De qual das figuras de linguagem a seguir se valeu o autor ...
“BERRO AMAZÔNICO”
Falar, já falamos. E não nos ouviram...! Gritar, já gritamos. E não nos ouviram...! Já falamos. Não ouviram...! Já gritamos. Não ouviram...! Então, berramos! Que o nosso berro amazônico possa ser ouvido em todo o Brasil e tenha ressonância pelo mundo para que venhamos a ter o respeito que merecemos e exigimos. Berramos para que a Amazônia conheça, se reconheça e se ame! Berramos para afirmar a nossa luta em defesa dos direitos dos povos e das culturas amazônidas. Berramos para afirmar os valores e as tradições de nossas manifestações artísticas e culturais, que fundam o processo de construção de nossas diversidades e identidades e que constituem o nosso espírito amazônico. Berramos porque somos nós, os amazônidas, os maiores guardiões das nossas riquezas naturais que, historicamente, vem sendo usurpadas por um sistema que tem como meta a destruição do homem e da floresta. Berramos contra a discriminação que nos marginaliza das grandes prioridades nacionais, condenando-nos a receber migalhas orçamentárias ou favores institucionais, notadamente no que se refere às artes e culturas nativas e à preservação de nosso patrimônio histórico e cultural. Berramos contra os meios de comunicação social vinculados às grandes redes que abrem espaço e repercutem informações negativas sobre a Amazônia, ignorando as nossas criação e produção artística e cultural e a nossa capacidade de refletir e propor alternativas eficazes para a Região. Berramos contra todas as formas de discriminação que sofrem as culturas indígenas e negras, bases fundamentais de nossa civilização amazônica, exigindo para elas o mesmo tratamento que queremos para as manifestações de outras etnias. Berramos porque nossa alma transborda a arte, a ciência e a cultura desta região que anseia ser conhecida mundo afora com a expressividade de nossos talentos. Berramos, finalmente, para que o Brasil tome a consciência de que a Amazônia, mais do que sua extensão territorial, possui privilegiada situação na balança comercial brasileira; se não nos querem irmanados, com o devido respeito e igualdade de tratamento, haveremos de construir a nossa própria história.
in O Liberal 16/3/2004