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Q589458 Português

                                Arquimedes, o bom repórter

      Faz parte do meu ofício inventar. Mentir, sem qualquer consideração teológica. Preencher as páginas em branco, esforçando-me por criar heróis mesquinhos e sublimes. Um ofício que se funde com as adversidades do cotidiano e que, pautado por uma estética insubordinada, comporta todas as escalas morais, afugenta os ideários uniformizadores.

      A literatura brota de todos os homens, de todas as épocas. Sua ambígua natureza determina que os escritores integrem uma raça fadada a exceder-se. Seus membros, como uma seita, vivem na franja e no âmago da realidade, que constrange e ilumina ao mesmo tempo. E sem a qual a criação fenece. A arte dos escritores arregimenta a sucata e o sublime, o que se oxida em meio aos horrores, o que se regenera sob o impulso dos suspiros de amor. Apalpa a matéria secreta que sangra e aloja-se nos porões da alma.

      Há muito sei que a escrita não poupa o escritor. E que, ao ser um martírio diário, coloca-o a serviço do real. E enquanto este mero exercício de acumular palavras, de dar-lhes sentido, for um ato de fé no humano, a literatura seguirá sendo protagonista do enigma que envolve vida e morte. Uma arte que geme, emite sinais, desenha signos, e que constitui uma salvaguarda civilizadora perante a barbárie. Em cujas páginas batalha-se pelo provável entendimento entre seres e situações intoleráveis. Como se por meio de certos recursos estéticos fosse possível conciliar antagonismos, praticar a tolerância, ativar sentimentos, testar os limites da linguagem e da ambiguidade da solidão humana. Salvar, enfim, os seres trágicos que somos.

    Não sei ser outra coisa que escritora. Já pelas manhãs, enquanto crio, apalpo emoções benfazejas, sentimentos instáveis, a substância sob o abrigo do sinistro e da esperança. Tudo o que a realidade abusiva refuta. É mister, contudo, combater os expurgos estéticos para narrara história jamais contada.

      A criação literária, porém, que se faz à sombra da comunidade humana, aproximou-me sempre daqueles cujas experiências pessoais eram vizinhas no ato de escrever. Por isso, desde a infância, senti-me irmanada aos jornalistas no uso das palavras e na maneira de captar o mundo. E a tal ponto vinculada aos jornais que nos vinham a casa, já pelas manhãs, que disputava com o pai o privilégio de lê-los antes dele. De aproximar-me destas páginas vivazes que, arrancando-me da sonolência, proclamavam que a vida despertara antes de mim. O drama humano não tinha instante para começar, precedera-me há horas, há milênios.

PINON, Nélida. Aprendiz de Homero. Rio de Janeiro: Editora Record,2008,p.81-82,fragmento.

Nos fragmentos do texto transcritos a seguir, foram feitas alterações no em prego dos sinais de pontuação. A alteração foi feita em consonância com as normas de pontuação em:
Alternativas

Gabarito comentado

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A alternativa correta é a E. Vamos entender o motivo:

Alternativa E:

O uso dos sinais de pontuação nesta frase está correto e de acordo com as normas gramaticais. A utilização dos dois pontos é apropriada para introduzir uma explicação ou uma lista, e aqui, ele introduz uma explicação detalhada do tempo que o drama humano precede o narrador: "há horas, há milênios". Portanto, esta alternativa está correta.

Alternativas incorretas:

A - É mister contudo, com bater os expurgos estéticos, para narrar a história jamais contada.

O correto seria colocar uma vírgula após "mister" e antes de "contudo" para separar a oração adverbial. Além disso, há um erro de separação entre "com" e "bater", que deveria estar junto ("combater"). A frase correta seria: "É mister, contudo, combater os expurgos estéticos para narrar a história jamais contada."

B - Salvar enfim os seres trágicos, que somos.

O uso da vírgula antes de "que somos" está incorreto. A oração "que somos" é uma oração restritiva, e não deve ser separada por vírgula. A frase correta seria: "Salvar enfim os seres trágicos que somos."

C - A arte dos escritores, arregimenta a sucata e o sublime: o que se oxida em meio aos horrores; o que se regenera sob o impulso dos suspiros de amor.

A vírgula após "escritores" está incorreta, pois não há necessidade de separar o sujeito do predicado. A frase correta seria: "A arte dos escritores arregimenta a sucata e o sublime: o que se oxida em meio aos horrores; o que se regenera sob o impulso dos suspiros de amor."

D - E que: ao ser um martírio diário coloca-o a serviço do real.

Os dois pontos após "que" estão incorretos. A frase deve utilizar uma vírgula para separar a oração subordinada. A frase correta seria: "E que, ao ser um martírio diário, coloca-o a serviço do real."

Esses são os pontos principais sobre o uso adequado da pontuação conforme as normas gramaticais.

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Comentários

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letra E .

Utiliza-se para indicar  explicação, esclarecimento ou resumo do que foi dito.

Nesse caso, indica uma explicação do que já havia sido dito.

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