Ao ouvir o erro de concordância na fala do Gaúcho, “Nós vin...
Pechada
1 O apelido foi instantâneo. No primeiro dia de aula, o aluno novo já estava sendo chamado de “Gaúcho”. Porque era gaúcho. Recém-chegado do Rio Grande do Sul, com um sotaque carregado.
2 — Aí, Gaúcho!
3 — Fala, Gaúcho!
4 Perguntaram para a professora por que o Gaúcho falava diferente. A professora explicou que cada região tinha seu idioma, mas que as diferenças não eram tão grandes assim. Afinal, todos falavam português. Variava a pronúncia, mas a língua era uma só. E os alunos não achavam formidável que num país do tamanho do Brasil todos falassem a mesma língua, só com pequenas variações?
5 — Mas o Gaúcho fala “tu”! — disse o gordo Jorge, que era quem mais implicava com o novato.
6 — E fala certo — disse a professora. — Pode-se dizer “tu” e pode-se dizer “você”. Os dois estão certos. Os dois são português.
7 O gordo Jorge fez cara de quem não se entregara.
8 Um dia o Gaúcho chegou tarde na aula e explicou para a professora o que acontecera.
9 — O pai atravessou a sinaleira e pechou.
10 — O quê?
11 — O pai. Atravessou a sinaleira e pechou.
12 A professora sorriu. Depois achou que não era caso para sorrir. Afinal, o pai do menino atravessara uma sinaleira e pechara. Podia estar, naquele momento, em algum hospital. Gravemente pechado. Com pedaços de sinaleira sendo retirados do seu corpo.
13 — O que foi que ele disse, tia? — quis saber o gordo Jorge.
14 — Que o pai dele atravessou uma sinaleira e pechou.
15 — E o que é isso?
16 — Gaúcho... Quer dizer, Rodrigo: explique para a classe o que aconteceu.
17 — Nós vinha...
18 — Nós vínhamos.
19 — Nós vínhamos de auto, o pai não viu a sinaleira fechada, passou no vermelho e deu uma pechada noutro auto.
20 A professora varreu a classe com seu sorriso. Estava claro o que acontecera? Ao mesmo tempo, procurava uma tradução para o relato do gaúcho. Não podia admitir que não o entendera. Não com o gordo Jorge rindo daquele jeito.
21 “Sinaleira”, obviamente, era sinal, semáforo. “Auto” era automóvel, carro. Mas “pechar” o que era? Bater, claro. Mas de onde viera aquela estranha palavra? Só muitos dias depois a professora descobriu que “pechar” vinha do espanhol e queria dizer bater com o peito, e até lá teve que se esforçar para convencer o gordo Jorge de que era mesmo brasileiro o que falava o novato. Que já ganhara outro apelido: Pechada.
22 — Aí, Pechada!
23 — Fala, Pechada!
(VERÍSSIMO, Luiz Fernando. In www.revistaescola.abril.com.br)
Ao ouvir o erro de concordância na fala do Gaúcho, “Nós vinha...” (17º §), a professora corrigiu: “Nós vínhamos” (18º §).
Nas opções abaixo também foram feitas correções de flexão verbal, erros comuns na linguagem coloquial. A correção que NÃO corresponde à norma culta é:
Comentários
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Se você vir.
Letra C. O correto seria:
Se você vir.
A palavra vim existe. É a forma conjugada do verbo vir na 1ª pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo, sendo esta a única forma de utilização correta da palavra vim.
Ex:Eu vim cedo porque não houve aulas.
A locução verbal vai vir é formada pelo verbo auxiliar ir conjugado na 3ª pessoa do singular do presente do indicativo e pelo verbo principal vir, na sua forma infinitiva
Ex:Você vai vir cedo?
A) Arreia o embrulho no chão. / Arria o embrulho no chão. Arrear é um verbo diferente de arriar. O primeiro se refere a colocar arreios em x, y ou z, já o segundo, a descer, baixar algo, o que faz mais sentido com a frase.
B) Você pode vim, que eu espero. / Você pode vir, que eu espero. Eu vim ao QC ontem. Pretérito imperfeito da 1a pessoa do singular. A correção usa um verbo auxiliar (poder) com a forma infinitiva do verbo vir.
C) Se você vê que não dá, não faça / Se você ver que não dá, não faça. Não confundamos o verbo ver, que no subjuntivo da 1a ou 3a pessoa é "vir". O equivalente no verbo vir é "se ele vier". Certo seria: Se você vir que não dá.
D) A professora interviu na discussão. / A professora interveio na discussão. Intervir é derivado de vir. Troque por vir e veja como não faz sentido: ela viu para a discussão / ela veio para a discussão.
E) Ele não se conteu e começou a discussão. / Ele não se conteve e começou a discussão. Mesma coisa da d), só que com "ter": ele não teu paciência e começou a brigar/ele não teve paciência e começou a brigar.
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