Em observação às regras de concordância verbal, nota-se que ...
Texto
Em um ponto qualquer da praia de Copacabana, o ônibus
para, saltam dois rapazes e uma moça, o senhor de idade
sobe e inadvertidamente pisa o pé de um sujeito de meia-idade, robusto, muito satisfeito com a sua pessoa. O senhor
vira-se e ia pedir desculpas, quando o tal sujeito lhe diz quase
gritando: - Não sabe onde pisa, seu calhorda? O senhor de
idade não contava com aquela brutalidade e fica surpreso.
O outro carrega na mão, acrescentando: - Imbecil! Reação
inesperada do senhor de idade que responde: - Imbecil é a sua
mãe! Enquanto isso, todos os passageiros do ônibus sentem
que vai ocorrer qualquer coisa, provavelmente só desaforo
grosso, mas quem sabe? Talvez umas boas taponas... Diante
do ultraje atirado à genitora, o sujeito suficiente, em vez de
taponas que a maioria dos passageiros esperava, ou de puxar
da faca ou revólver, pergunta indignado ao senhor de idade:
- Sabe com quem está falando? Mas o senhor de idade não
era sopa e retrucou: - Estou falando com um homem, parece...
– Está falando com um delegado! O senhor está preso! – Isso
é o que vamos ver! O sujeito seria mesmo um delegado? Era
a pergunta que todos os passageiros se faziam. Ai deles, era!
E resultado: o delegado voltou-se para o motorista e ordenou:
- Entre pela rua Siqueira Campos e vamos para o distrito! Os
passageiros ficaram aborrecidíssimos com aquela brusca
mudança de itinerário, mas não protestaram. O ônibus para à
porta da delegacia, salta o senhor de idade, salta o delegado,
e este fala ao sentinela: - Leve preso este sujeito por desacato
à autoridade! Nisto o senhor de idade puxa a caderneta de
identificação e diz ao soldado: - Eu sou o general. Prenda este
atrevido! O general volta ao ônibus, comanda ao motorista: -
Vamos embora! O motorista “pisa”. Os passageiros do ônibus
batem palmas.
(BANDEIRA, Manuel. Sabe com quem está falando? Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1990. P672-674 (Adaptado) .