A palavra “que” pode ter classificação gramatical diversa de...

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Q1369060 Português
Entre os mundos real e virtual


    Ninguém precisa mais se preocupar em invadir a nossa privacidade. Nós nos expomos em rede global.
    Nosso mundo pós-moderno é fragmentado. Uma de suas expressões mais evidentes é o videoclipe. Enxurrada de flashes, vibrações acústicas, sons distorcidos. Rompe-se a linearidade, enquanto a simultaneidade embaralha passado, presente e futuro. Tudo é simuladamente aqui e agora.
    O Iluminismo, ancorado na literatura, cede lugar à digitalização frenética. Mundo que carece de sentido. Forma que dispensa conteúdo. A performance do artista ultrapassa a arte que ele produz. Seu nome vale mais que seu desempenho. A valoração dá lugar à exaltação.    
    Einstein, que desnudou o mistério do Universo com suas equações, foi sucedido por Steve Jobs, que nos ofereceu maravilhas tecnológicas embaladas de refinamento estético, movidas a velocidade que desafia o cérebro humano.
    Agora a alienação já não resulta de ideologias que distorcem a realidade para nos incutir a mentira como verdade. Basta que sejamos deslocados do real para o virtual. Somos seres que trafegam simultaneamente em dois mundos: o da realidade de nossas necessidades e o da virtualidade de nossos sonhos e desejos.
    Trancados em nossos egos, avessos à sociabilidade, navegamos nas redes sociais que dispensam texto e contexto. Bastam vocábulos desconexos, abreviações, o balbuciar de sinais gráficos que nos conectam com a plateia global que, acomodada no teatro do mundo, desconectada do real, mantém os olhos fixos no palco vazio.
    As grandes narrativas são deletadas por esse tempo desprovido de memória e utopia. O passado passou, o futuro é uma quimera... Só resta o presente que se sucede prisioneiro da circularidade infinita.
    Ninguém ingressa em uma casa sem antes avisar ou ser convidado, marcar hora, identificar-se com o porteiro e justificar a espera e atenção.
    No entanto, centenas de pessoas invadem, pelas redes sociais, o nosso espaço privado, ferem a nossa sensibilidade com ofensas e desaforos, desafiam os nossos valores, jogam-nos na vala comum das emoções cifradas. Tudo se assemelha a um jogo de pingue-pongue com rede, porém sem mesa.
    Viciados em digitalização, aprisionados pela tecnologia que assegura retorno imediato ao capital, perdemos horas e horas da vida atirados ao ringue onomatopaico. Não navegamos, naufragamos. Deixamo-nos aprisionar pelas redes que nos favorecem a evasão de privacidade.
    Ora, ninguém precisa mais se preocupar em invadir a nossa privacidade. Nós mesmos nos expomos em rede global, arrancamos máscaras e roupas, escancaramos nossa indigência cultural e nossa miséria espiritual.
    Como artefato tecnológico, somos também apenas uma forma. Um objeto jogado aleatoriamente no turbulento mar da dessignificação.
    Escravos da virtualidade, acorrentados nas redes, não somos mais capazes de desligar o celular e de nos desligar dele. É ele que nos permite olhar o mundo pela janelinha eletrônica dessa prisão em que nos trancamos, cuja chave jogamos nas águas que cercam a ilha na qual nos isolamos, desprovidos de alteridade e sentido.
(Frei Betto. O Globo, 10/08/2015.)
A palavra “que” pode ter classificação gramatical diversa de acordo com a frase na qual está inserida. Considerando o 4º parágrafo do texto: “Agora a alienação já não resulta de ideologias que distorcem a realidade para nos incutir a mentira como verdade. Basta que sejamos deslocados do real para o virtual. Somos seres que trafegam simultaneamente em dois mundos: o da realidade de nossas necessidades e o da virtualidade de nossos sonhos e desejos.”, assinale a alternativa correta.
Alternativas

Gabarito comentado

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A alternativa correta é a D.

Vamos entender o porquê, analisando cada ocorrência da palavra “que” no 4º parágrafo do texto.

Primeira ocorrência: “Agora a alienação já não resulta de ideologias que distorcem a realidade para nos incutir a mentira como verdade.”

Nesta frase, o “que” é um pronome relativo. Ele substitui o substantivo “ideologias” e introduz uma oração subordinada adjetiva explicativa, que explica algo sobre as ideologias.

