AS GIGANTES DA TECNOLOGIA USAM ESTRATÉGIAS DA PSICOLOGIA, DA NEUROLOGIA E ATÉ DOS CASSINOS PARA RANSFORMAR O CELULAR NO OBJETO MAIS VICIANTE QUE JÁ EXISTIU.
Texto: Bruno Garattoni e Eduardo Szklarz
Fumar era normal. As pessoas acendiam o primeiro cigarro logo ao acordar, e repetiam o gesto dezenas de vezes durante o dia, em absolutamente todos os lugares: lojas, restaurantes, escritórios, consultórios, aviões (tinha gente que fumava até no chuveiro). Ficar sem cigarro, nem pensar – tanto que ir sozinho comprar um maço para o pai ou a mãe, na padaria da esquina, era um rito de passagem para muitas crianças[...]
O cigarro foi, em termos absolutos, a coisa mais viciante que a humanidade já inventou. Hoje ele é execrado, com razão, e cenários assim são difíceis até de imaginar. Olhamos para trás e nos surpreendemos ao perceber como as pessoas se deixavam escravizar, aos bilhões, por algo tão nocivo. Enquanto fazemos isso, porém, vamos sendo dominados por um vício ainda mais onipresente: o smartphone.
Quatro bilhões de pessoas, ou 51,9% da população global, têm um, de acordo com uma estimativa da empresa sueca Ericsson. E o pegam em média 221 vezes por dia, segundo uma pesquisa feita pela consultoria inglesa Tecmark. O número de toques diários no aparelho é ainda mais impressionante: são 2.600, segundo a empresa de pesquisa Dscout Research. O smartphone já vicia mais gente, e de forma mais intensa, do que o cigarro.
Vivemos grudados em nossos smartphones porque eles são úteis e divertidos. Mas o que pouca gente sabe é o seguinte: por trás dos ícones coloridos e apps de nomes engraçadinhos, as gigantes da tecnologia fazem um esforço consciente para nos manipular, usando recursos da psicologia, da neurologia e até dos cassinos. “O smartphone é tão viciante quanto uma máquina caça-níqueis”, diz o americano Tristan Harris. E o caça-níqueis, destaca ele, é o jogo que mais causa dependência: vicia três a quatro vezes mais rápido que outros tipos de aposta. “Estamos colocando toda a humanidade no maior experimento psicológico já feito, sem nenhum controle.” […]
As máquinas de caça-níqueis funcionam exatamente assim. A pessoa puxa a alavanca e às vezes ganha moedas, outras vezes nada. Isso aumenta o desejo de continuar jogando. Com o smartphone, a lógica é a mesma porque você nunca sabe ao certo quantas unidades de conteúdo (posts, fotos, likes etc.) irá receber. “Para maximizar o vício, tudo o que os designers de apps precisam fazer é vincular uma ação do usuário a uma recompensa variável”, diz Tristan Harris…
“As recompensas variáveis parecem manter o cérebro ocupado, desarmando suas defesas e criando uma oportunidade para plantar as sementes de novos hábitos. Estranhamente, nós percebemos esse estado de transe como divertido”, diz o desenvolvedor Nir Eyal no livro Hooked: How to Build HabitForming Products (“Fisgado: como construir produtos que formam hábitos”, inédito no Brasil). “Isso acontece porque nosso cérebro está programado para procurar incessantemente pela próxima recompensa.”
Esse mecanismo funciona graças à ação da dopamina. O cérebro libera doses desse neurotransmissor quando comemos algo gostoso, fazemos exercício ou interagimos com outras pessoas, por exemplo. Isso era importante durante a evolução, pois a dopamina nos recompensa por comportamentos benéficos e nos motiva a repeti-los.
O problema é que esse processo pode ser corrompido pela ação de drogas como a nicotina e a cocaína. Essas substâncias fazem o cérebro liberar dopamina mesmo que não haja um comportamento benéfico. O smartphone também.
E as empresas de tecnologia sabem disso. “Nós pensamos: como
podemos consumir o máximo possível do seu tempo e da sua
atenção? Precisamos dar uma pequena dose de dopamina de
vez em quando, mostrando que alguém gostou ou comentou uma foto, um post ou o que for”, revelou Sean Parker, fundador do
Facebook, ao comentar o processo de criação da plataforma […]
Daqui a alguns anos, talvez olhemos para nosso uso do
smartphone com a mesma incredulidade que hoje dedicamos ao
tabagismo desenfreado de antigamente (“sério que as pessoas
faziam isso?”). Mas não é garantido. Pode ser que tudo continue
como está. E vivamos como o Sísifo da mitologia grega,
condenado pelos deuses a rolar uma pedra até o alto da
montanha (assim que ele chegava ao topo, a pedra caía,
obrigando-o a recomeçar a tarefa). Hoje, essa pedra é a telinha
que você leva no bolso. Uma tela eterna, cuja rolagem nunca
termina.
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Interpretação do tema: A questão aborda a morfologia, especificamente a análise de pronomes e outros elementos gramaticais presentes no texto. O objetivo é identificar a função de algumas palavras destacadas e compreender suas classificações dentro da língua portuguesa.
Alternativa Correta: A alternativa D é a correta. A frase “Uma tela eterna, cuja rolagem nunca termina.” apresenta o termo cuja como um pronome relativo. Segundo a Gramática Normativa, os pronomes relativos se referem a um substantivo anterior, neste caso, tela. É importante destacar que, em construções com pronomes relativos, não se deve usar artigo definido entre o pronome e o substantivo que ele representa, o que confirma a correção dessa alternativa.
Justificativa das alternativas incorretas:
Alternativa A: “Olhamos para trás”: O termo trás é um advérbio de lugar, e não de intensidade. Portanto, a classificação apresentada está errada.
Alternativa B: “Vamos sendo dominados por um vício ainda mais onipresente: o smartphone”: O termo ainda é um advérbio de tempo e não uma conjunção concessiva. Assim, a descrição está incorreta.
Alternativa C: “Essas substâncias fazem o cérebro liberar dopamina mesmo que não haja um comportamento benéfico.” O termo mesmo é um advérbio e não um pronome pessoal. A função dele aqui é indicar concessão, o que não confere a classificação dada.
Alternativa E: “E vivamos como o Sísifo da mitologia grega, condenado pelos deuses a rolar uma pedra.” A palavra grega é um adjetivo que qualifica o substantivo mitologia, não um advérbio de lugar. Portanto, a função apresentada está errada.
Com isso, a alternativa D é a única que se alinha corretamente às normas gramaticais e à função do termo destacado.
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Comentários
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Gabarito D
“Uma tela eterna, cuja rolagem nunca termina.” : Pronome relativo em que não se deve usar artigo definido entre o referido pronome e o substantivo subsequente.
Pronome relativos: que, quem, onde, o qual, os quais, a qual, as quais, cujo, cujos, cuja, cujas, quanto, quantos, quantas.
Trás = Advérbio de lugar
Ainda = Advérbio de tempo
Mesmo = Tem a função de advérbio, com o sentido de “até”, de “de fato”, ”realmente”, ou, ainda, “justamente''
Grega = Adjetivo
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