No fragmento do texto “Aptº 901”, de Marina Colasanti, o pro...
Texto para responder à questão.
Só. Durante muito tempo só. Demasiado só nos anos. Mas chegando ao apartamento com um saco nas costas no dia 13 de maio, descobriu que aquele não era um dia, era uma data, data do fim da sua solidão. Do saco tirou a argila. Molhou panos, arranjou ferramentas. Começou a modelar. Não era bom escultor. As feições mal-acabadas, os membros grosseiros, o todo desproporcional configurava, porém, a mulher. Foi difícil arrancar a costela. A dor o manteve ao leito durante dias, dobrado sobre si mesmo, postura que nunca mais abandonaria, mesmo ereto, compensando o vazio. A costela no chão seca para o novo lugar. E levantando-se foi momento de fincá-la, com quanto amor, no barro. E soprar.
(COLASANTI, Marina. A morada do ser. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1978. Fragmento.)