No excerto “Naquele domingo, entretanto, por ser o primeiro...
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Ano: 2025
Banca:
Avança SP
Órgão:
FUSAM de Caçapava - SP
Prova:
Avança SP - 2025 - FUSAM de Caçapava - SP - Analista de Suporte |
Q3282311
Português
Texto associado
Leia o texto a seguir para responder à questão.
A primavera chegou
Há um conto escandinavo, escrito por não
sei quem há muitas primaveras, em que o
mordomo se curva respeitosamente e anuncia à
senhora condessa:
– Com a vossa permissão, a primavera
chegou.
– Diga-lhe que seja bem-vinda e pode
permanecer três meses em minhas terras.
Então vem o primeiro domingo da
primavera. E havia um velho mendigo que tinha
uma perna de pau. Suspeitava-se que em sua
mocidade houvesse sido um terrível pirata; de
qualquer maneira era agora apenas um velho
mendigo que pedia esmola todo domingo na
porta da igreja. E havia uma rica velhinha que
todo domingo dava ao mendigo uma grande
moeda de cobre. Naquele domingo, entretanto,
por ser o primeiro da primavera, deu-lhe uma
grande moeda de ouro. O mendigo sorriu e pediu
licença para lhe oferecer uma bela rosa.
– Que rosa tão bela, mendigo. Onde a
colheu?
– Nasceu em minha perna de pau,
senhora.
Guardei apenas isso do conto
escandinavo que li há muitos anos. Lembro-me
ainda vagamente de um casal de namorados que
sai pelo campo – e a primavera é tão linda que
eles esquecem, e voltam mil anos depois, ainda
primaveris, em outra primavera…
Mas isso era na Escandinávia, em um
daqueles países louros e frios. No Rio será que
existe primavera? Proponho que ela exista;
apenas o homem distraído não a vê chegar, nem
a sente; nossa primavera é sutil e para entrar na
cidade não pede licença ao Prefeito.
É claro que falta à nossa gente um pouco
de imaginação para sentir, para viver a
primavera. Essa gente que espera condução em
longas, tediosas filas – por que não aproveita o
tempo da espera para fazer rodas e cantar?
Imagino a cidade sob esse delírio primaveril; os
bondes criariam asas, guiados por condutores de
grandes bigodes líricos, e esvoaçariam no céu azul; na Gávea os cavalos ficariam brincando de
carrossel e as senhoras e cavalheiros correriam
felizes pela pista com flores nos dentes. No
cinema, Gina Lolobrigida sairia da tela e viria
sentar na poltrona ao meu lado:
– Sim, é bem verdade que me amas? Ouvi
o teu suspiro; vi, na penumbra, teus olhos que
brilhavam. Quero ficar junto de ti. Io te voglio
tanto bene!
Eu me assustaria, mostraria meus papéis,
dizendo que devia haver algum engano, eu não
era nenhum artista de cinema, não era nem
mesmo o Aloísio Sales, era apenas um
espectador, o pobre do Braga, obscuro trecho da
realidade brasileira…
Mas ela recitaria:
“Comigo fica ou leva-me contigo
Dos mares à amplidão”.
Iríamos para a amplidão dos mares. E na
volta tomaríamos grandes, imortais, chuveiradas.
Pois na primavera (faça o que quiser a Inspetoria
de Águas) na primavera todos teremos água, pois
nascerão fontes líricas no metal das torneiras e de
nossas banheiras saltarão peixes voadores que se
porão a cantar como verdadeiros gaturamos e nós
todos seremos acqua-loucos de felicidade.
Primavera!
BRAGA, R. A primavera chegou. Manchete, Rio de Janeiro, 1953. Disponível em
<https://cronicabrasileira.org.br/cronicas/13047/a-primavera-chegou>.
No excerto “Naquele domingo, entretanto, por
ser o primeiro da primavera, deu-lhe uma
grande moeda de ouro”, a palavra “entretanto” é
empregada para assinalar uma relação semântica
contrastiva, de oposição, entre o que foi e o que
será dito. O mesmo tipo de relação semântica
também se verifica em: