Quanto ao tipo, “A moça em prantos” é um texto
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Ano: 2017
Banca:
CETREDE
Órgão:
Prefeitura de Aquiraz - CE
Prova:
CETREDE - 2017 - Prefeitura de Aquiraz - CE - Agente Municipal de Trânsito |
Q2046771
Português
Texto associado
A moça em prantos
O poeta encontrou uma pedra no meio do caminho, nunca
esqueceu dessa pedra, que lhe deu assunto para o seu poema
mais conhecido. Não sendo poeta, encontrei não uma, mas
infinitas pedras no meio do caminho, e não só no meio, mas no
início e no fim de cada caminho. Não me renderam um único
poema, nem mesmo uma modesta crônica.
Mas jamais esqueci a primeira moça que vi chorando. Eu
devia ter seis ou sete anos, achava que só as crianças podiam e
deviam chorar, tinham motivos bastantes para isso, desde as
fraldas molhadas nos primeiros meses de existência até a
inexpugnável barreira dos “não pode”, que emparedam a infância
e criam neuras para o resto da vida.
Um adulto chorando era incompreensível para mim, um
acontecimento pasmoso, uma aberração da natureza, pois os
adultos podiam tudo e tudo lhes é permitido. E a moça era um
adulto, ao menos para mim, embora ela fosse realmente moça, aí
pelos 15 anos ou pouco mais.
E chorava. Não abrindo o berreiro como as crianças, mas
dolorosamente, e na certa misturando motivos.
Mesmo assim fiquei imaginando a causa do seu pranto.
Faltara à escola e por isso ficara sem sobremesa? Fora proibida
de brincar na calçada? Queria ganhar uma bicicleta e fora
convencida a continuar com o insípido velocípede?
Vi muita gente chorando depois, homens feitos, mulheres
maduras. Eu mesmo, quando levo meus trancos, repito o menino
que ia para debaixo da mesa de jantar para poder chorar sem
passar recibo da minha dor. Hoje, ficaria feio esconder-me
debaixo das mesas, mas sei que é um bom lugar para isso.
Melhor do que a cama, onde devemos fazer outras coisas. A
moça que chorava não se escondera, chorava de mansinho, na
verdade nem parecia estar chorando. Devia apenas estar muito
triste porque misturava todos os motivos para a sua tristeza.
Carlos Heitor Cony
Quanto ao tipo, “A moça em prantos” é um texto