Segundo Sarmento (2013, p. 238) “A intertextualidade é o diá...
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Entenda como o coronavírus pode mudar até nosso
jeito de falar português
Walter Porto
O novo coronavírus veio provocar abalos na nossa relação com quase tudo em volta, inclusive com uma
ferramenta de importância que nem sempre levamos
em conta – as palavras. Termos que usávamos raramente, como quarentena e pandemia, se tornaram
correntes ‒ já que pela primeira vez a nossa geração
as vive na pele ‒ e outras expressões entraram com
o pé na porta no léxico do dia a dia, caso de “distanciamento social”, “achatar a curva” e, claro, o próprio
“coronavírus”.
Já outras palavras renovaram sua relevância, ganhando novos significados. “Vacina” é um anseio coletivo
para o futuro, “gripe” se tornou um termo quase politizado, “peste” veio trotando de tempos antigos para
se tornar assombrosamente atual.
O jornal britânico The Guardian conta que o dicionário Oxford teve uma atualização extraordinária no
mês passado para adicionar palavras que tomaram o
discurso global e entraram de supetão na língua inglesa, como “Covid-19”.
Tudo isso planta sementes de mudança no idioma ‒
essa entidade inquieta. Como disse o linguista português Vergílio Ferreira, “a própria língua, como ser
vivo que é, decidirá o que lhe importa assimilar ou
recusar”, cuspindo alguns arranjos novos, engolindo
outros. Me resta imaginar como será o português depois dessas reviravoltas todas.
“Suponho que o que vai pegar mesmo é o que já
pegou, o corona”, diz Deonísio da Silva, escritor e
professor. “O futuro a Deus pertence, mas é difícil
alguém se referir, lembra a Covid? Lembra o Sars, o
coronavírus? A gente lembrará como os tempos do
corona”. O próprio modo de chamar o vírus já é objeto de rinha política e, como lembra Sheila Grillo, “as
palavras nunca são neutras, sempre trazem um recorte da realidade”.
Segundo o professor Deonísio da Silva, o desconhecido total, como uma situação de pandemia, faz com
que aceitemos passivamente a entrada de siglas e
procedimentos científicos nas falas cotidianas “como
um valor absoluto” assim como a invasão dos neologismos, “que chegam à nossa casa mudando tudo”.
“Não é possível que não tenhamos outro modo de
entregar coisas em casa que não seja o 'delivery'”,
afirma ele. “Outra palavra que de repente ficou indispensável é o ‘home office’, quando os portugueses,
que adaptam muito, já usam o ‘teletrabalho.’”
Grillo lembra que, no esforço de tentar explicar fenômenos novos como este, é comum fazer empréstimos de outras línguas e atualizar termos antigos. “Alguns desses termos são impostos meio na marra”, diz
o professor Pasquale Cipro Neto. “Isso é muito chato,
quando o gerente do banco fala comigo que tem um
‘call’, que ‘call’?” E nesses tempos em que a testagem
em massa tem sido um ponto focal de discussão, outro anglicismo tem dominado as notícias, o de que
fulano “testou positivo”. “É traduzido diretamente do
inglês”, diz Pasquale. “Não dá para dizer que é errado, porque o uso legitima a expressão, apesar de não
ser a sintaxe portuguesa padrão. É uma tradução literal que vigora.”
Enquanto estamos no nosso "lockdown" particular,
pedindo delivery pelo app, assistindo a lives e fazendo binge-watching no streaming, as palavras que
usamos ganham vida, amadurecem, apodrecem.
Sem que notemos, transformam-se.
Folha de São Paulo, Ilustrada, 1º mai. 2020. Adaptado.
Segundo Sarmento (2013, p. 238) “A intertextualidade é o diálogo entre textos. Em outras palavras, é a
criação de um novo texto a partir de outros já existentes”.
Texto I
“Suponho que o que vai pegar mesmo é o que já pegou, o corona”, diz Deonísio da Silva, escritor e professor.
Texto II
Considerando-se os dois textos, é correto afirmar que neles a intertextualidade ocorre por meio da
Texto I
“Suponho que o que vai pegar mesmo é o que já pegou, o corona”, diz Deonísio da Silva, escritor e professor.
Texto II
Considerando-se os dois textos, é correto afirmar que neles a intertextualidade ocorre por meio da