Leia a história relatada por Kathryn Woodward, na obra organ...
São quatro horas da manhã. Estou no posto de comando da milícia sérvia local, em uma casa de fazenda abandonada, a 250 metros da linha de frente croata... não na Bósnia, mas nas zonas de guerra da Croácia central. O mundo não está mais olhando, mas toda noite as milícias croatas e servas trocam tiros e, às vezes, pesados ataques de bazuca.
Esta é uma guerra de cidade pequena. Todo mundo conhece todo mundo: eles foram, todos, à escola juntos; antes da guerra, alguns deles trabalhavam na mesma oficina: namoravam as mesmas garotas. Toda noite, eles se comunicam pelo rádio “faixa do cidadão” e trocam insultos – tratando-se por seus respectivos nomes. Depois saem dali para tentar se matar uns aos outros.
Estou falando com soldados sérvios – reservistas cansados, de meia-idade, que preferiam estar em casa, na cama. Estou tentando compreender por que vizinhos começam a se matar uns aos outros. Digo, primeiramente, que não consigo distinguir entre sérvios e croatas. “O que faz vocês pensarem que são diferentes?”
O homem com quem estou falando pega um maço de cigarros do bolso de sua jaqueta caqui. “Vê isto? São cigarros sérvios. Do outro lado, eles fumam cigarros croatas.”
“Mas eles são, ambos, cigarros, certo?”
“Vocês estrangeiros não entendem nada” – ele dá de ombros e começa a limpar a metralhadora Zastovo.
Mas a pergunta que eu fiz incomoda-o, de forma que, alguns minutos mais tarde, ele joga a arma no banco ao lado e diz: “Olha, a coisa é assim. Aqueles croatas pensam que são melhores que nós. Eles pensam que são europeus finos e tudo o mais. Vou lhe dizer uma coisa. Somos todos lixo dos Bálcãs” (IGNATIEFF, 1994: 1-2) (WOODWARD, 2020, p.07).
Woodward utiliza essa história para ilustrar
Gabarito comentado
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A alternativa correta é: C - que a identidade é relacional.
Para entender melhor o tema da questão, vamos analisar a narrativa apresentada por Kathryn Woodward. A história se passa durante a guerra no território da antiga Iugoslávia, onde o autor descreve uma situação em que sérvios e croatas, que antes da guerra eram vizinhos e colegas, tornaram-se inimigos mortais. A autora destaca como essas identidades são construídas em oposição uma à outra, mesmo que, do ponto de vista de um observador externo, as diferenças sejam mínimas ou até inexistentes. É esse contraste entre as percepções internas e externas que nos leva à compreensão de que a identidade é relacional.
Justificativa da alternativa correta (C):
A identidade é relacional porque ela se define em relação ao "outro". Na narrativa, o soldado sérvio explica que, apesar de as duas partes serem muito semelhantes (ambos fumam cigarros, embora de marcas diferentes), eles se veem como fundamentalmente diferentes. Esse processo de definir-se pela diferença em relação ao outro é o que caracteriza a identidade relacional. A identidade dos sérvios é construída em oposição à dos croatas e vice-versa.
Análise das alternativas incorretas:
A - que existem identidades dominantes e dominadas: Essa alternativa não é correta porque a narrativa não aborda diretamente a questão de hegemonia ou dominação de uma identidade sobre outra. O texto foca mais na construção mútua e relacional das identidades, não em uma relação de poder ou dominância.
B - que há preconceito implícito na identidade: Embora o preconceito possa ser uma consequência da construção das identidades, a questão central da narrativa não é o preconceito em si, mas como as identidades são formadas e mantidas por meio da relação com o "outro".
D - que a identidade é múltipla e fluida: Essa alternativa está incorreta porque, embora as identidades possam ser múltiplas e fluidas, a narrativa específica de Woodward está mais focada na construção relacional das identidades, ou seja, como uma identidade se define em oposição à outra, em um contexto de conflito.
Em resumo, a história ilustra de forma clara o conceito de identidade relacional, mostrando que as identidades são construídas e entendidas muitas vezes em oposição a outra identidade, sendo essa relação que dá sentido e significado às distinções feitas entre os grupos, mesmo que para um observador externo essas diferenças não sejam evidentes.
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