De acordo com o texto, a saúde pública no Brasil:
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Ano: 2024
Banca:
Instituto Consulplan
Órgão:
FUNASG - RJ
Provas:
Instituto Consulplan - 2024 - FUNASG - RJ - Técnico de Enfermagem
|
Instituto Consulplan - 2024 - FUNASG - RJ - Agente de Apoio Técnico |
Q3058786
Português
Texto associado
A saúde pública em alerta
Boa alimentação é uma das mais importantes decisões que cada pessoa pode tomar para ter uma vida saudável. O
problema é que, ao se deparar com uma prateleira de supermercado, boa parte da população simplesmente não sabe quais
produtos são saudáveis ou não.
Para dificultar ainda mais, a indústria se vale dessa desinformação e cria embalagens com cores e elementos que dão a
entender que determinado alimento é saudável, quando muitas vezes não é. As informações nutricionais, por seu lado, vêm
escondidas, em letras miúdas, em termos técnicos de difícil compreensão.
A fim de evitar situações como essas, a Anvisa vai aprovar em breve a utilização da rotulagem frontal, em que as
informações nutricionais devem vir na parte da frente das embalagens. O que se discute no momento é o modelo que o Brasil
deve adotar. O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) e diversas outras organizações da sociedade civil defendem
os alertas em triângulos, que indicam o nutriente prejudicial à saúde que determinado produto contém em excesso.
Esse modelo é resultado de pesquisas realizadas desde 2016. Um dos estudos mostrou, por exemplo, que os voluntários
acertaram os ingredientes presentes em altas quantidades em 75,7% das vezes ao serem apresentados à rotulagem com
advertências de triângulos, contra apenas 35,4% de acertos quando consultaram a rotulagem defendida pela indústria.
Os triângulos de advertência são aprovados pelos maiores especialistas no assunto do mundo, incluindo médicos e
nutricionistas. No Chile, onde a advertência foi adotada em 2016, pesquisas revelam que a população passou a compreender
mais sobre a composição nutricional dos alimentos e até mesmo a reduzir o consumo de produtos não saudáveis.
Esse modelo vinha sendo bem-aceito nas discussões com a Anvisa até que, em setembro deste ano, a agência propôs o
design da lupa para a rotulagem, mesmo sem evidências científicas de que esse tipo de advertência seja eficaz e atinja os
objetivos desejados.
Não há nenhum estudo publicado provando que esse é o melhor modelo, nem registro de algum país que já o adotou. No
Canadá, onde está sendo discutido, ele tem sido amplamente criticado por pesquisadores e profissionais de saúde por exigir
que os consumidores leiam e interpretem por si mesmos as informações, o que dá margem para conclusões divergentes por
parte da população.
O fato de os triângulos serem substituídos pelo símbolo da lupa reduz o impacto dos alertas. Uma pesquisa liderada pela
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), publicada neste mês, afirma que símbolos como o triângulo, que
remetem imediatamente a alertas, são mais eficientes para comunicar que os produtos têm uma alta quantidade de nutrientes
associados a doenças do que símbolos não familiares, como a lupa.
Além disso, no modelo dos triângulos podem ser inseridos diversos alertas, um para cada ingrediente em excesso, ao passo
que, no da lupa, é inserido apenas um. Isso dificulta a compreensão, sobretudo, para crianças e adultos não alfabetizados,
grupos especialmente suscetíveis a escolhas alimentares não saudáveis.
Cabe ainda reforçar que, nesse debate, o único ponto de vista válido é o do consumidor. Portanto, ter acesso a informações
claras e precisas é um direito, principalmente quando está em jogo a saúde e o bem-estar das pessoas.
Cada indivíduo deve ser
livre para escolher o que quer consumir e a que riscos quer expor a saúde. Porém, é inadmissível esconder informações
necessárias e relevantes em uma rotulagem que não será compreensível para o maior número possível de pessoas.
A adoção do modelo de lupas representaria a perda de anos de discussão, pesquisa e luta, e, sobretudo, um incalculável
retrocesso para a saúde pública brasileira. Sem rotulagem adequada, o Brasil não será capaz de reverter as tristes estatísticas
segundo as quais, desde o ano 2000, o país só vê aumentar as mortes por enfermidades crônicas como diabetes, doenças
cardiovasculares e câncer, tanto em adultos quanto em crianças e jovens.
Ana Paula Bartoletto é líder do Programa de Alimentação Saudável do Idec e pesquisadora do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e
Saúde da USP.
Laís Amaral é pesquisadora especialista em alimentos no Idec e doutora em ciências pelo Departamento de Pediatria da Universidade Federal de
São Paulo.
AP Ana Paula Bartoletto – LA Laís Amaral
(Postado em: 25/10/2019/ Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/opiniao/. Atualizado em: 25/10/2019.)
De acordo com o texto, a saúde pública no Brasil: