(...) nunca tiveram a obsessão da ordem senão como princípio...

Próximas questões
Com base no mesmo assunto
Q30620 Português
Duas sociedades

Na formação histórica dos Estados Unidos, houve desde
cedo uma presença constritora da lei, religiosa e civil, que
plasmou os grupos e os indivíduos, delimitando os comportamentos
graças à força punitiva do castigo exterior e do
sentimento interior do pecado.

Esse endurecimento do grupo e do indivíduo confere a
ambos grande força de identidade e resistência, mas desumaniza
as relações com os outros, sobretudo os indivíduos de outros
grupos, que não pertençam à mesma lei e, portanto, podem
ser manipulados ao bel-prazer. A alienação torna-se ao mesmo
tempo marca de reprovação e castigo do réprobo; o duro modelo
bíblico do povo eleito, justificando a sua brutalidade com os
não eleitos, os outros, reaparece nessas comunidades de leitores
cotidianos da Bíblia. Ordem e liberdade - isto é, policiamentos
internos e externos, direito de arbítrio e de ação violenta
sobre o estranho - são formulações desse estado de coisas.

No Brasil, nunca os grupos ou os indivíduos encontraram
efetivamente tais formas; nunca tiveram a obsessão da ordem
senão como princípio abstrato, nem da liberdade senão como
capricho. As formas espontâneas de sociabilidade atuaram com
maior desafogo e por isso abrandaram os choques entre a
norma e a conduta, tornando menos dramáticos os conflitos de
consciência.

As duas situações diversas se ligam ao mecanismo das
respectivas sociedades: uma que, sob alegação de enganadora
fraternidade, visava a criar e manter um grupo idealmente
monorracial e monorreligioso; outra que incorpora de fato o
pluralismo étnico e depois religioso à sua natureza mais íntima.
Não querendo constituir um grupo homogêneo e, em consequência,
não precisando defendê-lo asperamente, a sociedade
brasileira se abriu com maior largueza à penetração de grupos
dominados ou estranhos. E ganhou em flexibilidade o que perdeu
em inteireza e coerência.

(Adaptado de Antonio Candido, Dialética da malandragem)
(...) nunca tiveram a obsessão da ordem senão como princípio abstrato Uma outra redação, igualmente clara e correta para a frase acima, será:
Alternativas

Comentários

Veja os comentários dos nossos alunos

Gabarito E

Fiquei em dúvida na C, mas o uso de "diferente" já cria um novo sentido na oração.

GABARITO E

 

Questão rebuscada, mas, no entanto, sabendo diferenciar o uso do SENÃO e SE NÃO, ajuda a analisá-la.

 

Vejamos:

 

 “se não” e “senão” NÃO possuem o mesmo significado, uma vez que não podem ser substituídos pela mesma expressão.

Use “se não” (união da conjunção se + advérbio não) quando puder trocar por “caso não”, “quando não” ou quando a conjunção “se” for integrante e estiver introduzindo uma oração objetiva direta: Perguntei a ela se não queria dormir em minha casa.

Use “senão” quando puder substituir por “do contrário”, “de outro modo”, “caso contrário”, “porém”, “a não ser”, “mas sim”, “mas também”.

alguns exemplos:

a) Você tem de comer toda a comida do prato, senão é desperdício. (de outro modo)
b) Se o clima estiver bom você vai, senão não vai. (do contrário)
c) Não lhe resta outra coisa senão pedir perdão. (a não ser)
d) Se não fosse o trânsito, não teria me atrasado. (caso não)
e) Não fui eu se não der certo. (caso não)

 

Logo, entendi que o "senão" da frase significa "a não ser" denotando restrição, o que, por exclusão, me levou a assinalar letra E como gabarito.

Clique para visualizar este comentário

Visualize os comentários desta questão clicando no botão abaixo