Em seu texto, o autor empregou frases em linguagem figurada...
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Ano: 2024
Banca:
EVO Concursos
Órgão:
Câmara de Rio Casca - MG
Provas:
EVO Concursos - 2024 - Câmara de Rio Casca - MG - Assessor Contábil
|
EVO Concursos - 2024 - Câmara de Rio Casca - MG - Assessor Jurídico |
EVO Concursos - 2024 - Câmara de Rio Casca - MG - Diretor Geral |
Q3144247
Português
Texto associado
TEXTO 1
A mania nacional da transgressão leve
Pequenos delitos são transgressões leves que
passam impunes e, no Brasil, estão tão
institucionalizados que os transgressores nem
têm ideia de que estão fazendo algo errado. Ou
então acham esses "miniabusos" irresistíveis,
apesar de causarem "minidanos" e/ ou levarem
a delitos maiores. Esses maus exemplos são
também contagiosos. E, em uma sociedade na
qual proliferam, ser um cidadão-modelo exige
que se reme contra uma poderosa maré ou que
se beire a santidade.
Alguns pequenos delitos -fazer barulho
em casa a ponto de incomodar os vizinhos ou
usar as calçadas como depósito de lixo e de cocô
de cachorro- diminuem a qualidade de vida em
pequenas, mas significativas, doses. Eles
ilustram a frase do escritor Millôr Fernandes:
"Nossa liberdade começa onde podemos impedir
a dos outros".
No ano passado, o grupo de
adolescentes que furou a enorme fila para
assistir ao show gratuito de Naná Vasconcelos,
na qual eu e outros esperávamos por horas,
impediu nossa liberdade. Os jovens receberam
os ingressos gratuitos que, embora devessem
ser nossos, se esgotaram antes de chegarmos à
bilheteria.
A frase de Millôr também cai como uma
luva para o casal que recentemente pediu a um
amigo -na minha frente, na fila das bebidas, no
intervalo de uma peça- que comprasse comes e
bebes para ambos. O fura-fila indireto me irritou
não só porque demorou mais para me
atenderem, mas também porque o segundo ato
estava prestes a começar. Qual é a diferença
deles para os motoristas que me ultrapassam
pelo acostamento nas estradas e depois
furam que dizer daqueles motoristas que
costuram atrás das ambulâncias?
Outros pequenos delitos causam danos
porque representam uma pequena parte da
reação em cadeia que corrói o tecido social. Os
brasileiros que contribuem para a rede de
consumo de drogas não são apenas os que as
compram, mas até os que as consomem de vez
em quando em festas. Uma simples tragada liga
você, mesmo que de modo ínfimo, ao traficante
e à bala perdida, mas atos aparentemente tão
inócuos e difíceis de condenar nos forçam a
pensar no que constitui um pequeno delito. Por
exemplo, que dano social pode ser causado pelo
roubo de "lembrancinhas" -de toalhas e cinzeiros
de hotel a cobertores de companhias aéreas?
Bem, os hotéis e companhias aéreas
compensam o custo de substituir esses objetos
aumentando levemente o preço. Os varejistas
fazem o mesmo para compensar as perdas com
pequenos furtos.
Outros pequenos delitos são mais fáceis
de classificar, mas igualmente tentadores de
cometer. Veja o caso da pessoa que não diz ao
caixa que recebeu por engano uma nota de R$
50 em vez da correta nota de R$ 10. Ou do
garoto que obedece ao trocador, passa por baixo
da roleta e lhe passa uma nota de R$ 1 em vez
de pagar à empresa de ônibus R$ 1,60. Esse
suborno não é igual a pagar à polícia uma
propina para se safar? Essas caixinhas não
seriam também crias do famoso caixa dois, que
já virou uma instituição? Um dos meus vizinhos
disse que alguns desses pequenos delitos, como
vários tipos de caixa dois, são fruto da
necessidade. Ele escreve, embora não assine,
monografias para que universitários
preguiçosos/ocupados terminem seus cursos. É
assim que põe comida na mesa. Apesar de
defender sua atividade antiética dizendo que "a
fome também é antiética", ele bem que poderia
perder 20 quilos.
Outro vizinho vendeu sua cobertura no
Rio com uma vista espetacular da floresta da
Tijuca porque descobriu que, no prazo de um
ano, um arranha-céu seria construído, acabando
com a vista e desvalorizando o imóvel em R$ 50
mil. Ele disse isso aos compradores? Não. E eu
também não considero esse delito tão pequeno
diante do valor do prejuízo.
Apesar de os delitos pequenos estarem
institucionalizados demais para notar ou serem
tentadores demais para resistir, dizer "não" a
eles beneficia a sociedade como um todo. E um
"não" vigoroso o bastante pode alertar os
distraídos e os fracos de espírito para que, em
uma sociedade que se guia pela "lei de Gerson",
nossa bússola moral possa nos apontar o
caminho.
MICHAEL KEPP, jornalista norte-americano radicado há 21
anos no Brasil, é autor do livro de crônicas "Sonhando com
Sotaque -Confissões e Desabafos de um Gringo Brasileiro"
(ed. Record)
Em seu texto, o autor empregou frases em linguagem figurada. Releia os seguintes trechos:
“[…] ser um cidadão modelo exige que se reme contra uma poderosa maré ou que se beira a santidade. Apesar de os realistas pequenos estarem institucionalizados demais para notar […] dizer ‘não’ a eles beneficia a sociedade como um todo. E um ‘não’ vigoroso o bastante pode alertar os distraídos e os fracos de espírito para que, em uma sociedade que se guia pela’ lei de Gerson, nossa bússola moral possa nos apontar o caminho”
Marque a alternativa que corresponde ao significado de: “Alertar os distraídos […] para que […] nossa bússola moral possa apontar o caminho.
“[…] ser um cidadão modelo exige que se reme contra uma poderosa maré ou que se beira a santidade. Apesar de os realistas pequenos estarem institucionalizados demais para notar […] dizer ‘não’ a eles beneficia a sociedade como um todo. E um ‘não’ vigoroso o bastante pode alertar os distraídos e os fracos de espírito para que, em uma sociedade que se guia pela’ lei de Gerson, nossa bússola moral possa nos apontar o caminho”
Marque a alternativa que corresponde ao significado de: “Alertar os distraídos […] para que […] nossa bússola moral possa apontar o caminho.