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Q1277477 Português
Atenção: Para responder a questão, considere o texto abaixo.

1     Tenho um sonho que, acho, nunca realizarei: gostaria de ter um restaurante. Mais precisamente: gostaria de ser um cozinheiro. As cozinhas são lugares que me fascinam, mágicos: ali se prepara o prazer. O cozinheiro deve ser psicólogo, conhecedor dos segredos da alma e do corpo. Mas não sei cozinhar. Acho que devido a isso que escrevo. Escrevo como quem cozinha.
2     A relação entre cozinhar e escrever tem sido frequentemente reconhecida pelos escritores. É a própria etimologia que revela a origem comum de cozinheiros e escritores. Nas suas origens, sabor e saber são a mesma coisa. O verbo latino “sapare” significa, a um só tempo, tanto saber quanto ter sabor. Os mais velhos haverão de se lembrar que, num português que não se fala mais, usava- -se dizer de uma comida que ela “sabia bem”.
3     Suponho que Roland Barthes também tivesse uma secreta inveja dos cozinheiros. Se assim não fosse, como explicar a espantosa revelação com que termina um dos seus mais belos textos, A lição? Confessa que havia chegado para ele o momento do esquecimento de todos os saberes sedimentados pela tradição e que agora o que lhe interessava era “o máximo possível de sabor”. Ele queria escrever como quem cozinha – tomava os cozinheiros como seus mestres.
4     A leitura tem de ser uma experiência de felicidade. Por isso que Jorge Luis Borges aconselhou aos seus estudantes que só lessem o que fosse prazeroso: “Se os textos lhes agradam, ótimo. Caso contrário, não continuem, pois a leitura obrigatória é uma coisa tão absurda quanto a felicidade obrigatória”.
5     Esta é a razão por que eu gostaria de ser cozinheiro. É mais fácil criar felicidade pela comida que pela palavra... Os pratos de sua especialidade, os cozinheiros os sabem de cor. Basta repetir o que já foi feito. Mas é justamente isso que está proibido ao escritor. O escritor é um cozinheiro que a cada semana tem de inventar um prato novo. Cada semana que começa é uma angústia, representada pelo vazio de folhas de papel em branco que me comandam: “Escreva aqui uma coisa nova que dê prazer!” Escrever é um sofrimento. A cada semana sinto uma enorme tentação de parar de escrever. Para sofrer menos.

(Adaptado de: ALVES, Rubem. “Escritores e cozinheiros”. O retorno e terno. Campinas: Papirus, 1995, p. 155-158) 
Segundo o texto,
Alternativas

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Diante do comando “segundo o texto", o que se propõe é que o(a) candidato(a) assinale a opção em que se registra a ideia central apresentada pelo autor. Devemos, então, inicialmente, localizá-la no texto e, em seguida, ler as opções na intenção de eliminar aquelas que falham em relação a essa ideia central, seja por extrapolação, divergência ou redução do conteúdo textual:


(1)   extrapolação do conteúdo: quando a informação da opção está além do que se encontra no texto, total ou parcialmente;

(2)   divergências de conteúdo: quando há, na opção, diferença em relação ao conteúdo que se desenvolve no texto;

(3)   redução de conteúdo:  quando a opção destaca parte de uma informação textual em detrimento de todo o conteúdo.


A seguir, resgatemos do texto o fragmento em que se encontra a ideia central.


Fragmento:A relação entre cozinhar e escrever tem sido frequentemente reconhecida pelos escritores. É a própria etimologia que revela a origem comum de cozinheiros e escritores. Nas suas origens, sabor e saber são a mesma coisa. O verbo latino “sapare" significa, a um só tempo, tanto saber quanto ter sabor. Os mais velhos haverão de se lembrar que, num português que não se fala mais, usava- -se dizer de uma comida que ela 'sabia bem'."   


Verificamos que o autor se posiciona em relação à proximidade entre os atos de cozinhar e de escrever. Para fundamentar a sua defesa, ele recorre à etimologia das palavras “sabor" e “saber", descobrindo que o verbo latino “sapare" indicava saberes distintos – o de saber e o de ter sabor. Assim, o escritor é aquele que sabe sobre escrever, e o cozinheiro é o que sabe sobre “ter sabor".

De posse dessas informações, analisemos as opções:


A)   o autor almeja dedicar-se com exclusividade à cozinha, embora alegue não estar inclinado a deixar a atividade profissional de escritor.  

ERRADA.

Note que todo o conteúdo da letra A extrapola o que se apresenta no texto, pois não se afirma que o autor “almeja dedicar-se exclusivamente à cozinha", muito menos que está “inclinado a deixar a atividade profissional de escritor", apesar de, ao final, afirmar que escrever “é um sofrimento", em decorrência da obrigação de se criar algo novo toda semana.


B) em linguagem coloquial, diz-se, de uma comida bem preparada, que ela “sabe bem". 

ERRADA.

Diverge-se de informações originais do texto, pois a expressão “sabe bem", referente à qualificação de alguém que prepara uma boa comida, ou seja, que tem esse “saber", era muito usada no português antigo, e não da linguagem coloquial, a qual é própria de comunicações informais entre pessoas próximas.


