SEXA— Pai...— Hmmm?— Como é o feminino de sexo?— O quê?— O f...

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Q2750534 Português

SEXA


— Pai...

— Hmmm?

— Como é o feminino de sexo?

— O quê?

— O feminino de sexo.

— Não tem.

— Sexo não tem feminino?

— Não.

— Só tem sexo masculino?

— É. Quer dizer, não. Existem dois sexos.

Masculino e feminino.

— E como é o feminino de sexo?

— Não tem feminino. Sexo é sempre masculino.

— Mas tu mesmo disse que tem sexo masculino e

feminino.

— O sexo pode ser masculino ou feminino. A

palavra "sexo" é masculina. O sexo masculino, o

sexo feminino.

— Não devia ser "a sexa"?

— Não

— Por que não?

— Porque não! Desculpe. Porque não. "Sexo" é

sempre masculino.

— O sexo da mulher é masculino?

— É. Não! O sexo da mulher é feminino.

— E como é o feminino?

— Sexo mesmo. Igual ao do homem.

— O sexo da mulher é igual ao do homem?

— É. Quer dizer... Olha aqui. Tem o sexo

masculino e o sexo feminino, certo?

— Certo.

— São duas coisas diferentes.

— Então como é o feminino de sexo?

— É igual ao masculino.

— Mas não são diferentes?

— Não. Ou, são! Mas a palavra é a mesma. Muda

o sexo, mas não muda a palavra.

— Mas então não muda o sexo. É sempre

masculino.

— A palavra é masculina.

— Não. "A palavra' é feminino. Se fosse masculina

seria "o pal..."

— Chega! Vai brincar, vai.

O garoto sai e a mãe entra. O pai comenta:

— Temos que ficar de olho nesse guri...

— Por quê?

— Ele só pensa em gramática.


Luís Fernando Veríssimo – Crônicas para se ler na escola


O final inesperado da crônica de Veríssimo possibilita a indagação sobre que conceito de gramática está em jogo no texto. Autores como Sírio Possenti, em “Passeio gramatical dirigido”, e Irandé Antunes em “Aula de Português: encontro e interação”, definem diferentes abordagens de gramática. Dentre as noções apresentadas pelos autores, a que mais se aproxima da noção que a crônica deixa entrever é:

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