Segunda ocorrência: “Basta que sejamos deslocados do real para o virtual.”

Nesta frase, o “que” é uma conjunção subordinativa integrante, introduzindo uma oração subordinada substantiva subjetiva. Ele liga a oração principal “Basta” à oração subordinada “sejamos deslocados do real para o virtual”.

Terceira ocorrência: “Somos seres que trafegam simultaneamente em dois mundos: o da realidade de nossas necessidades e o da virtualidade de nossos sonhos e desejos.”

Novamente, o “que” é um pronome relativo. Ele substitui o substantivo “seres” e introduz a oração subordinada adjetiva restritiva, que dá mais informações sobre os seres.

Portanto, em duas das três ocorrências, o “que” é classificado como pronome relativo, substituindo substantivos anteriormente explicitados (ideologias e seres).

Vamos agora analisar as alternativas incorretas:

A - Apenas na última ocorrência da palavra “que” ocorre a classificação de preposição, sendo fundamental para a coesão textual.

Incorreta. O “que” nunca é classificado como preposição. Nas três ocorrências, ele é pronome relativo (em duas) ou conjunção subordinativa (em uma).

B - As três ocorrências da palavra “que” acompanham substantivo, ou seja, podem ser classificadas como pronome adjetivo.

Incorreta. O “que” não é pronome adjetivo nas três ocorrências. Ele é pronome relativo em duas e conjunção subordinativa em uma.

C - Apenas duas das três ocorrências da palavra “que” acompanham substantivo sendo classificadas como pronome adjetivo.

Incorreta. O “que” não é pronome adjetivo em nenhuma das ocorrências. Nas duas primeiras, ele é pronome relativo, e na segunda, conjunção subordinativa.

D - Em duas das três ocorrências da palavra “que” ocorre a classificação de pronome relativo substituindo substantivo anteriormente explicitado.

Correta. Como vimos, na primeira e na terceira ocorrências, o “que” é um pronome relativo substituindo “ideologias” e “seres”.

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Comentários

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 “Agora a alienação já não resulta de ideologias que ( =as quais = PRONOME RELATIVO) distorcem a realidade para nos incutir a mentira como verdade. Basta que (isso= CONJUNÇÃO INTEGRANTE) sejamos deslocados do real para o virtual. Somos seres que (=os quais= PRONOME RELATIVO) trafegam simultaneamente em dois mundos: o da realidade de nossas necessidades e o da virtualidade de nossos sonhos e desejos.”

Assertiva d

Em duas das três ocorrências da palavra “que” ocorre a classificação de pronome relativo substituindo substantivo anteriormente explicitado.

Não entendi o erro da alternativa "C", embora a "D" me pareça a mais correta. Em dois trechos, temos pronomes relativos que retomam substantivos, respectivamente, "ideologias" e "seres". Portanto, se são pronomes relativos, configurando orações adjetivas restritivas, não devem ser considerados tais pronomes adjetivos também?

Observem:

Ideologias que distorcem a realidade

O pronome relativo “que” substitui seu antecedente, representado pelo vocábulo “ideologias”. Nesse caso, ele exerce a função de sujeito da oração. A mesma coisa ocorre em: Somos seres que trafegam

Ou seja, não se trata apenas de analisar a classe gramatical, mas também a função sintática que ela exerce na oração, pois o pronome relativo QUE, neste caso, tem a função de sujeito da oração, ele faz exatamente isso, substitui o substantivo na oração. Isso ajuda muito.

LETRA D

Se liga aí ..

Quando tu poder trocar o "que" por "ISSO" = conjunção integrante

Quando puder trocar por "qual (ais) " = Pronome relativo..

Qual a função de um pronome relativo?

Substituir um substantivo ...

i) Agora a alienação já não resulta de ideologias que ( AS QUAIS ) distorcem a realidade

ii) Basta ( ISSO ) que sejamos deslocados do real para o virtual.

III) Somos seres ( OS QUAIS ) que trafegam simultaneamente em dois mundos

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outras observações:

E o que são pronomes adjetivos ?

Estão ao lado de substantivos ...

A minha casa

E o que são pronomes substantivos ?

Substituem os substantivos....

Meu pai comprou um carro novo ele o ama mais que tudo.

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José Maria, Material complementar ..

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