C) Roland Barthes, desiludido com a profissão de escritor, exalta a simplicidade do ato de cozinhar. 

ERRADA.

Extrapola a afirmação de que Roland Barthes está desiludido com a profissão de escritor.

Em nenhum momento se encontra essa informação no texto.


D) a atividade de cozinhar, ainda que não exercida profissionalmente, inspira escritores a cultivar a criatividade. 

ERRADA. Extrapola-se quando se menciona ser a atividade de cozinhas “não exercida profissionalmente" e diverge-se quando esta se apresenta como inspiradora para escritores cultivarem a criatividade. Na verdade, o posicionamento do autor é sobre a similaridade entre escrever e cozinhar, já que, em ambos os exercícios, escritor e cozinheiro “preparam o saber".


E) as palavras “sabor" e “saber" derivam, ambas, do verbo latino “sapare", o que sugere afinidade entre cozinheiros e escritores. 

CORRETA.

Como vimos, o verbo latino “sapare" serve de argumentação para o autor demonstrar a tese de que quem cozinha e quem escreve são semelhantes em seus ofícios, pois têm o saber sobre a palavra e sobre a comida, respectivamente, logo dotados desse conhecimento, preparam prazeres para que os consumidores possam “degustar".


Resposta: E

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Comentários

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GABARITO E

As palavras “sabor” e “saber” derivam, ambas, do verbo latino “sapare”, o que sugere afinidade entre cozinheiros e escritores.

GABARITO: E

Esta recorrência está explícita no 2º parágrafo. "O verbo latino “sapare” significa, a um só tempo, tanto saber quanto ter sabor."

As demais alternativas tentam confundir o estudante.

Qualquer erro, contatem-me. ^^

O verbo latino “sapare” significa, a um só tempo, tanto saber quanto ter sabor. Os mais velhos haverão de se lembrar que, num português que não se fala mais, usava- -se dizer de uma comida que ela “sabia bem”.

o texto deixa claro que sapare significa saber e sabor, mas não fala sobre ela ser derivada ter origem nela, isso requer um conhecimento extra texto ou de dedução...

GABARITO: LETRA E

COMENTÁRIO DA PROFESSORA FABIANA ANJOS

Diante do comando “segundo o texto", o que se propõe é que o(a) candidato(a) assinale a opção em que se registra a ideia central apresentada pelo autor. Devemos, então, inicialmente, localizá-la no texto e, em seguida, ler as opções na intenção de eliminar aquelas que falham em relação a essa ideia central, seja por extrapolação, divergência ou redução do conteúdo textual:

(1)   extrapolação do conteúdo: quando a informação da opção está além do que se encontra no texto, total ou parcialmente;

(2)   divergências de conteúdo: quando há, na opção, diferença em relação ao conteúdo que se desenvolve no texto;

(3)   redução de conteúdo:  quando a opção destaca parte de uma informação textual em detrimento de todo o conteúdo.

A seguir, resgatemos do texto o fragmento em que se encontra a ideia central.

Fragmento: “A relação entre cozinhar e escrever tem sido frequentemente reconhecida pelos escritores. É a própria etimologia que revela a origem comum de cozinheiros e escritores. Nas suas origens, sabor e saber são a mesma coisa. O verbo latino “sapare" significa, a um só tempo, tanto saber quanto ter sabor. Os mais velhos haverão de se lembrar que, num português que não se fala mais, usava- -se dizer de uma comida que ela 'sabia bem'."   

De posse dessas informações, analisemos as opções:

A)  O autor almeja dedicar-se com exclusividade à cozinha, embora alegue não estar inclinado a deixar a atividade profissional de escritor. ERRADA.

Extrapola o que se apresenta no texto, pois não se afirma que o autor “almeja dedicar-se exclusivamente à cozinha", muito menos que está “inclinado a deixar a atividade profissional de escritor".

B) Em linguagem coloquial, diz-se, de uma comida bem preparada, que ela “sabe bem". ERRADA.

Diverge-se de informações originais do texto, pois a expressão “sabe bem", referente à qualificação de alguém que prepara uma boa comida, ou seja, que tem esse “saber", era muito usada no português antigo.

C) Roland Barthes, desiludido com a profissão de escritor, exalta a simplicidade do ato de cozinhar. ERRADA.

Extrapola a afirmação de que Roland Barthes está desiludido com a profissão de escritor. Em nenhum momento se encontra essa informação no texto.

D) A atividade de cozinhar, ainda que não exercida profissionalmente, inspira escritores a cultivar a criatividade. ERRADA.

Extrapola-se quando se menciona ser a atividade de cozinhas “não exercida profissionalmente" e diverge-se quando esta se apresenta como inspiradora para escritores cultivarem a criatividade.

E) As palavras “sabor" e “saber" derivam, ambas, do verbo latino “sapare", o que sugere afinidade entre cozinheiros e escritores. CORRETA.

Como vimos, o verbo latino “sapare" serve de argumentação para o autor demonstrar a tese de que quem cozinha e quem escreve são semelhantes em seus ofícios, pois têm o saber sobre a palavra e sobre a comida.

Como alternativa coerente, somente, nos restou a E.

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