O livro da solidão Os senhores todos conhecem a pergunta fam...

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Ano: 2011 Banca: CONSULPLAN Órgão: CREA-RJ
Q1229302 Português
O livro da solidão  
Os senhores todos conhecem a pergunta famosa universalmente repetida: “Que livro escolheria para levar consigo, se tivesse de partir para uma ilha deserta...?”   Vêm os que acreditam em exemplos célebres e dizem naturalmente: “Uma história de Napoleão.” Mas uma ilha deserta nem sempre é um exílio... Pode ser um passatempo...   Não sei se muita gente haverá reparado nisso – mas o Dicionário é um dos livros mais poéticos, se não mesmo o mais poético dos livros. O dicionário tem dentro de si o universo completo.   O dicionário é o mais democrático dos livros. Muito recomendável, portanto, na atualidade. Ali, o que governa é a disciplina das letras. Barão vem antes de conde, conde antes de duque, duque antes de rei. Sem falar que antes do rei também está o presidente.   O dicionário responde todas as curiosidades, e tem caminhos para todas as filosofias. Vemos as famílias de palavras, longas, acomodadas na sua semelhança, – e de repente os vizinhos tão diversos! Nem sempre elegantes, nem sempre decentes, – mas obedecendo a lei das letras, cabalística como a dos números...   O dicionário explica a alma dos vocábulos: a sua hereditariedade e as suas mutações.   E as surpresas de palavras que nunca se tinham visto nem ouvido! Raridades, horrores, maravilhas...   E como o bom uso das palavras e o bom uso do pensamento são uma coisa só e a mesma coisa, conhecer o sentido de cada uma é conduzir-se entre claridades, é construir mundos tendo como laboratório o dicionário, onde jazem, catalogados, todos os necessários elementos.   Eu levaria o dicionário para a ilha deserta. O tempo passaria docemente, enquanto eu passeasse por entre nomes conhecidos e desconhecidos, nomes, sementes e pensamentos e sementes das flores de retórica.   Poderia louvar melhor os amigos, e melhor perdoar os inimigos, porque o mecanismo da minha linguagem estaria mais ajustado nas suas molas complicadíssimas. E sobretudo, sabendo que germes pode conter uma palavra, cultivaria o silêncio, privilégio dos deuses, e ventura suprema dos homens.   (São Paulo, Folha da Manhã, 11 de julho de 1948, Cecília Meireles)
Em todas as frases a seguir, transcritas do texto, as formas verbais estão flexionadas no mesmo tempo, EXCETO:
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