Considere as afirmações: I. De acordo com o texto, a separaç...
Rubem Braga
E no meio dessa confusão alguém partiu sem se
despedir; foi triste. Se houvesse uma despedida talvez
fosse mais triste, talvez tenha sido melhor assim, uma
separação como às vezes acontece em um baile de
carnaval - uma pessoa se perde da outra, procura-a por
um instante e depois adere a qualquer cordão. É melhor
para os amantes pensar que a última vez que se
encontraram se amaram muito - depois apenas aconteceu
que não se encontraram mais. Eles não se despediram, a
vida é que os despediu, cada um para seu lado - sem
glória nem humilhação.
Creio que será permitido guardar uma leve tristeza, e
também uma lembrança boa; que não será proibido
confessar que às vezes se tem saudades; nem será odioso
dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz um
inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; e um
indefinível remorso; e um recôndito despeito.
E que houve momentos perfeitos que passaram, mas
não se perderam, porque ficaram em nossa vida; que a
lembrança deles nos faz sentir maior a nossa solidão; mas
que essa solidão ficou menos infeliz: que importa que uma
estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de nossa
noite e de nosso confuso sonho?
Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros
verões; se eles vierem, nós os receberemos obedientes
como as cigarras e as paineiras - com flores e cantos. O
inverno - te lembras - nos maltratou; não havia flores,
não havia mar, e fomos sacudidos de um lado para outro
como dois bonecos na mão de um titeriteiro inábil.
Ah, talvez valesse a pena dizer que houve um
telefonema que não pôde haver; entretanto, é possível que
não adiantasse nada. Para que explicações? Esqueçamos
as pequenas coisas mortificantes; o silêncio torna tudo
menos penoso; lembremos apenas as coisas douradas e
digamos apenas a pequena palavra: adeus.
A pequena palavra que se alonga como um canto de
cigarra perdido numa tarde de domingo.
I. De acordo com o texto, a separação de alguém traz tristeza, mas os bons momentos podem permanecer na memória.
II. O autor despediu-se de alguém no baile de carnaval e, agora, no inverno, sente falta dela.
De acordo com o texto, está correto o que se afirma em:
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a primeira linha do texto responde o item II: "..E no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir..."
não houve despedita, portanto item errado.
e letra A correta
Alternativa I - CORRETO, pode ser justificada pelos seguintes fragmentos: "E no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir; foi triste. [...]" e "que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades [...]".
Alternativa II - ERRADO, pois o autor faz apenas uma comparação: "uma separação como às vezes acontece em um baile de carnaval - uma pessoa se perde da outra [...]".
I. De acordo com o texto, a separação de alguém traz tristeza, mas os bons momentos podem permanecer na memória.
O texto afirma: "Creio que será permitido guardar uma leve tristeza, e também uma lembrança boa".
Assim como: "[...] que importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de nossa noite e de nosso confuso sonho?"
Logo, podemos afirmar que há tristeza com a separação e que os momentos bons continuam na nossa memória (ao lembrar à noite e nos sonhos).
item verdadeiro
II. O autor despediu-se de alguém no baile de carnaval e, agora, no inverno, sente falta dela.
A parte que fala do carnaval é a seguinte "[...] uma separação como às vezes acontece em um baile de carnaval - uma pessoa se perde da outra, procura-a por um instante e depois adere a qualquer cordão." Trata-se de uma comparação metafórica entre a partida sem despedida e o desencontro no carnaval.
Além disto, não se trata de sentir falta da pessoa que se foi no inverno. O autor faz uma comparação entre as estações e as fases do relacionamento (verão - bons momentos; inverno - momentos conturbados, tristes): "O inverno - te lembras - nos maltratou; não havia flores, não havia mar, e fomos sacudidos de um lado para outro como dois bonecos na mão de um titeriteiro inábil."
item falso
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